São Paulo - O Grupo CAOA desistiu de negociar a compra da unidade da Ford no ABC Paulista. Depois de quase 11 meses de conversas, foi confirmado nessa segunda-feira (13) pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que a empresa de Carlos Alberto de Oliveira Andrade abriu mão do negócio.
Doria, no entanto, anunciou que o Grupo CAOA, controlado pelo empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, fará o que ele classificou como um investimento “forte” por meio de uma parceria com um fabricante chinês. O governador, no entanto, não revelou o valor do aporte, onde será instalada a unidade fabril e com quem será feito o acordo comercial. Ainda segundo o tucano, o anúncio deve acontecer ainda em 2020.
O anúncio sobre o fechamento da fábrica da Ford, que passa por uma reestruturação global para melhorar seus resultados financeiros, foi feito em 19 de fevereiro do ano passado. Além dos caminhões, a operação de São Bernardo também era responsável pela produção do Fiesta, que saiu de linha.
A declaração de Doria foi feita logo depois dele confirmar o fim das negociações entre CAOA e Ford. O negócio não avançou, segundo ele, porque o parceiro chinês da CAOA exigia um “espaço físico maior” para a produção de veículos.
MUITO OU POUCO ESPAÇO?
A versão do governador é diferente do que os executivos do setor vinham comentando. O problema estaria na falta de acesso a uma linha de crédito para que Oliveira Andrade batesse o martelo e arrematasse a fábrica da Ford. Diferentemente do que afirmou Doria, em setembro, o empresário declarou que não tinha planos para todo o terreno de São Bernardo, bastava metade da área para atender a seus planos.
Apesar de CAOA e Ford não terem chegado a um acordo, Doria ainda tem esperança de que surja um comprador para a fábrica. O governador garantiu que outros dois possíveis compradores analisam a unidade de produção. "Nós não desistimos do tema da Ford ainda. Há um entendimento novo com dois fabricantes chineses, entendimentos que estão em curso. Não temos propagado até para que eles possam seguir com tranquilidade, sem a pressão do tempo”, disse aos jornalistas.
AINDA HÁ INTERESSADOS
A Ford confirmou que as negociações com a CAOA não avançaram. A montadora, no entanto, informou por meio de nota que "há potenciais compradores interessados e engajados em conversações com a Ford". A empresa declarou ainda que "continua fazendo todos os esforços cabíveis para alcançar um resultado positivo."
Procurada pela reportagem, a CAOA informou não dispor de um executivo para comentar oficialmente as declarações sobre uma possível nova fábrica, mas a empresa "confirma que o as negociações devam seguir o encaminhamento informado pelo governador Doria".
AJUDA DE TODOS OS LADOS
Além dos esforços do governador paulista em encontrar um comprador para a fábrica da Ford – o que cairia muito bem para suas pretensões políticas –, houve um esforço grande por parte do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que tentou encontrar formas de financiar a aquisição, na tentativa de manter ao menos parte dos postos de trabalho.
Em outubro, um grupo de sindicalistas se encontrou com representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com o objetivo de pedir a liberação de empréstimos para o Grupo CAOA poder financiar a fábrica. O banco oficial informou que não tinha uma linha específica para esse tipo de negócio e negou que Oliveira Andrade tivesse recorrido à instituição em busca de recursos.
Apesar de a informação confirmada ontem por Doria ter causado surpresa entre alguns, quem acompanha o setor automotivo de perto não acreditava mais que pudesse haver algum avanço nas conversas.
Os otimistas, no entanto, diziam desde o final de fevereiro de 2019, logo depois de a montadora americana anunciar que fecharia a unidade de São Bernardo do Campo, que o negócio entre as duas empresas era apenas uma questão de dias, mas se passaram semanas e meses desde as primeiras especulações. Houve até quem garantisse que o presidente da unidade seria Antonio Maciel Neto, ex-presidente da Ford e atualmente consultor.
MESES DE ESPERA
O compromisso da Ford ao anunciar o fim da operação da fábrica do ABC Paulista era manter os funcionários da unidade ligados à empresa até final do ano. O último caminhão saiu da linha de produção de São Bernardo no final de outubro.
