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Estado de Minas ENTREVISTA DHAVAL CHADHA, PRESIDENTE DO CLASSPASS NA AMéRICA LATINA

Presidente do ClassPass afirma ser a hora de investir no Brasil

Para Dhaval Chadha, presidente da plataforma de atividades físicas, o modelo de negócio com variedade de serviços e descontos dará vantagem na disputa com concorrentes como a Gympass


postado em 13/01/2020 04:00 / atualizado em 13/01/2020 09:05

(foto: ClassPass/Divulgação)
(foto: ClassPass/Divulgação)

A ClassPass de forma geral é uma empresa que não vai se satisfazer em ficar fazendo o que já fazemos para o nosso público-alvo. Vamos querer avançar em outros segmentos e com outras propostas de valor também"

São Paulo
– O indiano Dhaval Chadha, 33 anos, pode ser considerado um típico empreendedor dos tempos modernos. Estudou Ciências Sociais em Harvard, criou duas empresas no Brasil e partiu para o Vale do Silício. Nos Estados Unidos, foi contratado pela ClassPass – maior rede global de planos de academias – para comandar a expansão da startup na América Latina.  Durante os sete anos no Brasil, abriu a Cria, uma consultoria estratégica de novos negócios, e a aceleradora Pipa.

Ambas estimulam apenas negócios que fazem o bem para o planeta. Ainda no país, é sócio-colaborador da Vox Vision, um fundo para investimento de impacto da Vox Capital. Ao deixar o país com destino a Califórnia, Dhaval criou a Sphere, uma plataforma para desenvolvimento pessoal que integra ciência, filosofia e autoconhecimento.

Na semana passada, a ClassPass, plataforma de atividades físicas, levantou US$ 285 milhões e se tornou uma unicórnio (startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão). A captação ocorreu na Série E, rodada liderada por LCatterton e Apax Digital, com a participação adicional do investidor Temasek. O investimento no Brasil, segundo Chadha, será gigante levando em conta que o foco da empresa no momento é a expansão na América Latina e o Brasil, como segundo maior mercado de fitness do mundo, é a porta de entrada da empresa na região.

O que motivou a ClassPass a investir no Brasil?
O Brasil é o segundo maior mercado em número de academias no mundo inteiro, então era mais uma questão de tempo de organizar a equipe certa e o timing para entrar no país. A hora certa de investir no Brasil é agora. Nossa vinda sempre foi uma coisa certa e agora chegou a hora.

O que muda para a empresa depois do aporte de US$ 285 milhões?
O dinheiro nos ajuda a continuar executando nossa missão de tornar as pessoas mais ativas e nos dá fôlego para expandir internacionalmente e para mercados que chamamos de adjacentes, que são bem-estar, beleza e corporativo.

Qual é a estratégia de investimentos e de expansão?
Estamos investindo e expandindo em muitas regiões. Os mercados mais prioritários daqui para frente são Europa, América Latina, Índia, China, Japão e Coreia do Sul. Os Estados Unidos já são um país bastante relevante e, por lá, nós continuaremos expandindo em áreas como bem-estar, beleza e corporativo. No Sudeste da Ásia e também no Oriente Médio nós já temos um negócio bem positivo e crescente. Nesses mercados é mais uma questão de entrada de outros produtos. Na Europa estamos bem consolidados na Inglaterra, Holanda e em países nórdicos. Também estamos crescendo rápido na Espanha, Portugal, França, Alemanha, entre outros. De forma geral, o que precisamos fazer em qualquer país é entrar de forma assertiva e contundente em fitness, expandindo na sequência para bem-estar e beleza e, daí, para o corporativo também.

Qual o potencial do mercado fitness no Brasil?
Estamos com uma perspectiva muito positiva sobre o potencial do Brasil. Apesar de ser o segundo maior mercado em termos de número de academias, em termos de penetração de usuários o país está muito abaixo se comparado com os Estados Unidos. Isso mostra o potencial de crescimento, especialmente com propostas de agregadores que criam possibilidades da pessoa de descobrir mais atividades e usufruir de uma série de modalidades em uma única assinatura. Acredito que isso, inclusive, ajudará o setor a crescer. Hoje, 70% das pessoas que usam o ClassPass nunca tinham ido a uma aula de fitness antes. Nós já temos dados claros que comprovam que estamos ajudando o segmento a crescer. Então, o Brasil é um país onde estamos apostando muito e nossa perspectiva é que, até o fim do ano que vem, o país já esteja no top 3 ou 4 no nível mundial para ClassPass.

