A Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) divulgou nota nesta terça-feira (30), em que novamente critica a decisão do prefeito Alexandre Kalil (PSD) de permitir que somente serviços essenciais abram as portas na capital mineira. Porém, a entidade comercial afirma que não vai descumprir o decreto, mesmo lamentando uma falta de diálogo com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) durante a crise provocada pela epidemia do novo coronavírus.
À noite, por meio de nota, a prefeitura informou que definiu os critérios da reabertura com representantes de entidades comerciais, incluindo a CDL, mas que "sua efetivação (datas, manutenção, avanço ou retrocesso) dependem do resultado dos indicadores epidemiológicos (índice de transmissão e taxas de ocupação de leitos de UTI e de Enfermaria para COVID-19)".
“Apesar de discordar profundamente da decisão tomada pelo prefeito de fechar o comércio novamente, não há qualquer orientação da entidade para que seus associados desrespeitem o decreto que definiu o novo fechamento. A CDL/BH lamenta que a falta de sensibilidade da prefeitura com relação ao comércio e a completa ausência de diálogo com o setor tenha levado a esta situação”, escreve a câmara no comunicado.
No texto, a CDL voltou a defender que não há relação entre o aumento no número de casos em Belo Horizonte nas últimas semanas e a reabertura do comércio. O argumento é que o índice médio de transmissão do vírus – o chamado R(t), um dos fatores analisados pela Prefeitura para decidir sobre o isolamento – não mudou entre a abertura de parte do comércio e o recuo.
Com base nos boletins divulgados pela PBH, a entidade aponta que o índice estava em 1,09 em 22 de maio, antes da primeira fase de reabertura, e permanecia no mesmo 1,09 em 26 de junho, data do anúncio do novo decreto. “Esta é a prova cabal de que a reabertura do comercio não foi a responsável pelo aumento do número de casos”, afirma a CDL.
Porém, os boletins de acompanhamento da prefeitura mostram que o índice médio de transmissão variou tanto para mais quanto para menos entre os dois dias apontados pela CDL. Além disso, a ocupação das Unidades de Terapia Intensiva (UTI) reservadas para COVID-19 – outro fator analisado pela PBH - só aumentou.
Em 22 de maio, dia do início da reabertura, a ocupação de leitos de UTI era de 40%. O boletim seguinte, de 29 de maio, mostra um R(t) de 1,24%, ocupação de 52% nas UTIs e um nível de alerta geral vermelho.
Em 5 de junho, a transmissão média caiu para 1,07% o que levou o nível de alerta para amarelo, mas o uso de leitos subiu para 64%. Já em 12 de junho, o índice de transmissão estava em 1,19% e a ocupação de UTIs em 74%, o que elevou o nível de alerta novamente para vermelho.
A transmissão caiu para 1,13% em 19 de junho, e a ocupação de UTIs subiu para 78%. Na próxima semana, em 26 de junho, mesmo com a transmissão caindo para 1,09%, a ocupação de UTIs alcançou 85% e a PBH decretou a volta para a fase 0 da reabertura.
Na nota, CDL/BH ainda afirma que se a PBH tivesse ampliado o número de leitos, o índice de ocupação do sistema de saúde não seria tão alto. Segundo a entidade, o secretário de Saúde, Jackson Machado, afirmou em 29 de maio que o município ampliaria as UTIs de 220 para 729 e os leitos de enfermaria de 647 para 1.752.
Caso isso acontecesse, de acordo com a CDL, em “26 de junho, teríamos 34,5% de ocupação nos leitos de UTI, em vez de 85%. E 30% nos de enfermaria, em vez dos 69% registrados na sexta-feira”.
PBH justifica decisão
À noite, por meio de nota, a prefeitura informou que definiu os critérios da reabertura com representantes de entidades comerciais, incluindo a CDL, mas que "sua efetivação (datas, manutenção, avanço ou retrocesso) dependem do resultado dos indicadores epidemiológicos (índice de transmissão e taxas de ocupação de leitos de UTI e de Enfermaria para COVID-19)".
A nota diz ainda que a" Secretaria Municipal de Saúde informa que o aumento do número de casos de COVID-19 em Belo Horizonte na última semana, e em consequência disso do número de atendimentos em Centros de Saúde, Unidades de Pronto-Atendimento, Hospitais da Rede SUS/BH e transportes de pacientes pelo SAMU, foi fundamental para que, na sexta-feira, 26/6, a Prefeitura decidisse retornar a cidade para a fase de controle (funcionamento apenas de atividades essenciais) a partir dessa segunda-feira, 29/06".
Ainda para justificar o passo atrás na abertura, a PBH informou que "Belo Horizonte já registrou 5.915 casos e 136 mortes por Covid-19. Já a taxa de ocupação de leitos está em 87% para UTIs Covid e 89% para demais UTIs. Em enfermarias, a taxa de ocupação é de 71% Covid e 69% não Covid".
Com expectativa de abrir em julho 209 leitos UTI Covid e 263 de enfermaria Covid na cidade, a nota informa que essa elevação de oferta acompanha o planejamento feito pela Secretaria Municipal de Saúde junto aos hospitais e a evolução dos indicadores epidemiológicos e assistenciais em relação à pandemia. A nota pede ainda que a população colabore, mantendo as medidas de prevenção.
"Caso os índices de contaminação não sejam reduzidos, todos os esforços de abertura de novos leitos para o atendimento de pacientes podem não ser suficientes para o volume de pessoas que vão necessitar de assistência."
*Estagiário sob supervisão da editora-assistente Vera Schmitz