Quem pensa em aproveitar a Black Friday para garantir o churrasco pode ter o desejo frustrado. A picanha, a cerveja e até os ingredientes do vinagrete, mero coadjuvante do evento, devem ser oferecidos com descontos mais modestos neste período de liquidações, que começa em 27 de novembro. A previsão é de economistas e empresários do setor de supermercados.
Especialmente as carnes, que acumularam alta de até 40% entre janeiro e outubro, segundo pesquisa divulgada na quarta-feira (21) pelo Mercado Mineiro. Nem as hortaliças escaparam dos aumentos, que ultrapassaram 100% entre setembro e outubro.
O economista Feliciano Abreu, diretor do Mercado Mineiro, explica por que nem a mais poderosa tesoura do capital será capaz de cortar as asas do dragão desta vez.
De acordo com o analista, a Black Friday é, por excelência, data de desova de produtos encalhados no estoque dos comerciantes que, na última sexta-feira de novembro, reduzem os preços para acelerar as vendas e, assim, adquirir mercadorias novas para renovar as vitrines para o Natal.
De acordo com o analista, a Black Friday é, por excelência, data de desova de produtos encalhados no estoque dos comerciantes que, na última sexta-feira de novembro, reduzem os preços para acelerar as vendas e, assim, adquirir mercadorias novas para renovar as vitrines para o Natal.
Os supermercados, porém, costumam acumular poucos estoques, pois vendem sobretudo itens de primeira necessidade, que são de alto giro.
“O supermercadista, portanto, não tem muitos produtos comprados antes da pandemia para queimar. Se, na última Black Friday, ele conseguia vender uma picanha a menos de R$ 28 reais e uma cerveja premium por R$ 4, por exemplo, hoje, é improvável que ele consiga fazer isso, pois o preço de custo desses artigos deve estar bem próximo disso”, pondera Abreu.
“O supermercadista, portanto, não tem muitos produtos comprados antes da pandemia para queimar. Se, na última Black Friday, ele conseguia vender uma picanha a menos de R$ 28 reais e uma cerveja premium por R$ 4, por exemplo, hoje, é improvável que ele consiga fazer isso, pois o preço de custo desses artigos deve estar bem próximo disso”, pondera Abreu.
Dos vinhos ao arroz com feijão de cada dia, esclarece o economista, pouquíssimos alimentos foram poupados da alta dos preços. Um dos principais fatores de pressão é a valorização do dólar, moeda em que são negociados insumos usados na fabricação de vários mantimentos.
Outro é o aumento das exportações. Com a pandemia da COVID-19, a produção de muitos países foi severamente afetada, o que levou o Brasil a bater recordes no comércio exterior.
Entre vender para o mercado interno e exportar para a China, por exemplo, que paga em dólar, os produtores têm feito a segunda opção, provocando redução da oferta de mercadorias e consequente subida de preços. É o velho jogo da oferta e procura.
Entre vender para o mercado interno e exportar para a China, por exemplo, que paga em dólar, os produtores têm feito a segunda opção, provocando redução da oferta de mercadorias e consequente subida de preços. É o velho jogo da oferta e procura.
“Para piorar, a corrida aos supermercados aumentou muito durante a pandemia, já que as pessoas passaram a ficar mais em casa. O consumo nos bares, restaurantes e eventos, fechados por vários meses, em grande parte, migrou para esses estabelecimentos. Temos, portanto, um dos poucos segmentos que cresceram nos últimos nove meses. Então, digamos que este não é um setor que está desesperado atrás do consumidor, disposto a fazer loucuras para atraí-lo”, avalia o economista.
CONCORRÊNCIA
Números divulgados pela Associação Mineira de Supermercados (AMIS) em 18 de agosto parecem corroborar esta percepção. Segundo a entidade, o setor supermercadista de Minas encerrou o primeiro semestre deste ano com incremento de 9,34% nas vendas. Conforme a Amis, toda a cesta de compras apresentou demanda elevada nos supermercados.
Para o empresário Gilson de Deus, no entanto, a situação não é tão confortável. “Não a ponto de podermos dispensar clientes”, argumenta o dono do Supermercado 2B, situado no Bairro Prado, Região Oeste de Belo Horizonte
“Se, por um lado, passamos a vender mais com a pandemia, por outro, a concorrência aumentou. Em toda esquina, agora, se vê um supermercado novo. A Black Friday acaba virando uma batalha de descontos entre as empresas, a fim de conquistar o freguês”, diz o supermercadista.
“Se, por um lado, passamos a vender mais com a pandemia, por outro, a concorrência aumentou. Em toda esquina, agora, se vê um supermercado novo. A Black Friday acaba virando uma batalha de descontos entre as empresas, a fim de conquistar o freguês”, diz o supermercadista.
Ele admite, no entanto, que os descontos dessa semana de oferta serão menos agressivos em relação a 2019. “Ano passado, conseguimos baixar até 30% do valor. Esse ano, as margens já estão muito pressionadas. Na média, os descontos vão ficar em torno de 15% e 20%”, afirma o empreendedor.
Entre os produtos que devem ter maior abatimento, ele cita sucos, leite, queijos e vinhos, com reduções de até 20%. “Na véspera da Black Friday, o fornecedor também costuma baixar os preços. Nesse caso, repassamos esse abatimento ao consumidor, o que amplia as promoções. Muito em breve, teremos dimensão de como isso vai ser”, diz Gilson de Deus.