No carrinho de compras da cuidadora Laurilene de Castro, que foi nessa quinta-feira (10) ao supermercado com o marido Carlos Alberto Moreno, havia apenas um pacote de arroz de 5 quilos. A quantidade, segundo o casal, é insuficiente para alimentar toda a família, incluindo seis filhos e outros quatro parentes. O consumo total costuma alcançar, em média, 25 quilos do produto por mês. “É o que tem. Mesmo assim, esse pacote que estou levando, eu não comprei. Veio na cesta básica que recebemos da prefeitura e é entregue aqui no supermercado. Só vamos comer (arroz) porque tem na cesta”, conta a consumidora.
Na casa de Laurilene, o carro-chefe da refeição típica do brasileiro tem sido substituído por macarrão e até angu. “Por enquanto, estamos mais na base do angu com verdura. Óleo, também reduzimos bastante. Hoje, estamos levando cinco latas. O normal são 10 para o mês”, contou a cuidadora à equipe do Estado de Minas.
Na casa de Laurilene, o carro-chefe da refeição típica do brasileiro tem sido substituído por macarrão e até angu. “Por enquanto, estamos mais na base do angu com verdura. Óleo, também reduzimos bastante. Hoje, estamos levando cinco latas. O normal são 10 para o mês”, contou a cuidadora à equipe do Estado de Minas.
Na loja, onde o arroz era vendido pelo preço médio de R$ 22,90, a reportagem encontrou ao menos mais 8 famílias com estratégias semelhantes às de Laurilene e Carlos Alberto para se adaptarem à disparada dos preços dos alimentos. Para driblar os aumentos, o consumidor tem feito verdadeiros malabarismos, que vão da redução das compras dos produtos mais caros à substituição deles por opções que pressionam menos o orçamento familiar.
De janeiro a agosto, o arroz encareceu, em média, 19,25% no país, e 22,96% na Região Metropolitana de Belo Horizonte, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os reajustes estão totalmente descolados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor amplo (IPCA), indicador da inflação oficial no país, que foi 0,70% na média nacional e 0,58% em BH e entorno no mesmo período. Apenas em agosto, os gastos do consumidor com o óleo de soja subiram 9,48% no Brasil e 11,56% na Grande BH. Os dois produtos são influenciados pelo crescimento das exportações, e a consequente redução da oferta no mercado brasileiro, fator de pressão nos preços no varejo.
Na quarta-feira (9), o governo federal anunciou a isenção do Imposto de Importação sobre 400 mil toneladas de arroz estrangeiro, até dezembro, para tentar conter a alta dos preços no mercado interno, por meio da concorrência. A valorização do dólar, no entanto, que encarece os produtos importados, pode frustrar a iniciativa. O Ministério da Justiça notificou as redes de supermercados para explicarem a disparada dos preços dos alimentos. Como o EM mostrou, algumas redes de BH começaram a limitar a compra de arroz e óleo de soja por cliente.
Salada
A diarista Rosângela Maria manteve o arroz na lista de compras, mas diz que reduziu pela metade a quantidade de pacotes comprados pela metade. Produtos como óleo e feijão também sofreram cortes. “Imagine que eu não faço compras só para mim. Também ajudo a minha irmã, então são duas casas. O jeito é comer mais macarrão, inventar uns pratos. A coisa está feia”, comenta.A solução encontrada pela leiturista Renata Lopes foi a redistribuição dos gastos com os alimentos. Para manter o arroz e o leite no carrinho, o jeito foi cortar nas verduras, frutas e carnes. “Eu tenho filhos, então não posso deixar de comprar leite. E nem tanto o arroz, pois, na minha casa, a gente gosta. Então eu reduzi onde foi possível. Compro menos coisas no sacolão, substituí a carne, que também está caríssima, por torresmo. E assim vamos levando até essa onda passar”, detalha a consumidora.
A auxiliar de professora Liliane Pinheiro optou por estratégia oposta: trocou o arroz por verduras e legumes. “Na minha casa, somos oito pessoas.O prato, ultimamente, está bem verde, cheio de salada. É bom que emagrece!”, brinca.
Mesmo com preços altos, há quem não abra mão da boa e velha dupla arroz com feijão no cardápio. É o caso de Simeri da Costa. A auxiliar de serviços gerais conta que não enxugou cardápio, mas teme ter que fazê-lo em breve. “Está tudo pela hora da morte. Antes, com R$ 282 eu pagava essa mesma compra que fiz hoje. Gastei mais de R$ 350. Espero que isso passe logo”, queixa-se.
Queda à vista?
A boa notícia é que a inflação dos alimentos deve arrefecer em breve. Ao menos é o que prevê Sistema Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg). Segundo a entidade, os valores dos produtos alimentícios tendem a baixar nos próximos dias, embora não para o patamar anterior à pandemia. “O preço elevado estimula o consumidor a trocar os produtos que estão mais caros por outros mais baratos. Com esse movimento, os preços tendem a baixar. É essa a lógica do efeito de substituição e da regulação natural de mercado. Outro ponto de destaque seria a expectativa em relação às safras que estão sendo plantadas por agora, especialmente em Minas. Caso ela seja alta, os preços devem sofrer considerável redução, estima o presidente da Faemg, Caio Coimbra.
O dirigente explica que a inflação dos alimentos foi causada sobretudo por dois fatores. Em primeiro lugar, o aumento do consumo, causado pelo isolamento social, que confinou as pessoas em casa, obrigando-as a cozinhar com mais frequência. Depois, a exportações, fomentadas pelo dólar alto. “Com a pandemia, nós tivemos alguns problemas de insegurança alimentar em alguns países asiáticos, que começaram a consumir qualquer produto adquirido por meio da importação. Nos países que tem o arroz como um dos seus principais itens no prato, alguns tiveram problemas climáticos e, a partir daí, começaram a importar mais”, esclareceu o presidente.
“Com o dólar alto e a demanda do mercado externo aquecida, o Brasil começou a exportar o grão. Nós exportamos 582 mil toneladas de janeiro a julho de 2019 e quase o dobro no mesmo período de tempo deste ano. Isso, certamente, fez com que o produto ficasse mais caro para o consumidor final aqui no mercado interno”, completa.