A produção de ovos de galinha bateu recorde histórico, chegando a 1,01 bilhão de dúzias no terceiro trimestre deste ano. É o melhor resultado desde 1987. Houve aumentos de 3,8% na comparação com o mesmo período de 2019 e de 3,6% frente ao apurado no segundo trimestre de 2020. Os dados são das Pesquisas Trimestrais da Produção Pecuária, divulgadas hoje (10/12) pelo IBGE.
Com os preços das carnes em alta, a procura de alternativas de proteína animal se reflete também no preço final nas prateleiras. Já houve reajuste expressivo do preço médio do ovo de galinha neste mês. Segundo o IBGE, o preço médio subiu 3,53% em novembro na Grande BH, frente à inflação de 0,95%, e no Brasil, encareceu 3% ante o IPCA de 0,89%.
De acordo com o supervisor das pesquisas, Bernardo Viscardi, o aumento na produção de ovos reflete uma mudança no consumo das famílias. “A alta no preço das carnes, registrada ao longo do terceiro trimestre, tende a fomentar o consumo de ovos de galinha, por se tratar de uma fonte de proteína mais acessível”, diz ele, detalhando que o pico de produção ocorreu em agosto, quando foram contabilizadas 338,76 milhões de dúzias.
Comerciante que atua no setor há 20 anos, Emerson Marcelo Oliveira, da Casa Paraíso dos Ovos, no Mercado Central de Belo Horizonte, diz que a tendência é de aumento de preços em dezembro. "É um mês que registra maior abate de frangos, com a proximidade das festas e confraternizações de Natal e passagem do ano. As galinhas poedeiras botam um ovo por dia, no primeiro ano, depois passam dia sim e dia não, o que significa prejuízo." De acordo com o comerciante, os insumos e rações subiram muito de preço, mas diz que não "sentiu maior procura".
Durante o período mais crítico de isolamento social, houve uma baixa, explica Emerson. Com os restaurantes fechados, a mercadoria chegou a sobrar nas bancas. Com a flexibilização das medidas de distanciamento social, a procura aumentou pouco. "Vendo mesmo é no varejo, mas forneço também a padarias, que compram em maior quantidade."
“A maior demanda das famílias por proteínas mais acessíveis também impulsionou o desempenho do abate de frangos, que se aproximou do patamar recorde atingido no primeiro trimestre de 2020, período em que os efeitos da pandemia ainda estavam no início. Os três estados do Sul lideram o setor: Paraná, com 32,9% da participação nacional, seguido por Rio Grande Sul (14,0%) e Santa Catarina (13,5%)”, observa Bernardo Viscardi.
Entre os rebanhos, o abate de frangos atingiu 1,51 bilhão de cabeças no terceiro trimestre, aumento de 2,8% em relação ao mesmo período de 2019 e de 7,0% na comparação com o segundo trimestre de 2020. No comparativo mensal, foi registrado o melhor julho de toda a série histórica, que começa em 1997.
Abate de suínos também cresce
O abate de suínos também cresceu, alcançando o novo recorde de 12,71 milhões de cabeças no 3º trimestre de 2020, o que representa aumentos de 8,1% em relação ao mesmo período de 2019 e de 4,5% na comparação com o 2° trimestre de 2020. Esse é maior resultado da série histórica, com destaque para os meses de julho e agosto, que registraram os maiores níveis da atividade.
“Os meses mais frios do ano, geralmente, coincidem com o aumento do abate desse animal, impulsionado pelo aumento do consumo interno. Além disso, o desempenho recorde das exportações de carne suína no período também contribuiu com o resultado do setor”, explica o analista do IBGE.
Por outro lado, o abate de bovinos continuou caindo no 3º trimestre. Foram 7,69 milhões de cabeças, quantidade 9,5% inferior à obtida no 3° trimestre de 2019, mas 4,6% acima da registrada no 2º trimestre de 2020. Foi o menor resultado para um 3º trimestre desde 2016. Na comparação mensal, agosto apresentou a maior queda em relação à 2019, com menos 12,4% de cabeças abatidas.
“A queda no abate de bovinos vem desde o início do ano, principalmente por conta da restrição da oferta de fêmeas pelos pecuaristas. Apesar da retração da atividade na comparação anual, nos meses de julho e agosto foram verificados recordes para a exportação de carne bovina, mesmo produzindo menos internamente”, acrescenta Bernardo Viscardi.
Aquisição de leite chega a 6,45 bilhões de litros, maior volume da série
A aquisição de leite cru também foi recorde, com 6,45 bilhões de litros coletados no 3º trimestre. Só em agosto foram captados 2,18 bilhões de litros de leite. O resultado representa um aumento de 2,6% em relação ao 3° trimestre de 2019, e alta de 10,7% em comparação com o 2º trimestre de 2020. É o maior volume desde 1997, início da série histórica.
“Isso mostra uma recuperação do período do isolamento social, quando a alimentação fora do domicílio ficou restrita devido ao coronavírus. O consumo de queijo e outros laticínios, que ajudam a movimentar esse mercado, está muito relacionado à alimentação fora de casa”, afirmou Viscardi.
O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin disse que trabalhar em ano de pandemia exigiu grande esforço. "Não mudamos em nada com os cuidados. 2020 foi um ano que o setor trabalhou para não deixar faltar alimento para os brasileiros, com muito esforço e chegamos ao final do ano com a produção 'andando' e ajudando na imunidade através da nutrição, com proteína de qualidade."
Indústria do couro sentiu o impacto da pandemia
Os curtumes declararam ter recebido 8,19 milhões de peças de couro bovino, uma redução de 4,6% em relação ao adquirido no 3° trimestre de 2019 e alta de 11,9% frente ao 2° trimestre de 2020. O mês de maior aquisição foi julho, quando foram registradas 2,84 milhões de peças. A Pesquisa Trimestral do Couro investiga apenas os curtumes que efetuam curtimento de pelo menos 5 mil unidades inteiras de couro cru bovino por ano.
“O desempenho do couro acompanha o abate de bovinos. O isolamento social afetou muito a exportação couro, que ainda vinha enfrentando uma desvalorização por conta da concorrência com a fibra sintética”, conclui o analista.