Os movimentos de
empoderamento
e afirmação das pessoas de pele preta vêm ganhando força em todo o mundo e chamando a atenção do mercado brasileiro. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (
IBGE
), em pesquisa realizada entre os anos de 2015 e 2018, o grupo de pessoas que se declararam pretas ou pardas foi o único que cresceu.
Em 2019, essa parcela da população já representava mais de 56% dos brasileiros, dos 209,2 milhões de habitantes do país, 19,2 milhões se assumiram como pretos e 89,7 milhões pardos.
Em 2019, essa parcela da população já representava mais de 56% dos brasileiros, dos 209,2 milhões de habitantes do país, 19,2 milhões se assumiram como pretos e 89,7 milhões pardos.
Dados coletados em estudo “
Empreendedorismo negro no Brasil
”, realizado pela aceleradora de empresários negros PretaHub, da Feira Preta, em parceria com a Plano CDE e o JP Morgan, empreendedoras e empreendedores negros movimentam R$ 1,7 trilhão por ano no Brasil e mais da metade – cerca de 51% dos brasileiros que empreendem – são pretos ou pardos. Destes, 52% são mulheres.
Empreendedores atentos às novas tendências de
mercado
têm investido em negócios especializados em atender às necessidades de homens, mulheres e crianças da raça negra.
E entre os empreendimentos mais promissores estão indústrias e estabelecimentos comerciais especializados em produtos cosméticos e acessórios voltados para o segmento.
E entre os empreendimentos mais promissores estão indústrias e estabelecimentos comerciais especializados em produtos cosméticos e acessórios voltados para o segmento.
O setor de beleza é o que mais tem investido em produtos para pessoas negras. São itens para cabelo, maquiagem e acessórios, salões especializados nos cuidados com o cabelo e a pele negra, entre outros, que têm ganhado força.
“No meu tempo, se a gente quisesse usar um shampoo, só tínhamos como opção o que todo mundo usava. Você só conseguia escolher entre shampoos para cabelo seco, oleoso ou misto. Agora não, tem quase tudo personalizado para meu tipo de cabelo e meu tom de pele. Isso é maravilhoso, mas ainda falta muito para se chegar ao ideal”, comenta a professora Márcia Lúcia da Silva.
“No meu tempo, se a gente quisesse usar um shampoo, só tínhamos como opção o que todo mundo usava. Você só conseguia escolher entre shampoos para cabelo seco, oleoso ou misto. Agora não, tem quase tudo personalizado para meu tipo de cabelo e meu tom de pele. Isso é maravilhoso, mas ainda falta muito para se chegar ao ideal”, comenta a professora Márcia Lúcia da Silva.
Patrícia Kelly dos Santos é mestre em química e há 15 anos trabalha com cabelos blacks, um aprendizado que iniciou com as amigas africanas que conheceu na Universidade Federal de Viçosa (UFV), onde se formou. Hoje ela é proprietária da Niari Cosméticos, em sociedade com Elissandra Flávia dos Santos, cujos produtos são de fabricação própria.
A trajetória profissional da Patrícia começou aos 12 anos, trabalhando como doméstica em casas de família. “Aos 16 anos, passei a me envolver com o empreendedorismo. Produzi e vendi doces e atuei no setor de confecção de roupas, com minha irmã. Mas, para nós, mulheres e negras, empreender não é algo tão fácil. Então, fomos estudar”, conta.
''Alguns estudos têm mostrado que o poder de compra do negro está crescendo. Por isso, investir em negócios que possam suprir mais e melhor a necessidade desse grupo de pessoas pode ser algo bastante promissor''
Leonardo Mól, gerente da Regional Centro-Oeste e Sudoeste do Sebrae Minas
Ao concluir a faculdade, ela retornou a Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, e passou a lecionar. “Nos fins de semana, trabalhava com penteados afro. A demanda cresceu tanto que resolvi abandonar a carreira de professora para me dedicar à beleza negra, porque isso fazia mais sentido para mim”, diz.
Foi por meio do incentivo de um amigo que trabalhava com cosméticos que ela começou a fabricar produtos químicos voltados para pessoas pretas. “É muito difícil encontrar algo que realmente nos represente. E assim passei a associar esse trabalho com meu salão”, recorda.
Foi por meio do incentivo de um amigo que trabalhava com cosméticos que ela começou a fabricar produtos químicos voltados para pessoas pretas. “É muito difícil encontrar algo que realmente nos represente. E assim passei a associar esse trabalho com meu salão”, recorda.
Consciência
Segundo a ativista e cantora Yêda Labrunie, o crescimento de negócios destinados a esse público se deu pelo fato de o povo preto estar ganhando mais força e consciência para assumir de fato sua raça, por meio de trabalhos realizados por diversos movimentos pretos. “Uma prova disso é que o preto está assumindo mais seu cabelo, entendendo que somos bonitos como somos”, diz Labrunie.
“Alguns estudos têm mostrado que o poder de compra do negro está crescendo. Por isso, investir em negócios que possam suprir mais e melhor a necessidade desse grupo de pessoas pode ser algo bastante promissor”, observa o gerente da Regional Centro-Oeste e Sudoeste do Sebrae Minas, Leonardo Mól.
Patrícia reforça o quanto é importante ter um produto ou serviço voltado para um público-alvo. “Todos os públicos têm um produto específico para eles e nós, negros, ainda não somos nem considerados como público. Por isso, esse mercado ainda é muito pequeno”, explica.
Carla Caroline dos Santos é irmã da Patrícia e proprietária de uma loja em Divinópolis. Ela vende cabelos e acessórios como brincos, tiaras, apliques, turbantes e cosméticos. A loja é muito movimentada e as vendas não pararam nem mesmo no auge de pandemia.
“Nosso maior público, sem dúvida, são mulheres pretas. A maioria delas está passando ou já passou pelo processo de transição, que consiste em assumir o “black “, seu cabelo natural. Quando tivemos que fechar a loja na onda vermelha da pandemia, as vendas on-line e delivery bombaram”, conta a empresária.
“Nosso maior público, sem dúvida, são mulheres pretas. A maioria delas está passando ou já passou pelo processo de transição, que consiste em assumir o “black “, seu cabelo natural. Quando tivemos que fechar a loja na onda vermelha da pandemia, as vendas on-line e delivery bombaram”, conta a empresária.
Márcia Lúcia da Silva é professora de Língua Portuguesa e Literatura e trabalha com alunos do ensino fundamental e médio da rede estadual de Minas Gerais.
“Convivo com jovens de todas as classes sociais. Não sei ainda com exatidão, mas percebo que a valorização da raça negra trouxe para esta comunidade o desejo de empreender." A educadora acredita que é hora de o mercado ter um olhar mais apurado para o público jovem negro.
“Convivo com jovens de todas as classes sociais. Não sei ainda com exatidão, mas percebo que a valorização da raça negra trouxe para esta comunidade o desejo de empreender." A educadora acredita que é hora de o mercado ter um olhar mais apurado para o público jovem negro.