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Estado de Minas

Dólar pode ir a R$ 5, admite o ministro Paulo Guedes

Pânico dos investidores com a doença no país, além da má repercussão do pibinho de 2019, turbinaram a moeda americana a R$ 4,65 e fizeram a bolsa desabar quase 5%


postado em 06/03/2020 04:00 / atualizado em 05/03/2020 21:11

Dólar alcançou R$ 4,667 ao longo do dia e só recuou após a terceira intervenção do Banco Central (foto: Beto Novaes/Estado de Minas %u2013 04/05/2004)
Dólar alcançou R$ 4,667 ao longo do dia e só recuou após a terceira intervenção do Banco Central (foto: Beto Novaes/Estado de Minas %u2013 04/05/2004)

 



A valorização do dólar sobre o real e a bolsa de valores brasileira foram marcados ontem por muito nervosismo. Mesmo depois de duas intervenções feitas pelo Banco Central (BC), a moeda norte-americana rompeu a barreira dos R$ 4,60 e terminou o dia cotada a R$ 4,653, novo recorde histórico. O dólar chegou a R$ 4,667 durante o pregão e só perdeu fôlego quando o BC fez o terceiro leilão de swap cambial (compra de dólar futuro), num aumento de 1,6% no dia.

Foi a maior cotação nominal, ou seja, sem descontar a inflação, da história no mercado financeiro. A moeda norte-americana subiu pelo 12º dia, em meio à frustração dos investidores com o crescimento pífio de 1,1% do país no ano passado e às incertezas sobre qual será o impacto na economia do avanço do novo coronavírus. Ontem, o Ministério da Saúde anunciou oito casos de contaminação e a circulação do vírus no Brasil.

O cenário lançou a bolsa de valores brasileira, a B3, num fosso de quase 6% de perdas durante o dia. O Ibovespa, principal índice das ações negociadas, encerrou o pregão com queda de 4,65%, aos 102.233 pontos. Pouco antes do fechamento, às 17h25, o tombo havia alcançado 6,10%, a 100.685 pontos.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, ao ser questionado sobre a disparada do dólar, disse que a moeda norte-americana pode alcançar R$ 5 se “fizer muita besteira”. Ele voltou a afirmar que o câmbio é flutuante e que não há “nada de errado” com a cotação da moeda norte-americana. “A flutuação do câmbio está num nível mais alto”, disse o ministro, que lembrou que, no passado, o dólar já chegou a girar em torno de R$ 1,80.

“Se eu fizer tudo certo, o dólar cai”, afirmou Guedes, que disse estar confiante nas reformas. “O presidente Bolsonaro está encaminhando.” Para o ministro, “isso era perfeitamente previsível”. Em seguida, ensaiou uma lista de explicações: “Tem o coronavírus, a desaceleração global, incertezas... O que vocês (imprensa) estavam dizendo há um ou dois dias? Que está um caos, que o presidente não se entende com o Congresso, que não está havendo coordenação política, toda hora tem uma bomba... Se está havendo todo esse frisson, o dólar sobe um pouco.”

Guedes afirmou também que o câmbio preocupa quando sobe rápido, mas, para isso, o Banco Central (BC) atua. “Está provendo boa liquidez”, comentou Guedes. Segundo o ministro, que participou, ontem, de um almoço na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o novo patamar do dólar reflete uma mudança de modelo econômico que inclui diminuição de gastos públicos e juros baixos. “O Brasil era o paraíso dos rentistas”, insistiu o ministro, ao sustentar também não acreditar que esteja havendo uma fuga de capital.

Contudo, Guedes admitiu que ainda há dúvidas no mercado em relação ao avanço das reformas, com base em notícias veiculadas pela imprensa. “As reformas que faltam, como administrativa e tributária, ainda não foram implementadas. Quando forem feitas, os investimentos virão mais rápido”, disse.
 
 
(foto: Suamy Beydoun/AGIF/Estadão Conteúdo %u2013 13/2/20)
(foto: Suamy Beydoun/AGIF/Estadão Conteúdo %u2013 13/2/20)
 

Se eu fizer tudo certo, o dólar cai”

Paulo Guedes, ministro da Economia
 
Governabilidade 

Guedes também demonstrou estar tranquilo em relação à governabilidade do presidente. “A governabilidade está acontecendo, estou absolutamente tranquilo, é o regime democrático, com independência dos poderes”, disse. O ministro também afirmou que empresas que remetem recursos para fora do país também influenciam a cotação do câmbio.

Ele sugeriu que a imprensa tem relação com o aumento do dólar. “Como estamos confiantes de que a mídia vai entender que o Brasil está mudando para melhor, é uma questão de tempo. Se vocês estiverem menos nervosos daqui a um mês, quem sabe o dólar acalma”, disse. Além disso, Guedes sustentou que o modelo econômico do Brasil é “quatro por quatro”, com juros na casa dos 4% e dólar na casa dos R$ 4.

