Por enquanto, aumento do preço dos combustíveis, após o acirramento do Ir conflito entre Estados Unidos e Irã, é fruto de especulação. Amanhã é que os reais desdobramentos no mercado brasileiro do confronto entre os dois países, – que levou ao assassinato do general iraniano Qasem Solimali e à elevação das cotações do petróleo –, vão ser conhecidos e os consumidores saberão se a escalada nos postos de gasolina vai ou não se concretizar. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) se reunirá com o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, ministros e técnicos da área econômica para discutir a alta do barril de petróleo e do dólar. Em Belo Horizonte, o confronto internacional é assunto nos postos, mas ainda não foi possível sentir o efeito nas bombas.
Os preços dispararam depois da morte do general iraniano Qassem Soleimani, na sexta-feira, em ataque ordenado pelo presidente norte-americano Donald Trump. O dólar subiu 0,74% na sexta-feira e o preço do barril de petróleo do tipo Brent avançou 3,64%. Com a expectativa de alta do preço dos combustíveis, há posto que teve maior procura ontem em Belo Horizonte.
“O movimento pela manhã quase dobrou por causa do boato. Mas está só no comentário mesmo”, conta o supervisor do Posto Parada Obrigatória, no Bairro Pompeia, Região Leste, Daniel Silva. A gasolina está custando R$ 4,597 no estabelecimento, preço que se mantém há cerca de um mês, de acordo com o supervisor.
No Posto Grajaú, na Avenida Nossa Senhora do Carmo, na altura do Bairro São Pedro, a gasolina está quase batendo os R$ 5, sendo vendida a R$ 4,949. O valor, segundo o gerente, Wadson Saab, é o mesmo desde o mês passado e está mais caro em relação a outros estabelecimentos por causa da localização, na Região Centro-Sul da capital mineira.
A torcida no posto é para que aumentos não cheguem às bombas. “Ainda não temos um termômetro e mudamos de acordo com o aumento da Petrobras, mas o Bolsonaro já disse sobre compensar esse aumento com a redução de imposto”, afirmou o gerente, Wadson Saab.
Ele se refere à declaração do presidente de que uma possível alta no petróleo poderia ser compensada no mercado interno com reduções na alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Como se trata de um imposto estadual, Bolsonaro sugeriu a governadores a diminuírem as alíquotas de ICMS, caso a escalada no preço da gasolina se confirme.
"Vamos supor que aumente 20% o preço do petróleo, vai aumentar em 20% o preço do ICMS. Não dá para uns governadores cederem um pouco nisso também? Porque todo mundo perde. Quando você mexe em combustível, toda a nossa economia é afetada", disse.
Bolsonaro discutiu a questão com o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e com o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, mas ainda não deu detalhes. "Tivemos nossa conversa e temos uma estratégia de como proceder o desenrolar dos fatos. A coisa que mais preocupa é uma possível alta do petróleo, de 5% no momento”, disse o chefe do Executivo, que espera queda dos preços em poucos dias, como no caso do ataque de drones na Arábia Saudita, em setembro.
SEM MUDANÇA Situado também na Avenida Nossa Senhora do Carmo, o preço da gasolina no Posto Ponte Nova era, ontem, de R$ 4,858 e o gerente Washigton Viana garante que nada mudou desde a morte do general iraniano em ataque ordenado por Trump, na sexta-feira. Também não houve corrida à gasolina, como na época da greve dos caminhoneiros, segundo o gerente.
“O movimento está normal, até mais fraco por causa das férias. A gente compra gasolina todo dia e só sabe se vai aumentar quando chega a nota”, diz. Mas, o boato que tem circulado nos grupos de WhatsApp dos frentistas, deixando-os preocupados, é outro e não tem relação com combustível. “Eles estão com medo de serem convocados para combater em uma guerra”, afirma Viana, rindo da apreensão dos colegas.
Mesmo dizendo que o país não iria se posicionar, numa entrevista ao programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes, Bolsonaro criticou o líder iraniano. “A nossa posição é de nos aliarmos a qualquer país no mundo no combate ao terrorismo. Nós sabemos, em grande parte, o que o Irã representa para os seus vizinhos e para o mundo”, disse.
A especulação também corre solta no Posto Leste, na Avenida dos Andradas, no Bairro Santa Efigênia, na Região Leste. “A culpa é do Irã ou do Iraque? É do Trump ou do Bolsonaro?”, brincava um dos frentistas, quando foi abordado pela reportagem. Os funcionários disseram que houve aumento de R$ 0,05 no preço da gasolina de sexta-feira para sábado, mas não souberam informar exatamente o motivo da alta para R$ 4,626. As variações são consideradas habituais.
Saída é economizar para bancar a conta
Diante da instabilidade que paira sobre o mercado de combustíveis, há consumidores que já estão traçando estratégias para economizar. A autônoma Sandra Regina Gonçalves, de 50 anos, vai receber o pagamento de um “bico” feito no fim de semana amanhã e pretende usá-lo para encher o tanque.“Qualquer economia já ajuda. Pelo que está pegando entre Estados Unidos e Irã, vai ter aumento”, aposta.
O motorista de aplicativo de transporte Caio Borges, de 27, avalia que o consumidor não terá como fugir de aumento, “se tiver guerra ou não”. “A Petrobras aumenta sem dó”, diz. Com a experiência de quem abastece o carro diariamente, ele conta que no último ano, de janeiro a dezembro, houve aumento de R$ 0,50 por litro de combustível.
Também motorista de aplicativo, Oswaldo Machado, de 27, tem a mesma opinião. “Está subindo de qualquer jeito”, ressalta. “O Brasil é suficiente de petróleo, penso que o preço deveria ser mais baixo”, critica o jovem, que aproveitou a tarde de sábado para abastecer num posto em que o combustível, ao contrário das expectativas gerada pela alta do barril, diminuiu o preço.
No Posto Olimar, na Avenida Tereza Cristina, no Bairro Padre Eustáquio, Região Noroeste de BH, a gasolina abaixou R$ 0,02, passando de R$ 4,599 para R$ 4,577. Os funcionários explicaram que isso tem relação com a concorrência na via, que reúne diversos postos. O Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro),que representa 4 mil postos em Minas, informa que os postos são apenas um dos atores da cadeia produtiva do petróleo e critica a alta tributação sobre os combustíveis.
A Petrobras ressalta que, de acordo com suas práticas de precificação vigentes, não há periodicidade pré-definida para a aplicação de reajustes. "A empresa seguirá acompanhando o mercado e decidirá oportunamente sobre os próximos ajustes nos preços".