A vice-presidente e analista sênior do rating do Brasil na Moody’s Investors Service, Samar Maziad, disse ontem que a agência de classificação de risco espera algum avanço na agenda de reformas ainda este ano ou no começo de 2021, como forma de enfrentar os efeitos gerados pela pandemia, como a rápida elevação da dívida pública.
"O importante é que avancem", disse ela, acrescentando que o atual rating do País - anunciado em maio - já considerava um aumento da dívida para fazer frente aos gastos extraordinários com a pandemia. Mas também previa um esforço para retomar o ajuste fiscal a partir do próximo ano.
"A manutenção do rating incorpora esse aumento (de gastos), mas também prevê a retomada do ajuste fiscal em 2021", disse Samar, em evento organizado pela agência. "Se o apoio a reformas diminuir, haverá impacto negativo em nosso cenário."
Pelos critérios usados pela Moody’s, a chamada nota de crédito soberano do Brasil é de "Ba2", com perspectiva "estável". O País está dois graus abaixo do piso para voltar a ser considerado grau de investimento - indicação importante para investidores estrangeiros na hora de distribuir seus recursos.
O Brasil conquistou pela primeira vez o grau de investimento em 2008. Sete anos depois, a S&P; foi primeira a tirar o selo de bom pagador, seguida por Fitch e depois por Moody’s.
A Moody’s projeta que a relação entre dívida pública bruta e Produto Interno Bruto (PIB), que era de 75,8% em 2019, supere os 97% no próximo ano. "Esperamos que o crescimento econômico se recupere em 2021. Contudo, as reformas estruturais e o ajuste fiscal serão importantes para o Brasil conseguir um crescimento sustentável", afirmou a analista. Ela acrescentou que espera a manutenção do teto de gastos, regra que condiciona o nível de gastos à evolução da inflação. "O teto de gastos é a principal âncora fiscal do Brasil."
Sobre a manutenção de estímulos extraordinários, como o auxílio emergencial, ela disse que dentro do teto de gastos há espaço limitado para aumentar despesas. Assim, a ideia do ministro da Economia, Paulo Guedes, de unificar programas sociais pode requerer medidas compensatórias.
Também presente no evento, o diretor do ASA Investments e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, afirmou que, nas últimas duas semanas, ficou "mais animado" com a perspectivas de que o teto de gastos não será ultrapassado.
Segundo Kawall, após alguns sinais do governo sobre o financiamento do Renda Cidadã, a reação negativa dos mercados foi percebida pela equipe econômica, que voltou a reforçar que a regra será mantida. "A sinalização é de que o governo vai respeitar o teto para financiar programas sociais."
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