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Estado de Minas COVID-19

Pandemia do coronavírus aquece venda de móveis no Brasil

Forçado a aperfeiçoar e-commerce, segmento colhe frutos da busca por conforto em casa. Alta procura provoca até escassez de matéria-prima


08/09/2020 06:00 - atualizado 08/09/2020 07:45

Fabricantes de colchões registram incremento de até 40% nas vendas durante a pandemia(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Fabricantes de colchões registram incremento de até 40% nas vendas durante a pandemia (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)

Diretor de uma rede de lojas de móveis e colchões, Marcos Flávio Andrade teve que aprimorar o comércio on-line e viu suas vendas crescerem. Donos de marcenarias, Andrey Souto e Joseli Magda Figueiredo passaram a enfrentar a falta de matéria-prima. Já Baltazar Mendes Felício teve que esperar mais tempo para instalar os novos armários em sua casa. Tudo porque houve elevação das vendas de móveis e eletrodomésticos, utensílios domésticos, colchões e da procura pelos serviços de marcenaria. O boom verificado no segmento em plena pandemia da COVID-19 é semelhante ao que ocorre no comércio de materiais de construção civil, mostrado em reportagem do Estado de Minas. E põe em evidência uma realidade que parece ter vindo para ficar: o relacionamento virtual com o cliente é essencial, seja por meio de sites, seja em redes sociais como WhatsApp e Instagram.

Não é por acaso que os empresários do segmento de móveis e marceneiros andam satisfeitos. De acordo com o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em junho, no meio da pandemia, o mercado de móveis e eletrodomésticos no país cresceu 30%, cita o professor Aloysio Afonso Rocha Vieira, do curso de Economia da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Ele ressalta que o setor foi impulsionado pelas vendas on-line, o chamado e-commerce, que alcançaram  alta acima de 50% durante o período mais rígido do isolamento social.

CEO de rede de lojas de móveis, Marcos Andrade conta que plataformas digitais tiveram que ser otimizadas (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
CEO de rede de lojas de móveis, Marcos Andrade conta que plataformas digitais tiveram que ser otimizadas (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)


No caso das lojas de móveis,  a suspensão do atendimento presencial fez com que empresários se adaptassem, otimizando o uso das plataformas digitais. O resultado foi aumento de vendas, com reflexos em toda a cadeia produtiva, elevando também a prestação de serviços de marcenaria e o consumo de matéria-prima.
 
"Em casa, o consumidor fez mais compras virtuais e buscou outros serviços digitais para atender suas necessidades básicas e manter uma rotina mais confortável em seu lar - móveis, cadeiras, utensílios domésticos. Ou seja: teve que se adaptar aos novos hábitos”, analisa Ana Paula Bastos, economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/ BH).

Ela destaca que os comerciantes de móveis e utensílios doméstico conseguiram manter o ritmo do negócio por meio do comércio virtual, que também foi assimilado pelos consumidores. O sucesso dos negócios on-line foi tamanho que o segmento registrou naquele mês aumento de vendas na capital maior que o de supermercados, que nunca pararam de funcionar, por serem classificados como essenciais, destaca a economista, com base no último indicador de Vendas do Varejo de Belo Horizonte, levantado pela CDL/BH. De acordo com Ana Paula, as vendas do comércio de eletrodomésticos cresceram 3,69% em junho na comparação com o mês anterior, à frente dos supermercados (2,97%) e de artigos diversos - material esportivo, brinquedos e eletrônicos (2,88%). 
 

Desafio


Para a economista da CDL/BH, com o isolamento social os consumidores tiveram “mais tempo para pesquisar preços”, fazer comparações e compras online. “Os consumidores tiveram que se adaptar a esta nova realidade e romperam barreiras. O empresário tem de fazer o mesmo: quebrar as barreiras para desenvolver, intensificar suas vendas on-line, pois isto já é uma tendência do novo comportamento de compra”, enfatiza.

Ana Paula avalia que o desafio persiste, mesmo com a flexibilização do comércio. “O empresário tem que conhecer o seu cliente, se relacionar com ele, estar nas redes sociais, ou seja, ter um marketing digital ou em uma loja virtual eficaz que o aproxime de seu cliente e crie um canal aberto com ele. Quem não levar seu modelo de negócio para a internet estará em grande desvantagem”, assinala a economista.

De vento em popa


Quem é do ramo comemora. CEO da fábrica e rede de comércio varejista Lojas Premium Colchões e também da Líder Interiores, de móveis e decoração, com 32 pontos de venda em Belo Horizonte, interior de Minas e outros estados, o empresário Marco Flávio Andrade atesta o bom desempenho do setor. No caso dos colchões, nos meses de março e abril, a empresa enfrentou uma queda no faturamento. “Mas de maio pra cá estamos batendo nossa meta, e, no acumulado do ano, o aumento de vendas já de quase 30%”, assegura Andrade.

O uso intenso de ferramentas tecnológicas tem sido desafiante “Tivemos que adaptar a nossa empresa para este momento de pandemia e usar cada vez mais as plataformas digitais para potencializar varejo e complementar as lojas físicas com a loja digital. Nesta retomada da economia, as empresas que já dominam o digital saíram na frente”, avalia Andrade. A presença na internet foi complementada com outras estratégias, como descontos, relata Andrade, referindo-se à indústria de colchões. Ele avalia que, nesse ramo, namorados que decidiram morar juntos durante a pandemia e casais passando mais tempo em casa “e dando mais valor ao lar” impulsionaram as vendas.

