A situação de Clenilson é compartilhada por mais de um terço dos trabalhadores do município, desde que a principal engrenagem de sua economia reduziu as atividades – condição imposta pela pandemia do novo coronavírus. Segundo a prefeitura, o índice de desemprego em Confins, com pouco mais de 6,3 mil habitantes, é de 33%. Ainda de acordo com a administração municipal, nos últimos cinco meses, o número de famílias cadastradas em programas de auxílio da Secretaria de Assistência Social praticamente dobrou.
A queda no movimento do aeroporto também fez a arrecadação da cidade despencar. Valadares conta que os impostos gerados pelos serviços prestados no terminal – sobretudo o ISS, o Imposto sobre Serviços – respondem por 40% do PIB municipal. Com a diminuição dos voos, que chegou a 96% em abril, Confins perdeu 85% dessa receita. Neste mês, a BH Airport prevê a movimentação de 1,4 mil voos na base aérea – aumento de 75% em relação a junho, quando o número ficou em 800. É um crescimento modesto diante do fluxo pré-pandemia, que girava em torno de 9 mil viagens mensais, com 900 mil pessoas circulando pelos saguões. A expectativa da gestão do município, porém, é de que a pequena arrancada ajude a estancar a sangria das contas públicas e da economia local.
Receita pela metade
Na Praça Délio Jardim de Matos, Centro de Confins, o comércio chegou a ser fechado por 40 dias, mas funciona em expediente normal desde 7 de junho. Apenas bares, restaurantes e lanchonetes continuam restritos, com autorização para atender apenas no esquema delivery. Os lojistas da região avaliam que a retomada do setor de aviação não produzirá efeitos imediatos.
Rosilene Pereira, dona de restaurante, espera recuperar magros 10% do faturamento de seu negócio até o fim do mês. Desde o início da pandemia, ela diz que a receita da casa caiu pela metade. “Grande parte do meu movimento vinha de contratos que tinha com empresas terceirizadas do aeroporto. Elas pagavam para que os funcionários almoçassem aqui. Com a crise, isso acabou – até porque esses empregados foram demitidos. O aeroporto já está mais cheio, mas não vai voltar a contratar. Logo, eu não fecho contratos, entende? Esse aquecimento até dá uma animada, mas ainda não vai me tirar do atoleiro”, analisa a microempresária.
Proprietário de uma barbearia na Rua José Ribeiro Sobrinho, Eloi da Costa Pinto diz que, atualmente, usa mais a espreguiçadeira (onde se senta para esperar clientes) que a poltrona de barbear. “Muita gente sem dinheiro, se virando em casa mesmo. Atendo mais ou menos uns sete ou oito clientes fixos e fiéis. Mesmo assim, de vez em quando, penduro a conta!”, brinca.
A vendedora Larissa Souza, que trabalha numa loja de roupas, comemora a leve recuperação das vendas. “Eu senti uma melhora. Embora tenha dias que não vendo nada, fico à toa o dia inteiro. Antes da pandemia, não era assim. Mas sinto que, aos poucos, o pessoal está voltando. Até os clientes do aeroporto, que tinham sumido, voltei a atender”, comenta a jovem.
Ela teme, porém, que a mesma movimentação que gira o caixa do estabelecimento também acabe provocando o avanço da COVID-19 em Confins, e o consequente fechamento do comércio. “Tem muita gente que trabalha no aeroporto e mora aqui. Então, é um pouco complicado frear a contaminação. Temos poucos casos da doença, mas o quadro pode piorar. Com isso, a prefeitura ou a Justiça pode mandar fechar as lojas de novo. Passamos 40 dias sem funcionar e foi um desastre. Eu entendo que é uma questão de saúde, mas essa é a minha única renda. Fico com medo”, admite.
Sob controle
Com 20 casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus – dados do último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde na sexta-feira – a prefeitura considera que a pandemia está sob controle e diz que não tem planos de suspender as atividades comerciais na cidade. Confins, no entanto, não aderiu ao programa Minas Consciente, lançado pelo governador Romeu Zema (Novo) para coordenar a flexibilização no estado. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais determinou, em 9 de julho, que as localidades que não seguem a iniciativa devem manter apenas o comércio essencial funcionando. Os municípios têm até 29 de julho para cumprir a decisão.
O procurador-geral de Confins, Gustavo Valadares, diz que a gestão municipal prepara, junto à Associação Mineira de Municípios (AMN), uma defesa para apresentar à Justiça. Ele argumenta que as atividades econômicas em Confins não geram aglomerações. O dirigente também pretende sugerir uma reavaliação do Minas Consciente.
“Atualmente, as decisões são embasadas levando em conta o cenário das macrorregiões, mas as cidades têm realidades muito distintas. Nós, por exemplo, estamos colados em Contagem, mas não temos nem 10% dos casos de COVID-19 que eles têm lá. O Minas Consciente precisa considerar as microrregiões. Se não for assim, nossa situação aqui vai ficar bem crítica. A catástrofe econômica, aqui, já supera, e muito, a situação da pandemia. Esta está sob controle. A financeira, longe disso”, afirma.