Que o Brasil é um país desigual, isso todos sabem. No entanto, a injustiça brasileira se mostra evidente até mesmo em um programa de assistência social durante a pandemia do novo coronavírus, a maior desde a Gripe Espanhola. Isso foi o que mostrou uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva e Central Única das Favelas (Cufa). Segundo o levantamento, 26% dos moradores de comunidades de todo o Brasil não conseguiram ter acesso ao auxílio emergencial de R$600 do Governo Federal. Por outro lado, 3,9 milhões de pessoas das classes A e B - que em tese nao deveriam se enquadrar nas regras - tiveram acesso ao benefício.
Para ter acesso ao auxílio emergencial distribuído pelo Ministério da Cidadania é necessário que o beneficiado pertença a uma família cuja renda mensal por pessoa não ultrapasse meio salário mínimo (R$ 522,50), ou cuja renda familiar total seja de até três salários mínimos (R$ 3.135,00). Além disso, é necessário que não tenha recebido em 2018 rendimentos tributáveis acima de R$ 28.559,70.
No entanto, apesar das exigências, o benefício não chegou a todos aqueles que realmente necessitam do suporte financeiro no momento mais avassalador economicamente dos últimos anos em todo o mundo. Segundo a pesquisa, 65% moradores de favelas pediram o auxílio emergencial. Desses, 39% não conseguiram receber e não sabem mais de onde tirar dinheiro.
Ainda de acordo com o levantamento, os moradores de comunidades que tiveram o pedido de auxílio negado representam 26% do total dessa população 'favelada' no Brasil.
Ainda de acordo com o levantamento, os moradores de comunidades que tiveram o pedido de auxílio negado representam 26% do total dessa população 'favelada' no Brasil.
Segundo a pesquisa, 33% das famílias que moram em favelas perderam toda a renda devido ao coronavírus e 39% contam com menos da metade da renda anterior à pandemia. Com isso, dois terços dos moradores de comunidades pediram o auxílio emergencial.
A situação nas favelas é tão desesperadora que, da população que conseguiu o auxílio, 95% utilizou o dinheiro para comprar alimentos e 77% para adquirir remédios.
A pesquisa foi feita entre 19 e 22 de maio e contou com os dados de 3.561 pessoas de 72 cidades.
O RIO CORRE PRO MAR…
Por outro lado, há quem seja das classes A e B e que conseguiu o acesso aos R$600 concedidos pelo Governo Federal. O número é surpreendente: 3,9 milhões de pessoas.
Segundo o instituto, as classes A e B representam 25% da população brasileira, um total de 17,1 milhões de pessoas - ou seja, ganham mais do que R$1.780. Desses, 33% (5,7 milhões) pediram o auxílio e 69% deles conseguiram.
Ainda segundo a pesquisa, entre a população mais rica, em 55% dos casos houve diminuição na renda familiar e 20% deixaram de pagar alguma conta. Além disso, 36% deles tiveram que manter um negócio próprio fechado e 18% ficaram ou conhecem alguém que ficou desempregado.
Por fim, 8% deles pegaram dinheiro emprestado e, em 2% dos casos, faltou dinheiro para a compra de alimentos.