Fundado em 1929, ano da maior crise do capitalismo financeiro, o Mercado Central de Belo Horizonte resiste de portas abertas ao forte impacto econômico causado pela pandemia de coronavírus. Mas sente o baque.
Nos corredores do estabelecimento onde, segundo a administração central, costumam transitar 31 mil pessoas por dia, o clima nesta terça-feira (23) era de deserto. Às 11h – horário em que o Estado de Minas percorreu o local – alguns comerciantes relataram que ainda não haviam feito uma venda sequer. “Nem vírus entra aqui ultimamente”, comentou o feirante José Vitor Silva, proprietário de uma barraca de frutas.
Para tentar driblar a fuga de clientes, o microempresário passou a oferecer delivery, estratégia adotada por boa parte das 290 lojas em funcionamento no mercado – outras 110, do segmento de bares e restaurantes, tiveram que fechar em virtude do Decreto Nº. 17.297, estabelecido pelo prefeito Alexandre Kalil para conter o surto de COVID-19. O problema, conta José Vitor, é que os pedidos não chegam.
“Nenhum freguês me ligou ou mandou mensagem até agora. Ontem, eu ainda atendi uns cinco. Mesmo assim, os que mandaram buscar a mercadoria, porque até motoboy está difícil de encontrar”, falou à reportagem.
Demissões
No estande de laticínios e doces onde o jovem Willian Pascoal trabalha, o serviço de entregas também não parece fazer muito sucesso. Ao longo de toda a manhã, o funcionário afirma ter feito apenas uma venda via WhatsApp, e quatro presenciais. “O faturamento aqui caiu 90%. Para evitar a perda dos produtos mais perecíveis, reduzimos preços. O pacote de pão de queijo, que era vendido a R$ 12,90, está saindo a R$ 4, valor de custo. O queijo meia cura, nosso carro chefe, está 30% mais barato”, relata.Segundo Pascoal, em virtude da crise, cinco de seus colegas foram demitidos. “O proprietário desse negócio é dono de um total de cinco lojas dentro mercado. Mandou embora um empregado de cada unidade. No caso, os que tinham menos tempo de carteira assinada”, diz o empregado.
Proprietário de sete barracas de produtos naturais, como farinhas sem glúten e alimentos dietéticos, Welbet Machado optou por manter apenas um estande aberto. Ele afirma que, até o momento, não fez cortes no quadro de colaboradores. “Tenho 60 funcionários. Dei férias para todos eles e vim para cá atender a freguesia junto com a minha sócia”.
Ao fim da manhã, o movimento na loja era fraco. A reportagem observou a presença de apenas três compradores. A mobilização em torno das vendas no delivery, no entanto, era mais intensa. “Nós já tínhamos esse serviço ativo há algum tempo. Então, quem comprava conosco via WhatsApp, continuou comprando. Devo ter feito perto de 15 entregas hoje. De qualquer maneira, o impacto da pandemia no orçamento aqui foi muito grande. Diria que estou faturando 5% do que ganho normalmente”.
Fé
E no momento em que que muitos recorrem à fé para encarar as dificuldades, o lucro das lojas de artigos religiosos não parece ter decolado. Segundo Leandro Pereira, vendedor de um estande de artefatos de umbanda e candomblé, nem os banhos de prosperidade têm tido saída. O empregado diz que, diante do cenário ruim, teme perder o emprego.
“Muita gente perdeu. O patrão não vende e continua cheio de despesas, como energia, água, aluguel… Só o aluguel desse espaço aqui, com menos de 10 metros quadrados, é R$ 7 mil. Isso torna a manutenção do negócio difícil, então o empresário sai cortando cabeças. É complicado”, pondera o profissional.
Rotina alterada
Por causa da pandemia, o Mercado central teve o horário de funcionamento restrito. Agora, abre de 8 às 17h e fecha aos domingos.
O surto viral também fez com que a administração do estabelecimeto reduzisse a escala de trabalho dos funcionários pela primeira vez em 91 anos. De acordo com a superintendência do mercado, 90 dos 170 colaboradores estão afastados, em férias coletivas. "A gente começava o dia om 2.200 pessoas aqui dentro, entre empregados do mercado e das lojas. No momento, não abrigamos mais que 300", conta o superintendente Luiz Carlos Braga.
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O que é o coronavírus?
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o coronavírus é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.