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Estado de Minas

Delivery de alimentos cresce 20% na capital, com a crise do coronavírus

Isolamento social faz com que aplicativos de transporte aumentem a carteira de clientela na capital, atendendo a pedidos de refeições do café ao jantar


postado em 23/04/2020 04:00 / atualizado em 23/04/2020 07:56

Concorrência entre entregadores também cresceu, após busca de trabalho autônomo por profissionais de outros setores(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Concorrência entre entregadores também cresceu, após busca de trabalho autônomo por profissionais de outros setores (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

 

Pedalando entre os carros e de olho nos mapas dinâmicos da tela do smartphone num suporte de guidão, o pintor Paulo Oliveira, de 32 anos, compensa a falta de serviços que o isolamento social impôs com a pandemia da COVID-19 entregando comida por delivery de aplicativos na sua bicicleta. “Foi uma saída que encontrei. No começo, quando fechou tudo, tinha uma chamada atrás da outra. Agora, entrou tanta gente por falta de trabalho que não está mais tão bom assim”, afirma. A história de Paulo é uma das que ajuda a entender como o mercado de entregas a domicílio cresceu para atender ao apetite de quem se refugia em casa do novo coronavírus (Sars-Cov-2).

 

Um exemplo disso está nos resultados do aplicativo 99Food, que iniciou suas operações nacionais pela capital mineira, em dezembro de 2019. A empresa contabilizou aumento de pedidos da ordem de 20% em BH, só na primeira semana de quarentena, entre 20 e 30 de março.

 

O acréscimo no serviço auxiliou a plataforma a alcançar a marca de 1 milhão de entregas. Por meio desse aplicativo, que se moldou ao mercado belo-horizontino é possível ver que não apenas a função de entregadores se ampliou com a realidade do isolamento, como também os restaurantes e bares enfrentam mudanças. Segundo o diretor-geral da plataforma no Brasil, Danilo Mansano, os parceiros que antes tinham 10% de suas vendas feitas por delivery, agora sobrevivem com 100%, o que os levou a diversas adaptações.

 

“Com isso atingimos a marca de 5 mil restaurantes cadastrados em BH, sendo que 40% deles nunca tinham trabalhado com o sistema de entregas. Por isso, ajudamos como podemos. Damos instruções e incentivos, como o pagamento semanal. Fazemos também campanhas para auxiliar nossos parceiros. Como a que lançamos para incentivar as pessoas a consumir dos pequenos negócios buscando os comerciantes locais”, afirma Mansano.

 

Com a pandemia, o diretor da plataforma de entrega de alimentos que faz a intermediação entre clientes e comerciantes afirma que ocorreram várias mudanças de comportamento em BH. Uma delas foi a ampliação do valor dos pedidos e uma frequência maior de encomendas por usuário cadastrado. “Antes, os pedidos eram para uma pessoa almoçar ou no fim de semana, para pedir uma pizza. Agora, a pessoa faz o pedido para a família toda, pois estão todos juntos dentro de suas casas. Em vez de só a tradicional pizza de domingo, agora os pedidos são de alimentos variados, porque precisa atender desde o café da manhã ao jantar”, observa.

 

"No começo, quando fechou tudo, tinha uma chamada atrás da outra. Agora, entrou tanta gente por falta de trabalho que não está mais tão bom assim"

Paulo Oliveira, pintor e entregador de delivery

 

Como os entregadores atuam na ponta e se expõem à contaminação o tempo todo. Vários aplicativos iniciaram a distribuição de máscaras e álcool em gel para tentar diminuir os riscos de contágio. No caso do 99food foram distribuídos 7 mil kits para os entregadores parceiros com os dois itens para proteção e desinfetar. As máscaras não são do tipo cirúrgica, mas do modelo N-95 ou FFP2, indicadas para o uso de médicos que tratam doentes com o novo coronavírus por impedirem que partículas tão pequenas quanto o micro-organismo sejam inaladas. Caso o condutor seja contaminado e não possa mais trabalhar, será auxiliado por meio de um fundo de US$ 10 milhões que banca ajuda paga a título de doação para motoristas do aplicativo de transportes 99 e também 99Food.

 

“A gente sai e fica pensando como vai fazer. Tem já os meios de procedimento. Fica de longe do cliente. Entrega a máquina para ele mesmo colocar o cartão e digitar o valor. O pedido fica no chão ou em alguma mesa se tiver. Não entregamos mais na mão e na hora de despedir é no máximo um tchauzinho”, afirma o ciclista entregador Paulo Oliveira, sobre os perigos do novo coronavírus.

 

Ele diz que apesar de retirar o sustento dos dois filhos e da mulher das entregas, não vê a hora de voltar a pintar paredes. “É cansativo. Para valer a pena e tirar uns R$ 200, tem de pedalar muito. Mais de 9 horas por dia. Já não sou menino mais, né”, disse.

 

Sem contágio A partir do dia 17, já é possível que o consumidor solicite uma opção entrega sem qualquer contato pelo aplicativo da 99Food. Basta que, ao finalizar pedido, na tela de confirmação, ele selecione a opção “Entrega sem contato”. A opção é válida para os pagamentos realizados por meio do aplicativo. Também é possível conversar com o entregador para avaliar o melhor local para entrega do pedido, já que muitas pessoas não querem abrir as portas de suas casas mesmo que por um breve instante e assim ter uma possibilidade de contágio.

 

Quando a pandemia arrefecer, acredita o diretor da 99Food, Danilo Mansano, muitas mudanças terão se consolidado nos costumes dos clientes e no setor de alimentação, tanto na organização e quanto na higiene dos bares e restaurantes. “Todos têm de atender bem. E para levar um bom produto com um bom atendimento os restaurantes se adaptam. Por exemplo: distribuímos 600 mil lacres em BH para que os pedidos sejam embalados de forma segura. Esse tipo de prática fica incorporada. A forma como os entregadores são vistos socialmente também mudou, com eles tendo uma maior valorização, pois estão sendo essenciais para que as pessoas se alimentem nessa fase”, afirma.

 


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