Os temporais que caem sobre o Sudeste e o Nordeste desde janeiro trouxeram a boa notícia da recuperação do armazenamento de água nas usinas hidrelétricas de grandes bacias hidrográficas do país. O reservatório da Usina Hidrelétrica de Três Marias, localizada na cidade de mesmo nome da Região Central de Minas Gerais, atingiu nível de água acumulada que não se via há oito anos. O volume útil da represa alcançou 88,6%, neste mês, melhor resultado para fevereiro desde 2012, quando estava em 89,2%. Os dados são do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), órgão responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica no Brasil.
O nível atingido da capacidade de armazenamento da represa de Três Marias também é o quarto melhor já registrado durante os meses de fevereiro na série histórica de acompanhamento dos dados hidrológicos dos reservatórios das principais hidrelétricas do país. Somente em 2009, com nível de 93,4%; 2007, 89,7%; e 2012 (89,2%) os números desse que é um dos principais reservatórios da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco foram superiores ao patamar atual.
Com o aumento do volume de água na hidrelétrica, para evitar inundações, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) abriu ontem, parcialmente, as comportas da usina. Em 24 de dezembro de 2019, o nível de água acumulado era de 56% da capacidade total de armazenamento. De acordo com a concessionária, a abertura de comportas tem o objetivo de evitar que seja atingido o limite de armazenamento, provocando transtornos e inundações nas comunidades ribeirinhas do Rio São Francisco. A medida não era tomada desde janeiro de 2012.
O ONS, por sua vez, havia informado nos últimos dias que a previsão de chuvas se mantém nas bacias do São Francisco, Paranaíba e Grande, assim como na região Norte do país. Em recente reunião, os técnicos destacaram que a Bacia do São Francisco teve chuva acumulada acima da média, em 102%.
Por meio de nota enviada ao Estado de Minas, a Agência Nacional de Águas (ANA) creditou às chuvas o bom momento da usina de Três Marias. “Duas causas fazem o armazenamento de um reservatório de água subir: chuvas e aumento das afluências (água que chega) nas regiões a montante (acima) do reservatório. É o caso de Três Marias, que teve um grande volume de chuvas nas cabeceiras do Rio São Francisco”, informou.
O ONS compara o início do ano ao número atual. Segundo o operador do sistema elétrico, “o aumento das chuvas na bacia do Rio São Francisco fez com que o volume do reservatório da usina de Três Marias subisse consideravelmente desde início do ano”. No dia 1º de janeiro, o nível do reservatório era de 57,2%, tendo chegado a 72,6% no último dia 3. A média de volume útil ocupado da represa nos meses de fevereiro vinha ao nível de 59,2%.
Tarifas
A recuperação dos níveis dos reservatórios traz a expectativa do consumidor de não pagar acréscimos na conta de energia, previstos no acionamento das chamadas bandeiras tarifárias. No começo da noite de ontem, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou que manterá em março a bandeira tarifária na cor verde, sem cobrança extra. A bandeira foi a mesma aplicada em fevereiro. As cores amarela e vermelha indicam sobretaxação imposta ao consumidor. Quanto mais usinas térmicas, cuja produção é mais cara, são acionadas para atender a demanda da população, mais elevado será o custo de produção de energia, então, repassado aos brasileiros.
Segundo a Cemig, “a Aneel leva em consideração todos os subsistemas para definir a bandeira que vai vigorar no país”. O diretor-geral da CMU Comercializadora de Energia, Walter Fróes afirma que o volume elevado em reservatórios de diversas usinas pode é “atrasar” a aplicação de bandeiras tarifárias.
“A regulação é complexa, e variáveis interferem. Três Marias é somente uma das usinas, e isso depende do todo. Se todas estiverem cheias, lotadas, o que não é verdade no momento, você tem quatro meses de consumo integral. Em termos de tarifa, é impacto quase zero. O que pode acontecer é postergar a aplicação dessas bandeiras, a determinação dessas cobranças. Não tem algo relacionado diretamente na tarifa”, disse ao EM.
Fróes explica, ainda, que Três Marias não é uma das usinas mais determinantes na questão energética. “Hoje, Três Marias tem importância energética muito pequena. Ela é mais importante como regulação hídrica de Sobradinho, na Bahia. Sobradinho representa 80% da energia do Nordeste. Lembrando que Três Marias também consta no subsistema Nordeste”.
Apesar do alto volume em Três Marias, o nível médio do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, composto também pela usina da Região Central mineira, é de 38,67% neste mês. Em Minas Gerais, o menor volume é detectado na Usina Hidrelétrica de Emborcação, com 24,69%, sobre o Rio Paranaíba, na cidade de Araguari, no Triângulo Mineiro.
Promessa de geração intensa nas hidrelétricas
A Agência Nacional de Energia Elétrica ( Aneel ) informou, ontem, que a decisão de manter a bandeira tarifaria na cor verde nas contas de energia se deve à recuperação dos níveis dos reservatórios em virtude do volume razoável de chuvas em fevereiro. Segundo a agência, o volume de chuvas refletiu-se na redução do preço da energia no mercado de curto prazo (PLD) e dos custos relacionados ao risco hidrológico (GSF). O PLD e o GSF são as duas variáveis que determinam a cor da bandeira a ser acionada.
“Em fevereiro, os principais reservatórios de hidrelétricas do Sistema Interligado Nacional (SIN) apresentaram recuperação de níveis em razão do volume de chuvas próximo ao padrão histórico do mês. A previsão para março é de manutenção dessa condição hidrológica favorável, o que aponta para um cenário com elevada participação das hidrelétricas no atendimento à demanda de energia do SIN, reduzindo a necessidade de acionamento do parque termelétrico”, informou a Aneel.
Criado pela Aneel, o sistema de bandeiras tarifárias sinaliza o custo real da energia gerada, possibilitando aos consumidores o bom uso da energia elétrica. O funcionamento das bandeiras tarifárias tem três cores: verde, amarela e vermelha (nos patamares 1 e 2), que indicam se a energia custará mais ou menos em função das condições de geração.
“Os recursos pagos pelos consumidores vão para uma conta específica e depois são repassados às distribuidoras de energia para compensar o custo extra da produção de energia em períodos de seca”, destacou a Aneel. O acréscimo cobrado na conta pelo acionamento da bandeira amarela é de R$ 1,34 a cada 100 quilowatt/hora (kWh) consumidos. Já o primeiro patamar da bandeira vermelha impõe o valor de R$ 4,16 a cada 100 kWh e no patamar 2 da bandeira vale a quantia de R$ 6,24 por 100 kWh consumidos.
Sobretaxa
R$ 1,34 a R$ 6,24
São os possívies extremos
do acréscimo na conta de luz
a cada 100kWh consumidos