O Ministério da Economia lamentou, em nota oficial, a decisão da Ford de encerrar a produção no Brasil, mas buscou descaracterizar qualquer influência de políticas do atual governo na ação da montadora. Já para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o fechamento da produção no País é uma demonstração da "falta de credibilidade" do governo federal.
No comunicado do ministério, a decisão é retratada como "global e estratégica" da empresa. Além disso, a Economia afirmou que a medida "destoa da forte recuperação observada na maioria dos setores da indústria no país, muitos já registrando resultados superiores ao período pré-crise".
No entanto, estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) obtido pelo Estadão/Broadcast mostra que, embora a indústria brasileira tenha de fato superado as perdas decorrentes da crise provocada pela covid-19 no País, alguns setores ainda operam consideravelmente aquém da sua capacidade de produção. Um deles é o de veículos
Os fabricantes do setor registraram uma ociosidade média do parque fabril superior a 30% de setembro a dezembro, segundo dados da Sondagem da Indústria do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV (leia mais abaixo).
O mesmo argumento de um movimento global tocado pela montadora foi usado pelo secretário executivo do Ministério das Comunicações, Fábio Wajngarten. "A verdade dos fatos: a Ford mundial fechou fábricas no mundo porque vai focar sua produção em SUVs e picapes, mais rentáveis. Não tem nada a ver com a situação política, econômica e jurídica do Brasil. Quem falar o contrário, mente e quer holofotes", reagiu.
"Não é uma notícia boa. Eu acho que a Ford ganhou bastante dinheiro aqui no Brasil. Me surpreende essa decisão que foi tomada aí pela empresa", afirmou o vice-presidente Hamilton Mourão. "Eu acho que ela poderia ter retardado isso aí mais e aguardado."
Na nota, a Economia diz que "trabalha intensamente na redução do custo Brasil com iniciativas que já promoveram avanços importantes". "Isto reforça a necessidade de rápida implementação das medidas de melhoria do ambiente de negócios e de avançar nas reformas."
Para Maia, o anúncio da montadora evidencia a ausência de regras claras, de segurança jurídica e de um sistema tributário racional. Defensor da proposta de reforma tributária de autoria do candidato apoiado por ele para a sucessão no comando da Mesa Diretora, Baleia Rossi (MDB-SP), o atual presidente da Casa apontou que o sistema tributário teria se tornado um "manicômio" nos últimos anos, com impacto sobre a produtividade.
Ex-ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, o deputado federal Marcos Pereira (Republicanos-SP) criticou o Ministério da Economia, pedindo um "olhar mais amigável" da pasta aos empregadores, e indicou que o episódio pode repercutir nas pretensões do presidente Jair Bolsonaro de se reeleger em 2022. "Se é verdade que saúde econômica pode decidir as eleições presidenciais, com estes anúncios, podemos dizer que 2022 está logo aí, e, quem viver verá...", escreveu Pereira, no Twitter.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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