Embora a inflação da bebida em 2020 tenha sido de 1,94%, segundo o IBGE, o mercado deve reposicionar os preços neste primeiro semestre, e o aumento ao consumidor final deve ficar entre 10% e 15%, seguindo a tendência de aumento dos alimentos.
“A constante alta do dólar gerou impacto no custo dos commodities, sem contar o custo de energia elétrica, que também aumentou. Esses fatores têm influência direta no preço das bebidas. Se foi possível segurar até o momento, certamente o impacto vai desaguar em 2021", diz o diretor da Escola Superior de Cerveja e Malte (ESCM) Carlo Enrico Bressiani.
E ele complementa: "O Brasil é um país fechado, cheio de burocracia e que enfrenta problemas com a variação cambial. Quem sofre mais são as pequenas empresas, porque a maioria não tem contratos de compra e fornecimentos mais estáveis e adquire produtos conforme a demanda. Mas até os grandes terão de aumentar o preço para o consumidor final”.
O produtor e sommelier de cervejas e presidente da Federação Brasileira das Cervejas Artesanais, Marco Falcone, explica que a maioria dos produtos utilizados na fabricação das cervejas é importada e negociada na moeda norte-americana, sofrendo diretamente com variação cambial.
O dólar americano era cotado a R$ 4,02 em janeiro de 2020 e fechou o ano passado custando R$ 5,45.
“Nós temos um viés inflacionário muito relevante, porque os produtos são indexados em dólar, e a cerveja vai sofrer com aumento dos insumos importados. Eu falo de 13% de aumento médio em todo o setor. O que não é pouca coisa”, observa.
Tentar minimizar o impacto
Falcone endossa o que diz o diretor da ESCM sobre o repasse dos valores. Para ele, os produtores estão no limite e, por questão de sobrevivência das pequenas cervejarias, os aumentos não poderão ser mais adiados.
“Vamos tentar, num primeiro momento, apenas resgatar os preços normais, para não causar uma retração muito brusca no consumo. O nosso propósito é tentar minimizar o impacto, mas eu acredito que o setor não tem mais fôlego pra não promover aumentos nos próximos meses”, adverte.
Venda recorde de latinhas
A mudança no hábito de consumo de cerveja com a pandemia de COVID-19 também é responsável pela expansão dos preços da bebida.
É o que diz Edinelson Marques, gerente comercial do Grupo Pinho, especializado em comércio exterior e logística aduaneira. Ele lembra que, com a COVID-19, o consumo da cerveja, que era feito primordialmente por meio de garrafas de vidro em bares e restaurantes, foi substituído por latas de alumínio consumidas nas casas das pessoas.
A cerveja em lata tem preço unitário menor e é mais fácil para a logística de compra e transporte e para o consumidor armazenar na geladeira, além de estar em maior disponibilidade nos supermercados.
“O consumidor final, quando vai ao mercado, olha o preço, o que não ocorre quando vai ao bar. Então, o hábito de consumir em casa em vez de consumir em bares e restaurantes, que estão fechados pela pandemia, fez com que o índice de consumo de latas aumentasse absurdamente, batendo recordes. Entretanto, o nosso país não tem capacidade instalada pra atender à demanda. As cervejarias, então, começaram a importar latas com o dólar lá em cima. O custo da cerveja vai aumentar também em razão disso.”
O gerente comercial responsável por bebidas no Grupo Super Nosso, Wendel Carvalho, calcula que a indústria cervejeira está passando para o varejo um reposicionamento de preços entre 10% e 12%.
Ele afirma que as redes de supermercado, tanto de atacado quanto no varejo, tendem a não transferir esse custo de imediato, mas que o consumidor deverá sentir o aumento dentro dos próximos 20 dias. “Estamos estudando todas as alternativas para diminuir o impacto desses repasses nas categorias de cervejas”, assegura.
*Estagiário sob supervisão da subeditora Kelen Cristina