O Banco Central (BC) fez novas projeções macroeconômicas considerando cenário com "câmbio estável" para este ano e o próximo, minimizando os riscos de uma piora no quadro fiscal que poderia pressionar mais o dólar e forçar um ciclo de alta na taxa básica de juros (Selic). Para o presidente do BC, Roberto Campos Neto, "o pior já passou".
"Olhamos os balanços de riscos e entendemos, como foi mencionado, que o pior efeito da pandemia ficou para trás, o que aponta para uma retomada”, disse Campos Neto, nesta quinta-feira (24/09), durante a apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), ao ser questionado se a autoridade monetária considera um cenário mais turbulento para o câmbio. Ele ainda afirmou que o BC tem "absoluta tranquilidade" em relação à inflação.
Otimismo
No documento, o BC revisou de 6,4% para 5% a estimativa de queda do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e previu alta de 3,9% no PIB de 2021, taxa acima da mediana do mercado, de 3,5%. “Em relação às projeções de crescimento, a gente pode ver o processo de retomada, que indica que a expansão do PIB brasileiro está acima da média dos mercados emergentes”, disse o ministro.
Campos Neto reconheceu que o processo de recuperação começou em V, mas a tendência é que essa taxa de crescimento “tenderia a amenizar”. “Olhando os dados de consumo e varejo, a gente vê retomada mais forte no Brasil do que nos mercados emergentes, mostrando que os programas feitos para reduzir o impacto da crise tiveram efeito”, acrescentou.
Em sua apresentação, o ministro reforçou a análise de cenários para a inflação apresentada na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), destacando que as projeções para o índice de preços, no cenário básico, estão “suficientemente próximas da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária, que atualmente inclui o ano calendário de 2021 e, em grau menor, o de 2022”.
“Essa intenção é condicional à manutenção do atual regime fiscal, à ancoragem das expectativas de longo prazo”, adicionou. Em relação à questão de manutenção do regime fiscal, o ministro foi taxativo: “Não estamos dispostos a correr riscos inflacionários oriundos de questões fiscais”, afirmou ele, acrescentando que esse fator retira o “forward guidance” (prescrição futura), instrumento adicional de política monetária que o BC passou a usar para manter a taxa básica de juros (Selic) no patamar atual.
Na semana passada, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a Selic em 2% ao ano, menor patamar da história, após um ciclo de nove reduções consecutivas. As projeções de inflação desde ano passaram de 1,9% para 2,1%, abaixo do piso de 2,5% para a meta deste ano, cujo centro é de 4%. Para 2021, considerando Selic e câmbio constantes, o indicador de preços chegaria a 3% no quarto trimestre, abaixo da do centro meta de 3,75%.