A decisão de fechar as linhas de manufaturas brasileiras segue uma reestruturação dos negócios na América do Sul. Com o encerramento das atividades fabris, a montadora manterá em solo nacional apenas o centro de desenvolvimento de produto, que fica na Bahia, a sede regional em São Paulo e o campo de provas de Tatuí (SP).
Em comunicado, a Ford informa que tomou a decisão após anos de perdas significativas no Brasil. A multinacional americana acrescenta que a pandemia agravou o quadro de ociosidade e redução de vendas na indústria.
"A Ford está presente há mais de um século na América do Sul e no Brasil e sabemos que essas são ações muito difíceis, mas necessárias, para a criação de um negócio saudável e sustentável", afirmou, em nota, Jim Farley, presidente e CEO da Ford.
As vendas dos modelos nacionais da Ford ficarão restritas ao disponível em estoque. Depois disso, os veículos da marca comercializados no país deverão ser importados da Argentina e do Uruguai. Na prática, quatro modelos deixarão de ser fabricados no país: Ford Ka, Ka Sedan, EcoSport e Troller T4. A marca garante que manterá a assistência total ao consumidor com operações de vendas, serviços, peças de reposição e garantia para seus clientes no país.
Em 2019 a montadora já havia encerrado a produção na fábrica de São Bernardo do Campos, onde funcionava a Ford Caminhões, divisão da marca que operava no Brasil há 52 anos. De uma só vez, todos os modelos das famílias Cargo e Série F, utilitários pesados da marca, deixaram o mercado nacional.
A decisão da montadora marca o fim de uma história de um século de produção de carros no Brasil. A Ford foi a primeira montadora a produzir automóveis no país, quando em 1919 iniciou a produção do Modelo T.
Ao todo, cinco mil funcionários diretos serão impactados no Brasil e na Argentina, mas, no momento, sem fornecer informações específicas por localidade. Sobre os funcionários, a empresa disse em comunicado que vai trabalhar imediatamente em estreita colaboração com os sindicatos, funcionários e outros parceiros no desenvolvimento de um plano justo e equilibrado para minimizar os impactos do encerramento da produção.
A partir dessa reestruturação, a Ford prevê um impacto de aproximadamente US$ 4,1 bilhões em despesas não recorrentes, incluindo cerca de US$ 2,5 bilhões em 2020 e US$ 1,6 bilhão em 2021. Aproximadamente US$ 1,6 bilhão será relacionado ao impacto contábil atribuído à baixa de créditos fiscais, depreciação acelerada e amortização de ativos fixos. Os valores remanescentes de aproximadamente US$ 2,5 bilhões impactarão diretamente o caixa e estão, em sua maioria, relacionados a compensações, rescisões, acordos e outros pagamentos.
*estagiário sob supervisão da editora-assistente Vera Schmitz