O anúncio do governo do Eatado, através da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais, que chegou a acordo para instalar “a primeira fábrica de células de baterias de lítio-enxofre do mundo” em Juiz de Fora (Zona da Mata), não agradou todos mineiros. Profissionais de engenharia e de geocências, além de lideranças políticas e comunitárias se mobilizaram para convencer autorides do executivo que o Vale do Jequitinhonha é o local ideal para a planta.
“É inconcebível aceitarmos que o Governo Estadual faça transferência de riquezas de uma região que historicamente sofre pelo abandono de investimentos públicos. O Vale do Jequitinhonha possui uma riqueza humana e ambiental extraordinária, além disso, não podemos deixar de mencionar as riquezas minerais da região. Há dois anos foi anunciada a descoberta de uma das maiores jazida de lítio do mundo localizada entre os municípios de Araçuaí e Itinga. O lítio é uma matéria-prima importante para a produção de baterias para carros elétricos, celulares e tablets. A região possui capacidade em responder por 85% do lítio produzido no país”, diz documento assinado por 13 engenheiros, uma geógrafa e um gestor ambiental de cidades como Araçuaí, Berilo, Coronel Murta, Itaobim, José Gonçalves de Minas, Minas Novas e Virgem da Lapa .
“A justificativa do Estado pela locação da fábrica em Juiz de Fora desconsidera o grande potencial humano e educacional que a região possui, deixando exclusivamente o ônus da degradação ambiental na localidade e levando os benefícios econômicos para outra. Mesmo que atualmente não exista tecnologia para o processamento do minério na região, o Vale do Jequitinhonha possui capacidade para ser o principal fornecedor de lítio para qualquer fábrica em um futuro breve, o que reforça ainda mais a instalação de indústrias desse setor na região. Só na região de Araçuaí existem aproximadamente mais de 300 profissionais atuantes da engenharia e da geociências. Além disso, o Vale apresenta um ensino superior de qualidade graças a existência de instituições públicas como a Universidade Federal do Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG). Na cidade de Araçuaí existe um campus do IFNMG que recentemente recebeu investimentos públicos por meio da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (CODEMGE/CODEMIG) e de emenda parlamentar para construção de um prédio pedagógico, reforma e compra dos equipamentos do laboratório de mineralogia e tratamento de minérios, o que contribui muito na formação da mão de obra”, argumentam.
Eles finalizam o texto afirmando estar defendendo todo as categorias envolvidas na exploração do lítio, tanto em atividades já existentes quanto nas que possam vir a fazer parte do cotidiano da região. “Não podemos permitir que o Governo Estadual exclua do debate sobre a agregação de valor e renda proveniente do lítio da população e dos profissionais da engenharia do Vale do Jequitinhonha”, dizem.
No mesmo caminho vão algumas lideranças políticas, que pretendem se engajar na luta para fazer o o governo mudar de ideia. “O Vale do Jequitinhonha é a região que menos se desenvolve em Minas. Há dois anos, o governo do Estado adquiriu 33% da Companhia Brasileira de Lítio (CBL) dizendo que era o início de caminho para diminuir as diferenças regionais. Mas agora, em plena pandemia, anuncia que será construída a fábrica de céluas para baterias de lítio, mas não aqui e, sim, em Juiz de Fora. É assim que vamos continuar, sendo explorados? Só servimos para produzir a matéria prima, a riqueza fica lá fora”, questiona o deputado estadual Doutor Jean Freire (PT), que faz apelo para que todos se juntem na luta, independentemente de posicionamento no expectro político. “Convido a todos para levantar a mesma bandeira, não estou interessado de que partido as pessoas são ou que questionem de que partirdo eu sou, quero juntar todos que queiram defender o povo do Vale do Jequitinhonha.”
Nesta quinta-feira, ele partcipará, ao lado dos prefeitos de Araçuaí, Armando Jardim Paixão, e de Itinga, Adhemar Marcos Filho, de vídeo-conferência a partir de 19h. Também estarão presentes Maria José Gazzi Sallum, que é professora de Departamento de Engenharia de Minas da UFMG; Flávia Consoni, professora de departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp; e Rossandro Ramos, professor de Departamento de Estratégia da Gestão da UFRJ.
Freire defende a constituição de três frentes para debater o assunto: uma parlamentar, uma técnica-científica e uma popular. Além disso, apresentou projeto de lei para criar o “polo mineirário do lítio com sustentabilidade”. “Tudo para defender a região, que não é pobre, mas empobrecida.”
OBRAS EM ANDAMENTO
Em anúncio feito em 22 de maio, a Codemge confirmou que, em parceria com a empresa britânica Oxis Energy, acertou a locação por 15 anos de galpão no parque industrial da Mercedez-Benz em Juiz de Fora. “Os trabalhos de adequação do galpão de 20.000 m² que sediará a fábrica começam de imediato, com investimentos da ordem de US$ 56 milhões (cerca de R$ 245 milhões em valores daquela época)”. Os projetos de engenharia estão sendo executados pela Nordika, empresa contratada pela Oxis Energy. A previsão é que a operação se inicie em 2023, com uma produção inicial de 300 mil células de bateria/ano, podendo chegar a 5 milhões/ano. Com o funcionamento da fábrica, serão gerados inicialmente 100 empregos diretos, de alta qualificação.
Procurada pela reportagem nesta terça-feira, a Codemge não retornou até o momento os questionamentos feitos.