Mesmo movimento foi computado pelo gerente de logística da fábrica de colchões Orthomontes, de Montes Claros, no Norte de Minas, Fabrício Enrico Maciel de Campos. Segundo ele,  o faturamento cresceu cerca de 30%. A empresa fortaleceu as vendas de porta a porta, que já adotava, e recorreu ao e-commerce. Na Projeta Móveis, em Janaúba, também no Norte de Minas, a empresária Flávia Rodrigues Pereira registrou aumento acumulado de 45% nas vendas nos últimos seis meses. Animada com os bons resultados, ela anuncia a abertura de mais uma loja este mês em Montes Claros, cidade-polo da região. “Passei a usar mais as ferramentas das redes sociais, recorrendo ao WhatsApp e ao Instagram. Também tivemos que agilizar os prazos de entrega”, revela.

Vida nova


A advogada Isabela Mello Vianna, de Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, está entre os que reforçaram os negócios do setor.  Ela conta que estava com o casamento marcado para 24 de abril de 2021, mas decidiu adiantar a união e recorreu às compras on-line para montar a casa. 

História semelhante é vivida pela influenciadora digital Fernanda Barboza Brant, de Montes Claros, que antecipou o matrimônio. “A gente já tinha comprado uma casa. Estávamos pagando contas da casa, e meu marido ainda morava sozinho e eu com minha mãe. Tínhamos três contas fixas. Então, apressamos a união para ter umasó conta dividi-la”, relata. “Fizemos toda a parte de marcenaria, cozinha planejada, móveis da sala e a parte das cortinas. Montamos a casa inteira mesmo”, detalha. 
 

Pressão nas marcenarias


Marcenaria a todo vapor: materiais importados, como MDF, estão mais escassos e caros (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Marcenaria a todo vapor: materiais importados, como MDF, estão mais escassos e caros (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Durante a pandemia, os ventos também sopram a favor do ramo de marcenaria, onde a procura é tanta que clientes chegam a enfrentar atraso na entrega dos serviços e faltam matérias-primas. “Nossa demanda aumento cerca de 40%”, afirma Andrey Souto, dono de uma marcenaria em Montes Claros, no Norte de Minas. “Em casa, as pessoas perceberam melhor a necessidade de novo guarda-roupa, armário e outros móveis”, confirma a empresária. “A procura está tão grande que, às vezes, temos que dispensar serviço se o cliente está com muita pressa”, afirma o empresário Ricardo Figueiredo, marido de Joseli e que administra a empresa junto com a mulher. A procura inclui de pequenos serviços até trabalhos maiores, como cozinhas planejadas.

Entretanto, ao mesmo tempo que elevou a demanda, a pandemia dificultou acesso a materiais. “O problema é que o MDF (usado na fabricação de móveis e armários) vem da China e a importação está difícil por causa do próprio coronavírus”, afirma Andrey Souto. Segundo ele, desde o início da pandemia, o preço do MDF teve alta de 50%.

A pressão virou transtorno para consumidores. É o caso do empresário Baltazar Mendes Felício, de Montes Claros, que havia iniciado uma ampla reforma em sua casa antes da pandemia, agora atrasada em dois meses. Um dos motivos é justamente a falta de matéria-prima para finalizar os armários encomendados. Apesar do atraso, ele diz que não vai penalizar a construtora. “Diante da pandemia, todo mundo precisa ter bom senso”, defende.

Novos lares pedem mobília

 
Fernanda Brant antecipou casamento para driblar gastos e concentrou investimentos na casa nova (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Fernanda Brant antecipou casamento para driblar gastos e concentrou investimentos na casa nova (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
A advogada Isabela Mello Vianna, de Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, conta que estava com o casamento marcado para 24 de abril de 2021. Porém, com o surgimento da pandemia, ela e o noivo, o engenheiro civil Frederico Starling de Carvalho, decidiram antecipar a união e morar juntos. E o casal entrou para o grupo de consumidores que ajudaram a aquecer o mercado de móveis nos últimos meses, recorrendo ao e-commerce. E não se arrependeu. “Achei muito bom o atendimento”, diz a advogada.

História semelhante é vivida pela influenciadora digital Fernanda Barboza Brant, de Montes Claros, que antecipou para junho o matrimônio inicialmente previsto para o fim do ano. “A gente já tinha comprado uma casa. Estávamos pagando contas da casa, e meu marido (o empresário Victor Guimarães Oliveira) ainda morava sozinho e eu com minha mãe. Tínhamos três contas fixas. Então, apressamos a união para ter uma só conta dividi-la”, relata. “Fizemos toda a parte de marcenaria, cozinha planejada, móveis da sala e a parte das cortinas. Montamos a casa inteira mesmo”, detalha. “Como estamos ficando em casa, queríamos o lar pronto e confortável. Resolvemos investir logo para economia mesmo. Não deixamos nada para depois”, descreve.
 
A dentista Isadora Denucci Garcia César também decidiu encomendar serviços de marcenaria para reformar seu consultório após o isolamento social imposto pelo coronavírus. “Achei que a época da pandemia era o período mais tranquilo para cuidar da reforma e escolhi uma boa marcenaria para fazer um serviço de qualidade. Temos um público que gosta de uma sala bonita e confortável. Aí, durante a pandemia investi na reforma do consultório para estar preparada para o mercado de trabalho quando as coisas voltassem ao normal”, conta Isadora, que mora e trabalha em Montes Claros.

Quem teve que trabalhar em casa também reforçou as vendas de móveis e eletrodomésticos. “É natural que natural que (nessa situação) as pessoas observem mais as condições de sua moradia. Assim, além das reformas estruturais - da parte da construção -, outras necessidades surgem, como a substituição de móveis, aquisição de novos utensílios e equipamentos domésticos e até mesmo a parte de decoração”, observa o economista Aloysio Afonso Rocha Vieira, do curso de economia da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). “O consumo de plantas ornamentais também vem aumentando muito”, diz.


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