O recrudescimento nas expectativas cada vez mais frágeis de crescimento econômico no mundo e no Brasil reforça a cautela entre investidores, que ficam no aguardo de novas medidas de estímulo por bancos centrais mundiais para conter os impactos do coronavírus.
Depois do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), o Banco da Inglaterra surpreendeu nesta quarta-feira (11/3), ao cortar o juro em meio ponto porcentual, para 0,25%, como resposta ao choque econômico provocado pelo surto da epidemia iniciada na China e que se alastra pelo globo. Agora, esperam-se ações de outras instituições, como do próprio Fed, do Banco Central Europeu (BCE), além de medidas fiscais pelo governo norte-americano.
Internamente, a expectativa recai na reunião que o presidente Jair Bolsonaro nesta manhã com a equipe econômica para tratar da crise, e que informou redução em suas projeções. No entanto, as expectativas ainda indicam alta acima das vistas no mercado.
A projeção da equipe econômica para o PIB 2020 foi diminuída de 2,4% para 2,1%, enquanto no levantamento Focus, a previsão é de expansão de 1,99%. Contudo, já há instituições prevendo 1,3%, como informou nesta quarta o UBS.
Para o IPCA, a Secretaria de Política Econômica estima 3,12%, menor que o visto no Focus (3,20%), ante projeção anterior de 3,62%.
Conforme o governo, os principais canais de transmissão do coronavírus incluem redução nas exportações, queda de commodities e alta nos preços de insumos importados. Em um cenário otimista, afirma que o impacto do vírus é de recuo de 0,1 ponto porcentual do PIB em 2020; no cenário base, pode ser de -0,3 ponto; e, no pessimista, impacto do coronavírus pode ser de -0,5 ponto do PIB deste ano.
Os investidores agora esperam por algum sinal quanto ao andamento das reformas, que são consideradas por muitos necessárias para estimular o investimento e, no mínimo, aliviar os impactos da crise atual.
Enquanto, isso, o Ibovespa cai mais de 2,5% nesta manhã, na faixa dos 89 mil pontos, depois da retomada de alta na terça. O índice à vista fechou com ganhos de 7,14%, aos 92.214,47 pontos, no maior avanço desde dezembro de 2008.
Nesta quarta, contudo, a sinalização é que a B3 acompanhe a queda das bolsas externas, apesar do anúncio de medidas de estímulo mundo afora. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, por exemplo, declarou que a União Europeia vai investir 25 bilhões de euros para conter os impactos econômicos do surto de coronavírus.
"O País já vinha de um processo de crescimento fraco e o coronavírus foi um veto importante para essa aceleração nas reduções das projeções. É um momento ruim, pois há várias decisões de contingência nos países, nas empresas, o que dificulta negócios", avalia Fernando Barroso, diretor da CM Capital.
Neste sentido, avalia que apesar da alta de 0,25% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em fevereiro, após 0,21% em janeiro, o quadro inflacionário é tranquilo, especialmente por conta da atividade fraca. "Neste quadro, fica difícil acelerar a inflação. O Banco Central não deve ter problemas, podendo cortar o juro ou mesmo promover outras medidas, como redução de compulsório para auxiliar a política monetária", cita.
No campo corporativo, o investidor avaliará a notícia de que a Telefônica e a TIM decidiram negociar, em conjunto, a compra das operações móveis da Oi. Já o petróleo caindo mais de 2,5% pressiona as ações da Petrobras, que cedem quase 4,00%. Às 10h55, o Ibovespa caía 2,48%, aos 89.927,41 pontos.