São Paulo – O coronavírus tem causado impactos não só na saúde dos chineses, mas também na economia internacional. Ontem, a Amazon foi mais uma das empresas a cancelar a participação no Mobile World Congress (MWC), que ocorrerá entre os dias 24 e 27, em Barcelona. A culpa é do vírus que já fez algumas centenas de vítimas fatais na China. A decisão foi tomada devido ao surto da doença.
Com a decisão, a Amazon se junta a outras empresas que optaram por não participar ou reduzir seus planos para um dos principais eventos de tecnologia do mundo, como a LG, a NVIDIA e a Ericsson. A preocupação é tão grande que o organizador do MWC, a GSMA, divulgou recentemente uma série de orientações para quem pretende participar do evento.
Os viajantes da província chinesa de Hubei estão proibidos de acessar a feira. Todos que estiveram na China precisarão comprovar que deixaram o país asiático há pelo menos 14 dias por meio da apresentação do carimbo do passaporte e o certificado de saúde. Também será feito o controle da temperatura dos visitantes.
Apesar de o alerta ser global, a China concentra a grande maioria das pessoas afetadas pelo coronavírus. O número de mortes já passou de 900 e os infectados são pelo menos 40.100 até agora. Quando surgiram as notícias a respeito da gravidade da doença, alguns governos locais pediram que as pessoas ficassem longe dos locais de trabalho. A ideia era conter o surto. No entanto, os negócios ainda não foram retomados. Na sexta-feira (7), a agência S&P Global Ratings disse que reduziu sua estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto da China em 2020 de 5,7% para 5%. O setor manufatureiro representa quase 30% do PIB do país.
Milhões de pessoas
Em Wuhan, trabalhadores estão impedidos de ir até as fábricas onde dão expediente. As empresas com escritórios orientaram os funcionários a trabalhar em casa. No comércio, a situação não é muito diferente. Algumas lojas estão abertas em shoppings, mas não há clientes.
A quarentena em Wuhan e na província vizinha de Hubei atinge quase 60 milhões de pessoas. Há quase um mês a produção de várias empresas está paralisada. Até mesmo distritos em cidades a centenas de quilômetros de distância, como Hangzhou, município com 10 milhões de habitantes que é o quartel-general do gigante do varejo on-line Alibaba, confinaram os residentes em casa para tentar impedir a propagação do vírus. A medida, no entanto, não incluiu os funcionários que fazem as entregas, que continuam nas ruas.
No distrito de Guangdong, as autoridades locais exigem que os fabricantes cumpram rigorosos requisitos de segurança para retomar o trabalho. As fábricas só podem abrir as portas se garantirem que os funcionários estejam livres de coronavírus. Para isso, é preciso colocar os empregados em quarentena por 14 dias e fornecer equipamentos de proteção, como máscaras, óculos e luvas. Atender a essas exigências é difícil, já que há uma escassez nacional desses produtos.
Sem prazo
Mesmo com toda essa cautela, não é possível aos empresários chineses garantir a volta ao trabalho. Isso porque fornecedores e compradores ainda podem estar enfrentando problemas com o surto de coronavírus, sem data para retomar os negócios. Alguns donos de fábrica calculam que só vão voltar à atividade completa a partir de maio, o que comprometeria o faturamento de praticamente metade do ano.
Apesar desses problemas, algumas empresas maiores têm confirmado a retomada das operações. É o caso da Ford Motor Co., que ontem voltou a produzir na China. A General Motors informou que retomaria a produção em suas fábricas no dia 15.
Sem otimismo para a retomada dos negócios, as autoridades do país admitem que o surto de coronavírus deve dificultar a quitação de empréstimos. Na semana passada, a Comissão Reguladora de Bancos e Seguros da China informou que reduziria impostos e negociaria com os bancos para que ofereçam o perdão de pagamentos de hipotecas e cartões de crédito.
Paralisia
Apesar das tentativas de controlar o surto de coronavírus, os efeitos da doença no país são sentidos para onde se olha. Oficialmente, teria acabado à meia-noite de domingo a política decretada por Xangai e Pequim de manter a população em casa, longe do local de trabalho. No entanto, muitas empresas continuam incentivando as pessoas a continuar trabalhando em casa.
