A mineração brasileira faturou R$ 39 bilhões no segundo trimestre do ano, segundo balanço divulgado nesta terça-feira (21) pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). O faturamento das mineradoras cresceu 9% em relação aos três primeiros meses de 2020, que registraram R$ 36 bilhões. Os valores não contam a exploração de petróleo e gás.
Segundo o instituto, o aumento se explica pelo bom desempenho das exportações, especialmente por causa da retomda da demanda da China após a pior fase da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. A valorização do dólar frente ao real e a alta nos preços internacionais também contribuíram.
O setor mineral faturou R$ 14,7 bilhões em Minas Gerais de abril a junho, o que representa 37,66% do total no país. Mas o estado é o segundo da lista, atrás do Pará. O faturamento da mineração no estado chegou a 16,7 bilhões no período - 42,7% do total. Os demais estados representativos do setor – Bahia, Goiás, São Paulo e Mato Grosso – registraram juntos R$ 4,4 bilhões, o que representa 11,8% do valor nacional.
Minério de ferro, ouro e cobre concentram a maior parte do faturamento do setor no segundo semestre do ano. Como principal produto do setor no país, a exploração de minério de ferro rendeu R$ 23 bilhões às mineradoras, o que representa 59% do total. Em seguida vem o ouro, com participação de 14%, ou R$ 5,4 bilhões. O cobre foi responsável por 8% do total no período, com R$ 3 bilhões.
De abril a junho, o Ibram calcula que o setor mineral recolheu R$ 13,5 bilhões em impostos, mais do que os R$ 12 bilhões registrados no primeiro trimestre. Do valor para o segundo trimestre, R$ 1,1 bilhão corresponde à Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), compensação paga à União. O valor é 6% maior do que o que foi pago nos três primeiros meses do ano, e 10% menor se comparado com o do segundo trimestre do ano passado.
No mercado internacional, a mineração acumulou saldo positivo de US$ 5,8 bilhões de abril a junho, o que representa um terço do saldo na balança comercial brasileira no período, segundo o Ibram. O setor recebeu US$ 7 bilhões do exterior e importou US$ 1,5 bilhão no segundo semestre. No consolidado do semestre, a mineração acumula US$ 11,5 bilhões positivos – 50% do saldo brasileiro na primeira metade do ano.
O bom desempenho se explica pelo fato de que as mineradoras não pararam de funcionar durante a pandemia do novo coronavírus, segundo o presidente do Conselho Diretor do Ibram, Wilson Brumer. As empresas adotaram medidas de prevenção e combate à COVID-19 nas áreas de exploração e transferiu parte do pessoal para o regime de trabalho remoto.
Assim, conseguiu manter praticamente estáveis os níveis de produção. Se o setor tivesse interrompido suas funções - como ocorreu em outros países - a crise econômica alimentada pela pandemia seria bem mais aguda no Brasil
Wilson Brumer, presidente do Conselho Diretor do Ibram
Por causa da retomada da demanda da China, principalmente no setor de construção civil, as exportações de minério de ferro cresceram no segundo trimestre. O setor faturou US$ 4,8 bilhões com as mais de 76 milhões de toneladas exportadas. O resultado representa uma alta de 6,1% no faturamento e 8,4% na quantidade em relação ao primeiro trimestre do ano.
O diretor-presidente do Ibram, Flávio Penido, aponta que no início da crise o preço do minério caiu, mas logo voltou a subir, com a redução dos estoques na China, o que contribuiu para o resultado.
As exportações de ouro registraram faturamento de US$ 1,086 bilhão no segundo semestre, uma alta de 10,8% em relação aos três primeiros meses do ano. Em quantidade, o valor representa 22,8 milhões de toneladas, o que representa uma queda de 0,4%. O motivo para a alta no faturamento enquanto a quantidade ficou estável é a valorização do metal.
Segundo Flávio Penido, o preço da onça de ouro subiu 8% desde o início do ano até o final do segundo trimestre. “Isso é bem explicado em função da crise. O ouro é um ativo de segurança, assim como o dólar”, avalia Penido.
Apesar da crise, o setor mantém as previsões de investimento para os próximos anos. O Ibram calcula que as empresas devem investir R$ 32,5 bilhões em novos projetos até 2024. “Boa parte das empresas teve que adequar o número de trabalhadores e novas obras por causa da pandemia, mas estão confirmando os projetos. Houve um atraso, mas são cronogramas recuperáveis”, afirma o presidente do Conselho Diretor do Ibram, Wilson Brumer.
O emprego é outro fator que permanece inalterado no setor. De acordo com o instituto, as mineradoras mantiveram as vagas de trabalho diretas na faixa de 175 mil de janeiro a maio.
Perspectivas
Os dirigentes do Ibram estão otimistas quanto ao futuro próximo da mineração no Brasil. Porém, a crise de saúde ainda não foi controlada, e há o receio de que seja necessário reforçar as medidas restritivas à economia para conter a COVID-19. Mesmo assim, o diretor-presidente do instituto vê fatores positivos.
Os mercados compradores estão em fase de retomada das atividades, então os minérios brasileiros voltam a ter demanda aquecida e preços em elevação. Isso é muito positivo tanto para os municípios mineradores e suas regiões - onde estão instaladas as mineradoras exportadoras - quanto para o país como um todo
Flávio Penido, diretor-presidente do Ibram
Durante a apresentação dos resultados do segundo trimestre, os representantes do Ibram defenderam a necessidade do país investir em pesquisa, a fim de explorar novos tipos de minério e distribuir melhor a atividade pelos estados. “O Brasil precisa se conhecer mais sob o ponto de vista da geologia”, afirma Wilson Brumer.
O presidente do Conselho Diretor do Ibram também defendeu mais agilidade na concessão de ferrovias e investimento em infraestrutura no período pós-pandemia. “É necessário que a gente prepare a infraestrutura para atender o potencial mineral que nós temos”, afirma.
*Estagiário sob supervisão da editora Liliane Corrêa