Numa cidade inteira confinada para se proteger contra o avanço do novo coronavírus, muitos trabalhadores têm de enfrentar o perigo da contaminação, sem o direito de se ausentar de suas atividades, consideradas essenciais, para que as pessoas atendam à determinação das autoridades de saúde para ficar em casa. Decreto baixado pela Prefeitura de Belo Horizonte proibiu o funcionamento do comércio em geral, mas os serviços de limpeza urbana, farmácias, supermercados e postos de gasolinas, entre outros, permanecem operando no dia a dia. Ainda que desprotegidos no contato direto com os clientes, esses trabalhadores seguem cartilha dos empregadores para manter a segurança.
Gari de uma das equipes de varrição na região hospitalar da capital, que preferiu não se identificar, disse à reportagem do Estado de Minas ter recebido orientações da empresa prestadora do serviço à PBH, mas admitiu que o álcool nem sempre está disponível e nem água. “Estamos em movimento, e quando não dá para chegar até o caminhão pedimos ajuda aos comerciantes ou moradores mais próximos para lavar as mãos e sempre somos muito bem atendidos”, conta.
Ele disse ainda que foi orientado a evitar tocar ou ficar próximo a outras pessoas, recebeu informações sobre as condições de contágio e a troca de uniformes. “Devemos trocar de roupa na chegada e saída do trabalho e não ir de uniforme para casa”, contou. Agora, os garis estão se dirigindo diretamente aos pontos de início de coleta nos bairros – antes, partiam da sede das empresas e eram transportados em vans ou cabines de caminhão. O mesmo ocorre com os de varrição. O uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), como luvas, bonés e botas, é obrigatório.
Aliados aos setores da saúde, da informação, da segurança pública, os garis estão por toda parte garantindo à população que a situação não se agrave ainda mais. A coleta de lixo, a capina e a limpeza de espaços públicos estão garantidas por um exército de quase 3 mil funcionários, segundo a SLU. Apenas as coletas seletivas porta a porta e ponto a ponto (Pontos Verdes) foram interrompidas desde ontem, segundo a superintendência, para evitar o manuseio dos resíduos durante a triagem do material reciclável nos galpões das cooperativas e associações parceiras do município.
Se o volume de lixo recolhido em vias públicas reflete a queda momentânea da circulação de pessoas e veículos, a coleta domiciliar apresenta aumento significativo, com mais gente dentro do que fora de casa. O serviço de limpeza municipal recomendou às empresas que os uniformes dos garis sejam higienizados diariamente (a troca diária já é obrigatória) e, portanto, substituídos com maior frequência para diminuir a chance de contaminação. De acordo com a SLU, as prestadoras de serviço contratadas estão reservando nos caminhões kits com água e sabão para os garis e motoristas e orientando sobre o reforço dessa higienização. Recomendou ainda que disponibilizem álcool em gel às equipes, mas reconhece que há limitação em função da enorme procura pelo produto no mercado.
Prevenção No comércio liberado pela prefeitura – das farmácias e supermercados –, a realidade de proteção contra o coronavírus não é a mesma em todas as empresas. O EM apurou que várias firmas prometem distribuir máscaras de proteção para todos os trabalhadores, mas não cumprem a medida.
Uma das principais padarias na área central da capital vem fazendo reuniões diárias para discutir a atual crise e propor soluções para contornar o problema. Além de afastar cinco dos 60 funcionários que estão no grupo de risco de contaminação da COVID-19, a empresa investiu na higienização de balcões e utensílios dentro do estabelecimento e treinou os empregados.
A padaria também reduziu o horário de funcionamento, encerrando o expediente às 20h diariamente, para tentar manter os funcionários o maior tempo possível em casa. Em um supermercado da Zona Sul da cidade, os empregados também estão sendo orientados sobre os cuidados para evitar a contaminação. Aos 18 anos, o operador de caixa Luiz Eduardo Pires de Oliveira conta que está tomando medidas preventivas e que a empresa fornece álcool em gel para higienização a cada compra registrada. “Estou me prevenindo ao máximo. Quando chego em casa já vou para o banho e retiro a roupa para lavar”, afirma.
Rigor com uniforme e a chegada em casa
As dezenas de postos de gasolina de BH tentam sobreviver em meio à queda de movimento e ao risco do coronavírus. Com a redução da circulação de carros na cidade, as revendas reduziram a escala e a carga horária de funcionários. Entre as medidas de prevenção da pandemia, as bombas, uniformes e máquinas de cartão estão sendo higienizadas com álcool em gel.
“Optamos por não usar máscaras, porque muitos clientes pensam que nós contraímos coronavírus e querem ficar longe de nós”, relata o frentista Gustavo Henrique Oliveira, de 19 anos, que tenta se precaver o quanto possível. “Abasteço um carro e lavo bem as mãos em seguida”, diz.
Nas farmácias, a receita também é a higienização do ambiente. No papel de informar bem os clientes em relação à saúde, os estabelecimentos tentam também afastar as fake news, procurando prestando esclarecimentos sobre os sintomas da doença respiratória. “Muitas pessoas não se conscientizam de que o problema é grave. Procuramos ser mais claros para que elas tomem o medicamento certo quando há dor de garganta ou febre ou recomendamos ir ao médico”, diz o vendedor Márcio Luiz de Paula, de 49, que lamenta a perda de parte do salário em virtude da diminuição do movimento. Ele recebe comissão pelo trabalho e conta que o movimento na loja caiu.