O que diferencia a ClassPass da concorrente Gympass?
Talvez a diferença mais importante seja que somos uma empresa B2C principalmente, e que estamos crescendo rapidamente no B2B também. O segundo ponto é que também oferecemos outras modalidades, além do fitness, que vão desde acupuntura, massagem até manicure, pedicure, drenagem linfática, entre outras. Temos uma série de atividades que encontramos em salão de beleza, estética, spas e centros de bem-estar que também oferecemos na plataforma da ClassPass.

Além de São Paulo e Rio de Janeiro, quais cidades estão no radar da empresa?
Temos uma lista de prioridades no Brasil e estamos sempre estudando se faz mais sentido investir nessas duas cidades para estabelecer uma posição consolidada ou expandir regionalmente. É sempre um balanço. Temos várias outras cidades na nossa lista e não tem muito mistério. A lista vai muito em função de tamanho e do tipo de público que procuramos. Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Porto Alegre, cidades ao redor de São Paulo, como Campinas e Osasco e, eventualmente, as grandes capitais do Norte e Nordeste estão no radar.

O fato de ter se tornado uma unicórnio muda o ritmo de expansão?
Acredito que muda. Temos um pouco mais de fôlego antes de qualquer tipo de captação futura para executarmos a nossa missão. A ClassPass, apesar de ser uma empresa consolidada, tem uma penetração muito baixa frente ao tamanho de mercado que existe. Se olharmos para outros setores, como delivery de comida ou compra de passagem aérea, ou o próprio Uber, estes agregadores têm um percentual do mercado muito maior do que temos hoje no fitness. O Uber, por exemplo, tem acima de 95% do mercado de táxi. As agregadoras de entrega de comida têm de 90% a 95%. Os de passagem aéreas têm de 40% a 50% em termos de volume de reservas que passam pelas mãos delas. E, em fitness, o setor inteiro de agregadores não chega a 5% do mercado mundial. Temos muito potencial para crescer.

Será preciso fazer uma nova captação de recursos no curto prazo?
Imagino que não, estamos bem capitalizados e acredito que nós não precisamos de uma outra captação no curto prazo.

Há planos de segmentação dos serviços da ClassPass, voltados, por exemplo, ao público da terceira idade ou mulheres?
Em termos de segmentação para outros públicos, no curto prazo, não. Não pensamos em desenvolver outro produto focado em algum público específico. Agora, dentro do que nós já oferecemos, podemos atender necessidades de pessoas, por exemplo, que precisam de pilates restaurativo. Então, o foco será conquistar primeiramente o mercado de fitness, wellness, beleza e corporativo. A ClassPass de forma geral é uma empresa que não vai se satisfazer em ficar fazendo o que já fazemos para o nosso público-alvo. Vamos querer avançar em outros segmentos e com outras propostas de valor também.

Qual sua expectativa para a economia brasileira a partir deste ano?
Talvez eu seja uma pessoa fora da curva no grau de otimismo que tenho em relação ao Brasil, mas também em relação a outros países. Estou sempre torcendo para o melhor. Temos uma certa sorte em nosso modelo, de desconto e de variedade. Mesmo em momentos em que a economia sofre, não sofremos tanto impacto. Já vivemos isso em alguns momentos e países diferentes, onde a redução de crescimento do PIB, por exemplo, não teve um impacto direto ou linear no nosso negócio. Porque, às vezes, nesse tipo de cenário, as pessoas começam a procurar descontos. Não temos tanta dependência de uma economia que está sempre no melhor momento. Mas, obviamente, é uma coisa que ajuda o país e a nós também. Torcemos para o Brasil estar na melhor posição possível. Eu particularmente quero muito isso.


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