O presidente Jair Bolsonaro usou o Twitter, na sexta-feira, para criticar a decisão do Podemos de ingressar no Supremo Tribunal Federal (STF) com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) contra a tarifa de 0,25% que os bancos poderão cobrar dos clientes para manterem o cheque especial, segundo decisão anunciada pelo Banco Central em novembro passado. A cobrança foi permitida em troca da limitação dos juros dessa modalidade de crédito a 8% ao mês.
Bolsonaro destacou que a tarifa não atinge a faixa de clientes que têm limite de até R$ 500 no cheque especial. “Hoje, grande parte dos 20 milhões de clientes estão endividados. Estamos falando de pessoas que não podem saldar suas dívidas e pagam juros médios de 14% ao mês, e que seriam isentas da tarifa de acordo com a medida que foi tomada pelo BC”, sustentou.
O cancelamento da medida via judicial, insiste Bolsonaro, implicaria fazer os juros do cheque especial voltarem de 8% para 14% ao mês, “prejudicando os mais pobres e mais endividados”. “A quem interessa a ação do Podemos? Aos pobres ou aos banqueiros?”, criticou.
A decisão do BC, anunciada em novembro, está em vigor desde 6 de janeiro. A autoridade monetária estabeleceu que eles poderão cobrar uma tarifa de 0,25% sobre o limite do cheque especial para manter os recursos disponíveis aos clientes, mesmo que eles não utilizem o crédito. Os correntistas com limite até R$ 500 – os 20 milhões mencionados por Bolsonaro – não serão tarifados. Contudo, as instituições financeiras estão autorizadas a exigir a tarifa daqueles que têm limite de crédito acima da faixa de isenção.
A cobrança passou a ser permitida automaticamente para contratos firmados desde 6 de janeiro. Para os correntistas que já têm o cheque especial, a tarifa só poderá ser debitada após 1º de junho. Em resposta ao presidente, também pelo Twitter, o Podemos afirmou que a iniciativa é abusiva. “Cobrar até de quem não usa é meter a mão no bolso do brasileiro. Essa conversa de tarifa para reduzir juros é estelionato retórico. Os juros de 8% mensais foram utilizados para não dizer que os bancos vão continuar a cobrar astronômicos 151% ao ano, em juros compostos, diante de uma Selic de 4,5% ao ano”, informou.
O Podemos vai ingressar com a ADI na terça-feira. O partido considera que a taxação afronta os artigos 5º e 170º da Constituição, que versam, respectivamente, sobre os direitos fundamentais e os princípios da ordem econômica. A legenda pondera, ainda, que a cobrança, mesmo para quem não usa o crédito, viola o artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor.
CONFLITO NO CONGRESSO
A crítica feita pelo presidente Jair Bolsonaro ao Podemos antecipa a abertura de um conflito no Congresso com uma das legendas que mais apoiou as propostas apresentadas pelo governo. O líder do partido na Câmara, José Nelto (GO), disse que a sigla continuará apoiando todas as pautas “moralizadoras” e econômicas que venham a ajudar o país e, sobretudo, os mais pobres. Mas avisa que atuará para convocar o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para dar explicações ao Parlamento.
Na linguagem legislativa, a convocação de um ministro ou presidente de autarquia é vista como uma medida de enquadramento do governo.
CORAGEM
A articulação será montada pelo Podemos na Câmara e no Senado – onde a legenda tem a segunda maior bancada – com outros partidos. “Se o governo quer baixar os juros no Brasil de verdade, nós temos que fazer pela medida correta, que é a abertura do sistema financeiro. Temos 35 anos de redemocratização e nenhum ministro da Economia teve a coragem de fazer isso”, ponderou Nelto.
“O presidente foi infeliz ao atacar um partido que apoiou 90% de seus projetos sem participar do ‘toma lá da cá’. Cobrar 0,25% sobre o cliente que já usa o cheque especial é uma bitributação. Isso aí não é uma rachadinha, é uma ajudinha para os banqueiros”, provocou, em referência às suspeitas sob o senador Flávio Bolsonaro (Sem partido-RJ).