O governo de Minas Gerais incluiu as floriculturas no grupo de atividades econômicas consideradas de baixo risco, que podem ser as primeiras a reabrir no estado, de acordo com o controle da pandemia de coronavírus. O Executivo estadual listou o segmento na “Onda Branca” do programa Minas Consciente, lançado para coordenar e orientar as decisões das prefeituras sobre a retomada progressiva da economia por setores.
O governo orienta que a venda de flores e as outras atividades do grupo sejam retomadas apenas nas macrorregiões Centro, Noroeste, Nordeste e do Sul (parcial). Um dos critérios adotados para essa limitação é a ocupação de leitos nessas regiões. Porém, a decisão final cabe aos municípios.
Para liberar o protocolo de segurança para a retomada de atividade das floriculturas, a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sede) analisaram a vulnerabilidade do setor na crise, a quantidade de trabalhadores em circulação e o nível de aglomeração por empregado.
De acordo com a Seapa, 90% da produção de flores destinam-se ao setor de eventos. Com isso, esse foi um dos primeiros segmentos a sentir o impacto da crise. Até a inclusão da atividade na “Onda Branca”, não havia previsão de retorno imediato.
Mesmo a decisão do governo de incluir floriculturas no grupo de atividades de baixo risco a caminho do Dia das Mães (domingo, 10) não apagou o pessimismo entre representantes do setor sobre o curto prazo. Os diferentes posicionamentos das prefeituras e a paralisação de datas comemorativas e eventos – o que leva à falta de demanda – são os principais motivos de preocupação.
“Deixa mais otimista. Mas o prefeito (de Belo Horizonte, Alexandre Kalil) não quer liberar. Fica difícil trabalhar em um lugar onde cada governo faz uma coisa”, pondera o presidente da Associação de Distribuidores e Produtores de Flores e Plantas de Minas Gerais (ADPF-MG), Flávio Vieira.
A associação espera que a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) permita a reabertura das floriculturas. Pelo menos até o Dia dos Namorados, comemorado em 12 de junho, uma data de forte faturamento para os produtores. “A floricultura é uma atividade de baixo risco, porque não há aglomeração de pessoas”, defende Flávio Vieira.
Em nota, a PBH afirmou que “não seguirá o estado e que as floriculturas só podem funcionar por serviço de delivery”. No entanto, essa não é a situação em outras cidades do estado, o que traz esperança para o presidente da ADPF-MG.
Por outro lado, a Prefeitura de Betim, na Região Metropolitana de BH, permitiu a reabertura das floriculturas na cidade a partir de 22 de abril. Segundo a administração municipal, os estabelecimentos foram reabertos com a condição de aplicarem medidas para evitar aglomeração e fornecerem máscaras e álcool em gel aos clientes. De acordo com o presidente da ADPF-MG, as floriculturas também já puderam voltar a abrir em Contagem, Vespasiano, ambas na Região Metropolitana de BH, Barbacena e Juiz de Fora.
Mesmo que as floriculturas sejam reabertas, a previsão de Flávio Vieira é que vão faltar flores, já que se trata de um produto perecível e a área de cultivo não conseguiu manter a produção. “Existe um ciclo de colheita. Esse ciclo está sendo pulado. O produtor não está acreditando mais”, explica.
Vieira estima que em Minas os produtores já perderam R$ 1,3 milhão, com uma queda de vendas de 75%. Além disso, 70% dos trabalhadores do segmento foram demitidos. Depois do Dia das Mães, período em que é esperado pequeno alívio nas vendas, o presidente da ADPF-MG pensa que esses números negativos só tendem a aumentar.
Para o produtor de flores Fábio Tsutsumi, de Matheus Leme, a inclusão de floriculturas na “Onda Branca” não muda muita coisa. A maior parte das vendas de Tsutsumi é para funerárias. E com os velórios limitados, as empresas não gastam com os ornamentos. Por outro lado, ele aponta que as comemorações, como casamentos e formaturas, não devem voltar tão cedo, o que prejudica a fatia da produção que vai para as floriculturas.
“É uma decisão que depende muito das prefeituras. Além disso, flor é um produto supérfluo. As pessoas preferem comprar um presente mais útil neste momento", argumenta o produtor. Ele calcula que já perdeu R$ 200 mil desde o início da crise, com uma queda nas vendas de 70% ou mais. Não chegou a demitir, mas suspendeu os contratos dos 18 funcionários que emprega. Como é preciso colher as flores constantemente, com a baixa procura Tsutsumi teve de jogar fora parte da produção.
*Estagiário sob supervisão do subeditor Eduardo Murta