Turbinadas pelo aumento nas concessões de crédito e pelo pagamento do auxílio emergencial, o volume vendido pelo comércio varejista alcançou novo nível recorde em outubro. As vendas cresceram 0,9% em relação a setembro, a sexta taxa positiva consecutiva, segundo dados da Pesquisa Mensal de Comércio, iniciada em janeiro de 2000 pelo IBGE.
Passado o período mais agudo da crise provocada pela pandemia de covid-19, o varejo acumulou um avanço de 32,9% desde maio, informou o IBGE ontem 10. Foi o terceiro mês seguido em que as vendas vêm alçando níveis recordes.
"Vemos que a economia está se recuperando em V, mas o dado não altera a preocupação e a incerteza no ano que vem quando os estímulos forem sendo retirados. A recuperação neste ano é em grande parte decorrente dos estímulos fiscais, de crédito e monetário que foram injetados na economia, que não vão poder ser mantidos nos níveis atuais no ano que vem", avaliou o estrategista-chefe na América Latina do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
O volume vendido já está 8,0% acima do patamar de fevereiro, no pré-pandemia. O varejo ampliado, que inclui os setores de veículos e material de construção, cresceu 2,1% em outubro ante setembro e já está 4,9% acima do nível pré-pandemia.
PIB menos ruim
A recuperação mais forte que o previsto é compatível com uma contração menos aguda do PIB em 2020, de 3,50%, calculou o economista Alexandre Almeida, da corretora CM Capital.
"Esses dados tendem a puxar o PIB. Vão contribuir com um crescimento substancial, inclusive porque existe uma sazonalidade positiva de fim de ano, de compra de alimentos, móveis. É uma época na qual você costuma observar um crescimento substancial", justificou Almeida, que espera crescimento no varejo nos últimos dois meses do ano.
Uma sequência de seis meses seguidos de avanços nas vendas varejistas não era vista desde 2013. "Mais de 80% das empresas relataram variação positiva nas vendas em outubro. Antes as variações positivas estavam muito concentradas nas vendas das grandes empresas. As pequenas empresas agora começaram a ter variação positiva mais distribuída", apontou Cristiano Santos, analista da pesquisa do IBGE.
O cenário mais positivo fez a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) aumentar a projeção de crescimento para o varejo este ano: de 1,9% para 2,3%. A perspectiva de um desempenho melhor da atividade econômica em 2021 em um ambiente de juros ainda historicamente baixos devem fazer o comércio varejista ter um avanço de 4,2% no ano que vem, calculou o economista Fabio Bentes, da CNC.
Segundo o analista do IBGE, O avanço nas concessões de crédito para pessoas físicas, com taxas de juros mais baixas, compensou a perda de potência do auxílio emergencial, que teve o valor reduzido de R$ 600 para R$ 300 a partir de setembro.
Para ele, o que impediu uma alta maior no volume de vendas do comércio varejista foi a inflação de alimentos, que prejudica o desempenho dos supermercados. A atividade de supermercados teve uma elevação de 2,7% na receita nominal de vendas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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