Na época do comunicado sobre o fechamento da fábrica, o presidente da Ford América do Sul, Lyle Watters, declarou por meio de nota que a empresa estava comprometida com a região "por meio da construção de um negócio rentável e sustentável, fortalecendo a oferta de produtos, criando experiências positivas para nossos consumidores e atuando com um modelo de negócios mais ágil, compacto e eficiente".
DILIGÊNCIAS SEM FRUTO
Oficialmente, a CAOA iniciou as diligências – um processo pré-aquisição em que o potencial comprar mergulha nos números e na operação – em setembro. Naquela ocasião, muitos acreditavam que o negócio estava praticamente sacramentado. Doria chegou a convocar um encontro com a imprensa para anunciar o acordo entre as empresas, o que não ocorreu.
O tempo passou e as informações sobre as tratativas eram cada vez mais escassas. Em dezembro, no entanto, veio uma pista de que dali não sairia um contrato. Oliveira Andrade confirmou que seria “remota” a chance de comprar a fábrica da Ford. Na ocasião, o empresário declarou que estaria conversando com três grupos chineses. Ao menos um deles – os nomes não foram revelados – teria confirmado o interesse em produzir carros no Brasil. Essa parceria não passaria necessariamente pela fábrica da montadora americana.
Hoje, o Grupo CAOA já conta com 50% de participação na operação da montadora Chery, também chinesa, no Brasil. A fábrica fica em Jacareí, no interior paulista. Além disso, a companhia tem a licença para produzir alguns modelos da coreana Hyundai, em Anápolis (GO). Também fazem parte dos negócios de Oliveira Andrade uma série de revendedoras de diferentes marcas de veículos.
Nos Estados Unidos, a mobilidade poderá estar nas mãos dos apps
As montadoras têm feito uma série de esforços para cravar avanços tecnológicos em seus modelos que atendam a uma série de novas exigências. A tecnologia tem um papel cada vez mais importante, como se viu na edição desse ano da CES, em Las Vegas, uma das maiores feiras do gênero no mundo.
No evento, a Hyundai anunciou um acordo com o Uber para o desenvolvimento de um carro voador. Trata-se de um veículo com capacidade para levar até quatro passageiros e um piloto, com autonomia de até 100 quilômetros.
A própria Ford, que abandonou os negócios de caminhões na América do Sul no ano passado – daí o fechamento da unidade de São Bernardo, aproveitou a CES para apresentar seu projeto do veículo-com-tudo pelo celular, chamada de C-V2X. Os novos modelos vendidos a partir de 2022 nos EUA contarão com uma tecnologia de comunicação que possibilita aos veículos “ouvir” e “conversar” entre si, com os pedestres e com a infraestrutura de trânsito, gerando uma série de dados nessa troca de informações.
Além dos carros autônomos, que já são uma realidade, dos modelos inteligentes e conectados e, no futuro, dos veículos voadores, essa indústria tem de lidar ainda com outro desafio, o da mudança de hábito quando o assunto é mobilidade.
Pesquisa divulgada pela Accenture, feita com cerca de 1 mil americanos, aponta que 63% dos proprietários de automóveis que utilizam aplicativos de transporte afirmaram que considerariam desistir de seu veículo particular ao longo da próxima década.
APROVADO
Essa decisão é motivada, por exemplo, pela satisfação do consumidor com esses apps. Para 92%, a satisfação é muito forte. Ao todo, 93% dos entrevistados esperam manter ou até aumentar os gastos com esses serviços em 2020. Apesar da alta aceitação, ainda há espaço para crescer. Entre os americanos ouvidos, 52% disseram alternar entre o uso aplicativos de transporte, caronas ou corridas compartilhadas.
A praticidade, a confiabilidade nos horários de início e término das corridas, a possibilidade de fazer reservas de carros para a hora do compromisso e a facilidade para o pagamento estão entre as vantagens apontadas. Segundo declaração de Andrea Cardoso, diretora-executiva da Accenture para Indústria Automotiva, agora o desafio para os prestadores de serviço está na fidelização dos clientes, o que deverá acontecer por meio da customização de experiências.