“A gente está trabalhando todos os dias, mas muita gente fica em casa e o nosso movimento cai. Assim, o salário fica menor, pois trabalho com comissão. É essa a realidade. Temos que seguir em frente, tentando tomar todos os cuidados necessários”. (RD e Leandro Couri)
Condutor em risco
“Bom-dia! Qual é o andar?” É com essa pergunta que os ascensoristas recebem quem chega para usar o elevador. A rotina deles é um sobe e desce, levando dezenas e até mesmo centenas de pessoas por dia em um ambiente sem janelas e vulnerável à contaminação. Hoje em dia, não é tão fácil encontrá-los, até em prédios antigos a profissão está quase extinta. Mas, é o tipo de atividade que acende alerta para os riscos de contaminação pelo novo coronavírus.
Numa manhã ensolarada de sábado, depois de muita chuva, belo-horizoninos foram ao Centro da cidade. O repórter esteve num shopping de grande movimento, e viu uma adolescente se preparando para tocar a placa com os botões dos andares. Mas, antes, passou álcool em gel nas mãos e, depois de marcar o andar, repetiu a operação, pois o recipiente estava disponível na parede.
A porta se abriu e vi que o elevador estava cheio. Perguntei a uma senhora de cabelos brancos, carregando sacolas, se elevador daquele jeito lhe inspirava riscos, E ela veio com a mesma conversa: “Nunca pensei nisso”. Entrei no elevador e falei com o ascensorista. “Com essa história de coronavirus, o senhor não passa aperto, não?”. Sem o menor sinal de preocupação no rosto, respondeu que não. “Uai, se for assim, ninguém vive”.
E o elevador é, de fato, um ambiente vulnerável. De acordo com o conselheiro administrativo do Sindicato das Empresas de Asseio e Conservação do Estado de Minas Gerais (Seac), Marcos Antônio de Sousa, é evidente a preocupação da categoria. “Sobretudo, pela natureza peculiar do trabalho, em constante contato com o público e atuando em ambiente de reduzida ventilação”, destacou.O sindicato dos empregados do setor (Sindeac) deve adotar a exigência do uso de máscara protetora para todo empregado que lida diretamente com o público, incluindo os ascensoristas. O Estado de Minas já mostrou que a proteção não evita que uma pessoa seja infectada, mas impede que um já enfermo transmita a doença para outras pessoas.
As dezenas de postos de gasolina de BH tentam sobreviver em meio à queda de movimento e ao risco do coronavírus. Com a redução da circulação de carros na cidade, as revendas reduziram a escala e a carga horária de funcionários. Entre as medidas de prevenção da pandemia, as bombas, uniformes e máquinas de cartão estão sendo higienizadas com álcool em gel.
“Optamos por não usar máscaras, porque muitos clientes pensam que nós contraímos coronavírus e querem ficar longe de nós”, relata o frentista Gustavo Henrique Oliveira, de 19 anos, que tenta se precaver o quanto possível. “Abasteço um carro e lavo bem as mãos em seguida”, diz.
Nas farmácias, a receita também é a higienização do ambiente. No papel de informar bem os clientes em relação à saúde, os estabelecimentos tentam também afastar as fake news, procurando prestando esclarecimentos sobre os sintomas da doença respiratória. “Muitas pessoas não se conscientizam de que o problema é grave. Procuramos ser mais claros para que elas tomem o medicamento certo quando há dor de garganta ou febre ou recomendamos ir ao médico”, diz o vendedor Márcio Luiz de Paula, de 49, que lamenta a perda de parte do salário em virtude da diminuição do movimento. Ele recebe comissão pelo trabalho e conta que o movimento na loja caiu.
“A gente está trabalhando todos os dias, mas muita gente fica em casa e o nosso movimento cai. Assim, o salário fica menor, pois trabalho com comissão. É essa a realidade. Temos que seguir em frente, tentando tomar todos os cuidados necessários”. (RD e Leandro Couri)
Condutor em risco
Condutor em risco
“Bom-dia! Qual é o andar?” É com essa pergunta que os ascensoristas recebem quem chega para usar o elevador. A rotina deles é um sobe e desce, levando dezenas e até mesmo centenas de pessoas por dia em um ambiente sem janelas e vulnerável à contaminação. Hoje em dia, não é tão fácil encontrá-los, até em prédios antigos a profissão está quase extinta. Mas, é o tipo de atividade que acende alerta para os riscos de contaminação pelo novo coronavírus.
Numa manhã ensolarada de sábado, depois de muita chuva, belo-horizoninos foram ao Centro da cidade. O repórter esteve num shopping de grande movimento, e viu uma adolescente se preparando para tocar a placa com os botões dos andares. Mas, antes, passou álcool em gel nas mãos e, depois de marcar o andar, repetiu a operação, pois o recipiente estava disponível na parede.
A porta se abriu e vi que o elevador estava cheio. Perguntei a uma senhora de cabelos brancos, carregando sacolas, se elevador daquele jeito lhe inspirava riscos, E ela veio com a mesma conversa: “Nunca pensei nisso”. Entrei no elevador e falei com o ascensorista. “Com essa história de coronavirus, o senhor não passa aperto, não?”. Sem o menor sinal de preocupação no rosto, respondeu que não. “Uai, se for assim, ninguém vive”.
E o elevador é, de fato, um ambiente vulnerável. De acordo com o conselheiro administrativo do Sindicato das Empresas de Asseio e Conservação do Estado de Minas Gerais (Seac), Marcos Antônio de Sousa, é evidente a preocupação da categoria. “Sobretudo, pela natureza peculiar do trabalho, em constante contato com o público e atuando em ambiente de reduzida ventilação”, destacou.
O sindicato dos empregados do setor (Sindeac) deve adotar a exigência do uso de máscara protetora para todo empregado que lida diretamente com o público, incluindo os ascensoristas. O Estado de Minas já mostrou que a proteção não evita que uma pessoa seja infectada, mas impede que um já enfermo transmita a doença para outras pessoas.