Em Xangai, o tráfego nas rodovias permanece escasso, apesar de ter apresentado uma recuperação nos últimos dias. O poder público local informou que 70% das indústrias retomaram os negócios. No distrito fabril de Songjiang, em Xangai, onde estão empresas como 3M, Dow, Foxconn e Honda, não há sinais de que a retomada tenha uma adesão tão grande.
Em Pequim, empresas como Didi Chuxing e Xiaomi estão incentivando os funcionários a trabalhar em casa até a próxima semana. Na Baidu, também há a orientação para que os trabalhadores sigam em casa. Quem precisa ir para o escritório tem antes que passar por uma aprovação.
Os metrôs de capital chinesa são outro termômetro dos efeitos do coronavírus. Em vez da costumeira lotação, com pessoas se acotovelando por um espaço, mesmo que em pé, o que se vê são vagões vazios.
Apple ameaçada
Grande fornecedora global de insumos, a China tem provocado estragos em empresas de diversos setores. A Hon Hai Precision Industry, maior parceira da Apple, informou aos funcionários de sua principal fábrica de iPhones que vai adiar a retomada da produção.
A informação foi enviada no domingo por meio do aplicativo interno. A Hon Hai, também conhecida como Foxconn, informou que não tem uma data definida para a volta ao trabalho da unidade de negócios iDPBG. A divisão de negócios é responsável por fabricar os aparelhos para a Apple em uma fábrica em Zhengzhou, conhecida como a cidade do iPhone, e em duas outras unidades em Shenzhen.
A Foxconn informou que as fábricas cumprirão as medidas do governo e retomarão a produção de maneira "ordenada", com o retorno gradual dos trabalhadores. Sobre a mensagem no aplicativo, nenhum comentário foi feito. Os funcionários de sua sede no Sul de Shenzhen foram orientados a não voltar à atividade depois do feriado prolongado do Ano-Novo Lunar, que terminou em 10 de fevereiro.
Apple e Foxconn foram as primeiras empresas a buscar uma forma de quantificar o impacto da epidemia. Na semana passada, a companhia chinesa reduziu as estimativas de faturamento para 2020, antecipando cortes na cadeia de produção da Apple.
Posição do governo
O temor de um tombo maior na economia tem mobilizado o governo chinês. Ontem, o presidente da China, Xi Jinping, disse que vai evitar demissões em massa decorrentes do surto de coronavírus. A declaração foi feita à TV estatal, a CCTV.
O presidente chinês inspecionou os trabalhos comunitários em Pequim para conter o vírus. Na visita a um hospital local, Xi usou uma máscara cirúrgica e teve sua temperatura medida. O político declarou ainda que a segunda maior economia do mundo se esforçará para cumprir suas metas econômicas e sociais em 2020 e colocará em prática ajustes para minimizar o impacto do vírus.
Alibaba vai financiar parceiros comerciais
Para conter os danos causados pelo coronavírus na economia local, o Alibaba informou que a unidade MYBank, pertencente à sua afiliada Ant Financial, vai oferecer 20 bilhões de iuanes (US$ 2,86 bilhões de dólares) em empréstimos a empresas na China. A prioridade será dada aos negócios de Hubei, epicentro do surto.
Do total, 10 bilhões de iuanes serão oferecidos para empresas em Hubei. Serão empréstimos de um ano com taxa de juros zero nos três primeiros meses e um desconto de 20% nas taxas nos nove meses restantes. Negócios de toda a China também podem ter acesso a outros 10 bilhões de iuanes de empréstimos de um ano. As taxas de juros serão reduzidas em 20%, infirmou o Alibaba.
A companhia anunciou ainda a isenção de taxas de plataforma para comerciantes em seu marketplace no primeiro semestre de 2020 e a criação de dois fundos de 1 bilhão de iuanes para apoiar restaurantes, empresas de logística e cadeia de suprimentos.