Após o impacto causado no segmento pelo caso da contaminação de produtos da cervejaria Backer e agravado pela pandemia, empreendedores do setor cervejeiro artesanal em Minas se unem e criam uma cooperativa. O grupo, formado inicialmente por 25 produtores, começa a buscar adeptos junto às diversas associações do ramo. De acordo com a Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Ocemg), para constituição de uma cooperativa é necessário reunir pelo menos 20 pessoas físicas.
O caso Backer, segundo um dos idealizadores da cooperativa, administrador e diretor-executivo da CoopCerva, Sandro Luiz de Sá Souza, foi um momento ruim para esse nicho de negócios, uma vez que a empresa começava a quebrar paradigmas. Com seu crescimento, a empresa chamou a atenção de consumidores para os produtos artesanais, que começaram a perceber que havia uma infinidade de estilos.
"Foi um abalo no mercado", observa Sandro. "Num primeiro momento gerou desconfiança e resistência do consumidor." O avanço das investigações e a ampla repercussão do caso também produziram novas informações, demonstrando que essas cervejarias têm critérios, obedecem a regulamentações e determinações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por se tratarem de indústria de alimentos. O resultado é que essa lacuna no mercado, estimada em 1 mihão de garrafas por mês, proporcionou a entrada de outras marcas. "Hoje vemos uma diversidade de tipos de cervejas artesanais nas gôndolas de supermercados."
Um dos primeiros passos será levantar a discussão sobre critérios que identifiquem o ramo artesanal, como limites de produção, percentuais de itens artesanais, e posteriormente a definição também das categorias premium e especial. "Não existia a figura jurídica a defender esse conceito. Muitas que se apresentam artesanais têm escala industrial", explica Sandro de Sá. A criação de um selo de classifcação para cervejas artesanais está em discussão junto à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).
O órgão público informou que uma equipe apresentou o programa de certificação do Governo de Minas (Certifica Minas) ao setor de cervejas artesanais e está aguardando a manifestação de interesse dos representantes. "A partir de uma manifestação positiva, será montada uma comissão técnica na Secretaria de Agricultura para o estudo de viabilidade da implantação do selo."
Paralelamente, também foi constituído o Centro Cultural da Cerveja, que funcionará na Avenida Olegário Maciel, no Bairro de Lourdes, Região Centro-Sul de BH, uma sociedade por cotas de participação (SCP), onde a cooperativa adquiriu cotas para gerar recursos, permitindo futuramente a sustentabilidade da entidade, além de oferecer planta cervejeira a ser utilizada para produção própria ou de cooperados.
O diretor-executivo da CoopCerva explica que basicamente a cooperativa oferecerá aos cooperados meios de fomentar o mercado cervejeiro mineiro. "O que víamos era um certo individualismo em um mercado que cabe todos. Agora, poderemos nos fortalecer e, unidos, comprar insumos, vasilhames em escala, como também equipamentos, uma vez que as cooperativas contam com alguns benefícios tributários, o que torna mais rentável, sustentável e promissor este ramo."
Cadeia produtiva
A cooperativa também promete movimentar a cadeia produtiva e já investe em entendimentos com produtores de lúpulo no Brasil, um mercado ainda incipiente. Segundo Sandro Souza entre 88 e 92% desse insumo é importado." A parceria com esse setor no Brasil nos permitirá adquirir um produto mais fresco o que proporcionará uma cerveja com aroma e sabor diferenciados." A proposta também é intermediar entre produtores com equipamentos ociosos e pequenos que querem expandir seus negócios, mas não contam com capital para ampliar a área e compra de equipamentos de produção. Um espaço no bairro Bonfim, ponto de fácil acesso aos principais corredores viários da Capital, funcionará como central de estoques e distribuição da cooperativa.
Idealizada em 2019 por Luiz Henrique Balbino, servidor público de regulamentação urbana, e Sandro Luiz de Sá Souza, empreendedor e administrador, a cooperativa levou um ano para sair do papel. O propósito, segundo os criadores, é desenvolver parcerias junto aos maiores e mais importantes players do mercado cervejeiro para compra e venda de insumos (malte, lúpulo, levedura) e produtos (garrafas, latas, caixas de papelão, tampinhas, barris).
A cooperativa oferece soluções de logística para os cooperados e para o mercado cervejeiro como hospedagem e distribuição de barris e produtos acabados. A ideia também é constituir pontos de venda (denominados PDVs) para os cooperados através da instalação de "Stations" (choppeiras de auto-serviço) em vários pontos da cidade e do estado. A CoopCerva tem canal no Instagram @Artinbrewing para divulgação e postagens, tanto da cooperativa quanto do Centro Cultural Cervejeiro.