A cultura, o esporte e a educação foram os setores mais impactados pelas restrições de circulação impostas para frear a transmissão do coronavírus no Brasil. Enquanto isso, a agropecuária, a saúde e a comunicação foram os segmentos menos prejudicados. Essa é uma das conclusões de um levantamento que comparou os quilômetros rodados por frotas de transporte entre dois períodos: antes da quarentena – entre 9 e 22 de março – e durante– de 23 de março a 5 de abril.
No total, o transporte em todo o país caiu 29%, saindo de 9,81 milhões de km rodados para 6,97 milhões. A pesquisa foi elaborada pela startup Cobli, especializada em logística e mobilidade, que tem uma base de dados com 1.500 pequenas e médias empresas cadastradas.
De acordo com o levantamento, o transporte relacionado ao setor de artes, cultura, esportes e recreação caiu 86% com as medidas de restrição, o maior índice entre as áreas pesquisadas. O segundo mais prejudicado é o de educação, que sofreu uma queda de 63% entre os dois períodos.
Por outro lado, a quilometragem da frota do grupo da agropecuária e pesca foi a única que aumentou, em 2%. Já o índice de saúde humana e serviços sociais caiu 9%, enquanto o de informação e comunicação sofreu uma queda de 13%.
O diretor executivo da Cobli, Rodrigo Mourad, afirma que as atividades dos setores mais prejudicados são as mais afetadas pelo isolamento social aplicado para combater o coronavírus. “Foram as coisas que a sociedade cortou mais rápido”, afirma. Mourad argumenta que, no caso dos esportes, não há necessidade de transportar os atletas, já que os campeonatos estão parados. O mesmo vale para a educação: sem aulas ou com o ensino a distância, alunos e professores não precisam se deslocar.
Mourad atribui a estabilidade do transporte agropecuário, em parte, ao alto consumo no início da crise, quando muitas pessoas se preocuparam em estocar alimentos. Já o tamanho dos setores de saúde e comunicação explica os efeitos menores que pandemia teve no transporte dessas áreas.
“A saúde é um setor muito amplo. O atendimento cresceu, outras áreas estão funcionando de maneira semelhante, mas outras caíram, como o home care”, afirma o empresário. Na avaliação de Mourad, a somatória de resultados variados também vale para a comunicação.
De acordo com a pesquisa, o transporte dos serviços de alojamento e alimentação caiu 37%. Já a quilometragem da frota que atende os serviços de distribuição de água, esgoto e gestão de resíduos foi reduzida em 20%. Rodrigo Mourad diz que esses resultados não são motivo para se preocupar com um possível quadro de desabastecimento.
No caso do saneamento, ele aponta que a preocupação é com a falta de manutenção da infraestrutura. “Pode impactar significativamente os custos na cadeia de produção e condições de vida da população, além de dificultar o retorno ao equilíbrio”, analisa o diretor executivo.
O responsável pela pesquisa afirma que as quedas no transporte indicam de maneira mais precisa o impacto da pandemia em alguns setores do que outros. “Na alimentação a gente consegue perceber o impacto no curto prazo. A retomada também deve ser mais rápida”.
Por outro lado, com o desemprego aumentando e as empresas endividadas, o efeito é mais de longo prazo em outros setores, como o automotivo. “Acaba gerando postergação de compras. Alguns setores vão sofrer por mais tempo”, explica Rodrigo Mourad.
O levantamento também aponta o impacto do coronavírus no transporte que atende 63 subcategorias de serviços e produtos. As agências de viagem são um dos mais afetados, com redução de 87%. Já a quilometragem das frotas para a construção de edifícios caiu 48%.
A pesquisa também inclui os dados das agências de publicidade, com queda de 28%, manutenção de veículos, com retração de 27% e do varejo de vestuário, que também caiu 27%. Os números completos da pesquisa podem ser acessados aqui.
Redução do transporte por estado
Por fim, o levantamento analisa a redução da quilometragem por estado. De acordo com a pesquisa, o movimento em Minas Gerais caiu 21%, abaixo da média nacional, de 29%. O estado é o 17º mais afetado, entre os 25 que foram analisados. Enquanto isso, São Paulo registrou retração de 26% e o Rio de Janeiro de 31%.
Rodrigo Mourad afirma que os números estaduais variam de acordo com o nível de isolamento social que cada um aplicou e as atividades industriais que se destacam localmente. “A matriz econômica de Minas, mesmo com indústrias afetadas, tem base de setores que continuam funcionando, como o agronegócio. Além disso, as reduções no interior foram mais lentas, por haver menos casos da doença”, analisa o executivo.
O estado mais impactado foi o Mato Grosso do Sul (-55%), seguido pelo Tocantins (-53%). Na contramão da tendência nacional, o Pará registrou alta de 9%. Segundo Mourad, as indústrias de base do estado, como de minério e gás, contribuíram para o aumento no transporte. O Espírito Santo foi o menos afetado negativamente, com redução de 7%.
*Estagiário sob supervisão