Se o encarecimento dos alimentos foi o principal responsável pela aceleração da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em outubro, os gastos com transportes agravaram o movimento. O grupo Transportes subiu 1,19% em outubro, contribuindo com 0,24 ponto porcentual (p.p.) da alta agregada de 0,86% no IPCA de outubro, informou nesta sexta-feira, 6, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A inflação dos transportes foi marcada pela recomposição de preços de passagens aéreas, após as fortes quedas nas tarifas dos aviões nos primeiros meses da pandemia de covid-19. Em outubro, as passagens aéreas ficaram 39,83% mais caras, contribuindo, isoladamente, com 0,12 p.p. do avanço agregado do IPCA. Segundo o IBGE, esse foi o item com maior impacto individual de alta.
Mesmo assim, no acumulado do ano, as tarifas de aviões ainda acumulam queda de 37,31%, por causa dos fortes recuos de meses passados. Pedro Kislanov, gerente do IPCA, lembrou que, pela metodologia do IBGE, os preços das passagens foram coletados em agosto, para viagens em outubro.
Além das passagens, a segunda maior contribuição de alta no grupo (0,04 p.p.) veio da gasolina, cujos preços subiram 0,85%, desacelerando em relação à alta de 1,95% observada no mês anterior. Outro destaque, segundo o IBGE, foi o seguro voluntário de veículo, com aumento de 2,21%, após sete meses consecutivos de quedas.
Alimentação
Sozinho, o grupo Alimentação e bebidas respondeu quase pela metade do avanço agregado do IPCA, com alta de 1,93%, resultando em impacto de 0,39 ponto porcentual (p.p.) no total, segundo dados do IBGE.
Houve desaceleração na inflação de alimentos. Em setembro, o grupo Alimentação e bebidas havia subido 2,28%. Mesmo assim, no ano, o grupo já acumula alta de 9,37%, enquanto, no acumulado de 12 meses, a taxa já está em 13,88%.
Segundo o IBGE, a desaceleração na passagem de setembro para outubro ocorreu principalmente em função de altas menos intensas em alguns alimentos para consumo no domicílio (que avançou 2,57%), como o arroz (13,36%) e o óleo de soja (17,44%). As variações no mês anterior haviam sido de 17,98% e 27,54%, respectivamente.
Ainda assim, arroz e óleo de soja são os principais responsáveis pela pressão recente da inflação de alimentos, que têm puxado a inflação nos últimos meses, disse Pedro Kislanov. No ano, esses produtos acumulam altas de 59,48% e 77,69%, respectivamente.
Segundo o pesquisador, a dinâmica de preços desses itens é influenciada principalmente por movimentos no lado da oferta, com o câmbio depreciado incentivando as exportações e levando à redução da disponibilidade de soja e arroz no mercado doméstico. "E teve o auxílio emergencial, que ajuda a sustentar esses preços em patamar elevados", afirmou Kislanov.
Apesar da "ajuda" dos auxílios emergenciais pelo lado da demanda, o pesquisador do IBGE evitou definir o quadro como marcado por pressões de demanda. Segundo Kislanov, ainda não é possível ver, pelo IPCA de outubro, efeitos da redução do valor do auxílio para trabalhadores informais, de R$ 600 para R$ 300 mensais.
As carnes subiram 4,25% no IPCA de outubro, com impacto positivo, isoladamente, de 0,11 p.p. no índice agregado. A variação ficou ligeiramente abaixo dos 4,53% de setembro, mas houve aceleração da alta de preços de alguns alimentos em outubro. A alta no preço do tomate (18,69%) foi maior que em setembro (11,72%) e itens cujos preços haviam recuado no mês anterior, como as frutas (-1,59%) e a batata-inglesa (-6,30%), registraram alta em outubro (de 2,59% e 17,01%, respectivamente). No lado das quedas no IPCA de outubro, o IBGE destacou a cebola (-12,57%), a cenoura (-6,36%) e o alho (-2,65%).
Já a alimentação fora do domicílio passou de 0,82% em setembro para 0,36% em outubro, influenciada principalmente pelas altas menos intensas da refeição (0,41%) e do lanche (0,42%), que haviam subido 0,66% e 1,12%, respectivamente, no mês anterior, informou o IBGE.
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