Com os juros baixos e a inflação em queda, a dúvida do investidor é como fazer a opção correta no ativo exato que lhe dê o melhor retorno. Tradicionalmente acostumado a viver de renda, deixando o dinheiro “dormir” para dar bons frutos, o brasileiro terá que se adaptar aos novos tempos. Cesar Bergo, sócio-consultor da Corretora OpneInvest, ensina que, antes mesmo de dar o primeiro passo, é fundamental o cidadão identificar qual é o seu perfil: conservador, moderado, ou agressivo. Isso será o primeiro passo para saber qual o tipo de carteira é adequada. “Atualmente, a caderneta de poupança rende quase nada. No futuro, ela vai servir apenas como um meio de transferência entre contas. Existem vários outros ativos muito mais interessantes. Mas é preciso ficar atento para não cair em armadilhas.”
O educador financeiro Leandro Bernincá, responsável pela Área de Educação Financeira da Messem Investimentos, opina que, matematicamente, ter uma casa ou um carro já não é tão importante. “Comprar casa é sentar em cima do dinheiro. Será que vale a pena ter um compromisso de 30 anos? No futuro, o brasileiro vai precisar incorporar à sua vida o hábito de gostar de ver o seu dinheiro render. De investir em valor. Não importa se é pobre, rico, jovem ou idoso”, explica.
É preciso partir do entendimento de que o “dinheiro não é importante, mas coisas importantes na vida real, como o futuro, filhos, aposentadorias”, diz Bernincá. A poupança hoje rende cerca 3,25%, enquanto a taxa básica de juros (Selic) está em 4,5%. Os títulos do Tesouro, se não forem atrelados à Selic, igualmente precisam ser estudados. Os Certificados de Depósito Bancários (CDI) “também são um truque, rendem cerca de um a dois pontos percentuais acima dos juros oficiais”. E quem compra imóvel para investir, talvez tenha, segundo Bernincá, um ganho mensal de 0,5% com o valor do aluguel. 'Por isso é importante investir em valor e não em renda. Até porque os resultados dos investimentos passados não garantem o futuro”, diz.
Sem complicações
Investir em renda, destaca o especialista, não é complicado. Basta analisar os setores que vão crescer. “Se há desenvolvimento, as pessoas, por exemplo, vão comprar mais. Setores como varejo vão crescer. Se a indústria da construção civil aumentar os empreendimentos, é em uma empresa desse ramo que estará o retorno mais robusto. Não precisa ter pressa em montar sua carteira. O importante é diversificar e encontrar o seu nicho”, afirma Bernincá. E é importante que comece cedo a aprender o melhor caminho. Ele fez um cálculo no qual uma pessoa fez um investimento inicial de R$ 500, com aportes mensais do mesmo valor. Com taxa mensal de 0,80% ou anual de 10%, em 30 anos, investiu R$ 180,5 mil, recebeu juros de R$ 866 mil, e conseguiu acumular um total de R$ 1,046 bilhão.
“É importante entender que não existe 'um' investimento que dá esse rendimento, e sim uma boa carteira, diversificada, com paciência”, reitera Bernincá. Para muitos especialistas, a poupança passou a causar prejuízo ao investidor. “O brasileiro a partir de agora é obrigado a sair da caderneta se não quiser ficar mais pobre”, explica Fabrizio Gueratto, financista do Canal 1Bilhão Educação Financeira. “Quando a Selic está abaixo de 8,5% a poupança sempre vai render 70% desse valor mais a Taxa Referencial, que hoje é zero. Dessa forma, agora o seu rendimento anual é de 3,15%. Se você for comparar com a inflação acumulada dos últimos doze meses, de 3,27%, o seu dinheiro vai render menos do que os preços aumentam. É o fim da poupança. O brasileiro precisa se mexer para buscar novos investimentos”, comenta."Se há desenvolvimento, as pessoas, por exemplo, vão comprar mais. Setores como varejo vão crescer. Se a indústria da construção civil aumentar os empreendimentos, é em uma empresa desse ramo que estará o retorno mais robusto"
Leandro Bernincá, responsável pela Área de Educação Financeira da Messem Investimentos
Gueratto explicou ainda como a inflação pode corroer os ganhos. “Vamos supor que você tenha R$ 2 mil guardados na poupança por um ano e agora quer comprar um celular de mesmo valor. No cenário atual, você não conseguiria esse celular, pois os seus R$ 2 mil, valeriam R$ 2.057,83 em um ano, mas o preço do celular passaria para R$ 2.072,00, se levarmos em consideração a inflação atual. Não é uma questão de ganhar mais, mas de deixar de perder dinheiro”, afirma.
Dificuldade para migrar
De acordo com a professora de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), Myrian Lund, investir na poupança foi uma boa escolha há 10 anos, quando a rentabilidade valia à pena para o investidor conservador. “Investir significa ganho real. Quando a taxa de juros real era de 20% ao ano, a poupança era um bom caminho”, explicou Myrian. “Hoje a poupança não é investimento para ganhar dinheiro, é para guardar. Mas, até para isso deve ganhar, pelo menos, da inflação”, disse professora.
Para Myrian, o momento atual de disrupção das tecnologias é o ideal para que as pessoas saiam da zona de conforto e partam para bancos digitais, que oferecem, entre outras possibilidades, tarifas zero e investimentos a partir de R$ 30. “O pequeno investidor é o que fica mais desprotegido e o que mais tem dificuldade com as mudanças”, explica a professora."Não se iluda com promessas mirabolantes. E também não coloque seu dinheiro onde não conhece. Esses atos são a porta para o desastre"
Myrian Lund, professora de MBAs da Fundação Getulio Vargas
Não se pode, porém, investir no escuro. É preciso estudo e ciência dos riscos. “Não se iluda com promessas mirabolantes. E também não coloque seu dinheiro onde não conhece. Esses atos são a porta para o desastre”, assinalou. As melhores opções para iniciantes são investimentos de renda fixa, sobretudo o Tesouro Direto, que proporciona características semelhantes à poupança, mas melhores.
Precursou de investimentos
Na visão do estrategista chefe da RB Investimentos, Daniel Linger, a poupança é um precursor de investimentos, com o ponto positivo de não ser afetado pelo imposto de renda. Porém, o benefício da ausência de IR e da liquidez diária não se sustenta, pela baixa rentabilidade, provoca. “Comparado a outras aplicações conservadoras, o CDB ou LCI são muito melhores. Hoje, a poupança rende por volta de 0,25% na data de aniversário. Enquanto, o CDB pode remunerar 100% do CDI, sendo 0,31% por mês. É uma troca interessante e que não apresenta muitos riscos.”
Para Allan Furtado, assessor de investimentos, é comum encontrar pessoas em busca de atendimento após se desiludirem com o rendimento mínimo da poupança. “A porta de entrada natural são o Tesouro Direto e títulos da dívida pública”, explica. “Depois de familiarizado, ele pode melhorar e ir para outros investimentos. Os primeiros são mais conservadores para o investidor ir se aprofundando no meio, tudo é um processo.” Segundo ele, o próximo passo é partir para corretoras, devido as alternativas de investimentos. “A plataforma funciona como uma distribuidora de ativos financeiros, coloca à disposição diversos pontos. O investidor consegue selecionar o ativo de acordo com o objetivo, com o prazo, emissores, bancos grandes, pequenos, médios”, enumera. (Com Catarina Loiola)