A projeção de Guedes para o Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produção de bens e serviços do país) em 2020 é de crescimento de 2%. O ministro admitiu que trabalha com uma estimativa diferente da calculada pela Secretaria de Política Econômica (SPE), subordinada à pasta que ele comanda. A previsão da SPE para este ano é de expansão de 2,4% e a expectativa é de que o número seja revisado na semana que vem.

Epidemia 

Pelas contas dos economistas que trabalham com Guedes, o impacto negativo do novo coronavírus na economia brasileira seria de 0,5 ponto percentual, na pior das hipóteses, em um cenário de crescimento de 2,5%. Na melhor das hipóteses, segundo ele, o impacto seria de apenas 0,1 ponto percentual. Para o ministro, o coronavírus vai afetar mais onde está o foco da epidemia, a China, e as economias mais abertas, como é o caso também do país asiático. No caso do Brasil, ele disse, a economia é uma das mais fechadas do mundo. “Quando o vento é a favor, não pega tanto. Então, com o vento contra, também não pega tanto”, afirmou.







Decepção em casa


Brasília – Ainda não será no primeiro mandato do presidente Jair Bolsonaro que o Brasil vai sair do vermelho. E quem admitiu isso foi o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida. Ontem, ele disse que o Brasil ainda enfrenta muitos desafios econômicos e, por isso, apenas vai sair do endividamento e retomar a capacidade de investimento público depois de 2022. A justificativa foi dada, em meio à polêmica sobre o parco crescimento de 1,1%, em 2019, do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produção de bens e serviços do país).

“Nós estamos falando de um país que, mesmo fazendo o dever de casa, ainda vai terminar esse governo com as contas no vermelho, com déficit primário. A gente está falando de um país que não vai conseguir recuperar a capacidade de aumentar o investimento público, dada a discricionalidade atual, até 2022”, afirmou Mansueto Almeida, ao comentar a situação da economia brasileira durante rodada de debates promovida pelo Conselho Nacional de Secretários de Estado da Administração (Consad), em Brasília.

O secretário do Tesouro Nacional alegou que, mesmo com o ajuste fiscal que está em curso, o Brasil ainda apresenta quadro fiscal muito apertado, devido ao aumento de despesas obrigatórias, como os gastos com pessoal e as despesas previdenciárias. Estas últimas, por sua vez, ainda vão crescer R$ 51 bilhões neste ano, segundo Mansueto, já que a reforma da Previdência tem efeito só no longo prazo.

Ele afirmou que, com isso, o governo pode ter que fazer novo contingenciamento mesmo após a aprovação do orçamento impositivo. “Os desafios são enormes no governo federal. Mesmo com o orçamento impositivo, se não houver arrecadação da forma como foi aprovada na Lei Orçamentária Anual (LOA), o governo terá que fazer contingenciamento para cumprir as metas fiscais, com a meta primária”, alertou o secretário, que também admitiu estar preocupado com o crescimento da economia brasileira, que é um gatilho importante para a arrecadação, diante do cenário em que toda a economia mundial está desacelerando em virtude da epidemia do novo coronavírus.

“Durmo preocupado porque não sei o que vai acontecer com o crescimento no mundo. A gente sabe o que é a China crescendo 6%, 7% ao ano. Não sabe o que vai acontecer com a China crescendo 3% ao ano. Não sabe o que vai acontecer com o mundo num cenário de crescimento baixo e com o Brasil anida em fase de recuperação. Isso assusta e tem impacto no Brasil”, afirmou. Ainda assim, o secretário do Tesouro garantiu que a situação brasileira é melhor que a de alguns anos atrás. 


Saque cresce na caderneta 


Após a retirada recorde de R$ 12,356 bilhões em janeiro, as famílias brasileiras voltaram a sacar recursos da caderneta de poupança no mês passado. Dados do Banco Central (BC) mostram que, em fevereiro, os saques líquidos somaram R$ 3,571 bilhões. No entanto, esse foi o menor volume de saques líquidos para meses de fevereiro desde 2018, quando as retiradas somaram R$ 708 milhões. Em 2019, os saques líquidos no mês analisado haviam sido de R$ 4,020 bilhões.

Em fevereiro deste ano, os depósitos brutos somaram R$ 194,346 bilhões, enquanto os saques brutos foram de R$ 197,918 bilhões. Assim, considerando a saída líquida de R$ 3,571 bilhões e o rendimento de R$ 2,384 bilhões ao longo do mês, o estoque total na caderneta de poupança atingiu R$ 834,428 bilhões.

No acumulado do primeiro bimestre de 2020, os saques líquidos da poupança já somam R$ 15,927 bilhões. As retiradas em dois meses superam os depósitos líquidos de R$ 13,327 bilhões na poupança em todo o ano de 2019. Além do fraco cenário econômico e da resistência do nível elevado de desemprego, o início de todos os anos é marcado pela concentração de pagamento de impostos e de gastos extras com matrículas e material escolar. 


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