O presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, participou da reunião ministerial de 22 abril. Durante a ocasião, o ministro da Economia, Paulo Guedes, manifestou o desejo de privatizar a instituição. Embora a fala de Guedes — que conta, inclusive, com um palavrão — é que tenha ganhado as manchetes, Novaes também sinaliza positivamente à venda do BB.
Em determinado ponto da conversa, Novaes começa a discorrer sobre a expansão dos empréstimos concedidos pelo banco. A explanação, contudo, é interrompida pelo ministro, que pede ao presidente da instituição que confesse seu “sonho”.
A transcrição dos diálogos, feita pela Polícia Federal, dá a entender que o “sonho” de Novaes é a venda do Banco do Brasil. É aí que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) faz uma interrupção: “Faz assim: só em vinte e três cê (sic) confessa, agora não”.
Em seguida, Novaes retoma o tema, dizendo que o BB “estaria pronto” para a privatização. “Em relação à privatização, acho que fica claro que, com o BNDES cuidando do desenvolvimento e com a Caixa cuidando da área social, o Banco do Brasil estaria pronto para um programa de privatização, né?”, sustenta.
A conversa prossegue com Bolsonaro reiterando que a questão só deve ser debatida em 2023. A próxima eleição presidencial, vale lembrar, está marcada para ocorrer um ano antes.
O palavrão de Guedes
Antes de Novaes abordar o tal “sonho”, ele havia sido perguntado por Bolsonaro sobre o fato de não se manifestar durante a reunião. “O Banco do Brasil não fala nada, não?”, questiona.
A indagação do chefe do Executivo ocorre depois de Guedes ter falado claramente sobre seu desejo de negociar a instituição junto à iniciativa privada.
“É um caso pronto e a gente não tá (sic) dando esse passo. O senhor já notou que o BNDES e a Caixa, que são nossos, públicos, a gente faz o que quer? (No) Banco do Brasil a gente não consegue fazer nada, e tem um liberal lá. Então, tem que vender essa porra logo”, opina.
Para embasar sua opinião, o ministro da Economia faz menção ao modelo de capital misto adotado pelo banco. Trata-se de uma união entre o Estado e acionistas de capital privado.
“O Banco do Brasil ‘não é tatu nem cobra’. O Banco do Brasil não é tatu nem cobra. Porque ele não é privado, nem público. Então se for apertar o Rubem, coitado... Ele é super liberal, mas se apertar ele e falar: ‘bota o juro baixo’, ele: ‘não posso, senão a turma, os privados, meus minoritários, me apertam.' Aí se falar assim: ‘bota o juro alto’, ele: ‘não posso, porque senão o governo me aperta’. O Banco do Brasil é um caso pronto de privatização”, insiste.
A reunião de 22 de abril teve o sigilo derrubado em maio pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello.