São Paulo – Poucos setores sofreram tanto com a pandemia do coronavírus quanto o mercado fitness. Academias fechadas, planos cancelados e incertezas sobre o retorno das atividades normais obrigaram o segmento a encontrar meios de sobreviver.
Na entrevista a seguir, Leandro Caldeira, presidente para a América Latina do Gympass, startup que oferece aos usuários acesso ilimitado a academias, estúdios e outros estabelecimentos de atividade física, explica o que a sua empresa tem feito para combater a crise.
Que iniciativas o Gympass adotou para reduzir os impactos negativos da crise do coronavírus?
O Gympass está presente em 14 países, incluindo Itália e Espanha, duas regiões que foram fortemente impactadas pelo novo coronavírus. Ter compreendido rapidamente a situação por lá nos ajudou a agir em todas as outras regiões em que o Gympass atua. Desde então, trabalhamos no Brasil e outros países para nos adequarmos à nova realidade. Para mitigar os efeitos causados pela Covid-19, usamos a tecnologia como aliada, permitindo que nossos mais de 23 mil parceiros no país continuem oferecendo treinos aos seus alunos, sejam eles usuários Gympass ou não.
Como isso é feito?
Lançamos algumas medidas de apoio às academias e estamos trabalhando para trazer mais soluções nas próximas semanas. Entre as iniciativas, a antecipação do repasse referente às visitas de março (normalmente o repasse é feito todo dia 15 e desta vez fizemos no dia 6, pois sabemos que essa renda é importante para nossos parceiros), a plataforma de aulas ao vivo, sem qualquer custo, o programa de incentivo digital, para apoiar financeiramente os parceiros que estão dando as aulas ao vivo, e a plataforma de aulas gravadas, que oferece 1,5 mil treinos de diversas modalidades. Além disso, buscamos ajudar nossos parceiros por meio do marketplace Gympass Plus. Em Minas Gerais, por exemplo, fechamos um acordo com uma empresa de energia solar para os parceiros do estado. Ao fazer a migração para esse tipo de energia mais sustentável, eles poderão ter até 15% de desconto na conta de luz, que é um dos três maiores gastos da academia.
''Para mitigar os efeitos causados pela COVID-19, usamos a tecnologia como aliada, permitindo que nossos mais de 23 mil parceiros no país continuem oferecendo treinos aos seus alunos, sejam eles usuários Gympass ou não''
Leandro Caldeira, presidente da Gympass
A pandemia obrigou o Gympass a rever seu modelo de negócios?
Estamos vivendo o “novo normal”. A pandemia fez com que todos os segmentos do mercado tivessem que se reinventar. Com o Gympass e a indústria fitness não foi diferente. Não sabemos quanto tempo a crise vai durar, nem quanto tempo levará para que o comportamento do usuário volte ao normal. Acreditamos que, mais do que nunca, é o momento para que as pessoas continuem se exercitando para permanecerem saudáveis mental e fisicamente. A solução foi nos adaptarmos, da forma mais rápida possível. Em apenas duas semanas, ajustamos nosso modelo de negócio para possibilitar que nossos parceiros continuassem engajando seus usuários com atividade física online. De maneira gratuita e 100% digital, nossos mais de 23 mil estúdios e academias parceiras em todo o Brasil podem oferecer aulas ao vivo. É importante ressaltar o “ao vivo” pois ele gera mais engajamento, dada a interação possível do usuário com o professor.
Para os parceiros, qual é a importância de oferecer aulas ao vivo?
Entre os benefícios desse novo modelo, além da geração de receita (os parceiros são pagos pelo Gympass por cada aula agendada pelo usuário), as academias têm a oportunidade de crescer no universo digital e alcançar um número maior de pessoas.
Como ficará o mercado de fitness depois do fim da pandemia?
Ainda é difícil dizer. Acreditamos no poder da aula presencial e do contato humano, mas vemos aulas online como um complemento, uma nova fonte de renda para nossos parceiros.
Em muitos setores, a crise obrigou as empresas a acelerar a transformação digital. O mesmo deverá ocorrer com o mercado de fitness?
Sem dúvida. As empresas precisam ser ágeis em ajustar o modelo. A indústria de academias e estúdios ainda é muito dependente de aulas presenciais, mas a pandemia tem obrigado o setor a pensar em soluções digitais. Foi notável ver a rapidez com que nossos parceiros inovaram para oferecer aulas ao vivo.
Já é possível dimensionar o impacto do coronavírus no setor?
Por se tratar de uma crise global, sabemos que nossos parceiros e todo o setor de fitness, assim como nós, serão impactados. Só vamos conseguir mensurar o real impacto daqui a alguns meses, mas acreditamos que, apesar de a situação não ser fácil, sairemos com soluções mais diversas para os usuários, com um legado positivo.
No caso do Gympass, qual foi o impacto da pandemia? Houve queda no faturamento e demissões?
Em diversos países a população recebeu a recomendação para permanecer em casa e muitas empresas já adotaram a política de home office. Indústrias, lojas, restaurantes e academias fecharam suas portas. Vimos nossas visitas a academias caírem a zero e tivemos muitos cancelamentos e pausa de planos por parte dos usuários. Foi necessário fazer algumas mudanças para reduzir custos, o que incluiu a decisão mais difícil de todas: reduzir a nossa equipe.