O ICC-BH é calculado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead-UFMG) e vai de 0 a 100. O índice 50 demarca a fronteira entre a situação de pessimismo e a de otimismo.
A queda em janeiro é a segunda consecutiva após um período de seis meses de recuperação da confiança dos consumidores da capital. O indicador já havia encerrado o ano passado com valor inferior ao de 2019 – 35,58 contra 39,42 pontos, queda de 6,56%.
Para a economista coordenadora do estudo no Ipead/UFMG, Thaize Martins, o índice baixo mostra um consumidor mais pessimista, menos predisposto a gastar e a investir em novos bens e mais racional na hora de fazer compras.
“Nesse cenário conturbado, o consumidor vai pensar mais no que é essencial, no que é de emergência e menos nos itens supérfluos. Itens como viagens e bens de maior valor vão perdendo um pouco a ordem de preferência diante de um cenário pessimista”.
Thaize destaca que os principais componentes que interferiram na baixa confiança do consumidor foram a inflação e o emprego.
“O aumento no preço dos alimentos traz um reflexo direto para a renda das famílias e para essa percepção do consumidor de que está tudo aumentando, pois quando mexe com os alimentos isso fica mais aflorado. Com mais uma onda de fechamento do comércio, também registramos piora na percepção de emprego e renda, acentuado por contratos temporários em dezembro que não se firmaram em janeiro”, afirma.
Segundo o IBGE, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação no país, fechou 2020 acumulado em 4,52%, o maior desde 2016.
Um dos maiores impactos para os consumidores em 2020 foi a elevação de 14,09% nos preços de alimentos e bebidas, a maior expansão desde 2002.
A taxa de desocupação em Minas Gerais, também medida pelo IBGE na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Covid-19), fechou novembro, último dado divulgado, em 12,5%.
Outros fatores para o pessimismo
O valor da cesta básica em Belo Horizonte, que representa os gastos de um trabalhador adulto com a alimentação, chegou a R$ 566,80 em dezembro, valor 22,09% superior ao mesmo mês de 2019, segundo outra pesquisa do Ipead.
A tarifa de energia elétrica residencial, que subiu 10,10% em dezembro, também contribuiu para o aumento nas despesas das famílias.
Além disso, como é comum para janeiro, vários gastos familiares se acumulam e, geralmente, são acompanhados de correções, como é o caso do IPTU e do IPVA e das despesas com matrícula e material escolar.
A elevação no preço dos aluguéis também deve pesar no orçamento de muitas famílias em 2021, pois o IGP-M, usado como indicador para a correção nos contratos de locação, fechou o ano passado em 23,14%, maior alta desde 2002.
A economista do Ipead ressalta a importância do levantamento pro comércio em geral, pois o ICC permite ao empresário avaliar o humor e as expectativas dos consumidores com o objetivo de planejar melhor o seu negócio em termos de estoques, contratações, investimentos.
Para Thaize, o ICC, além de refletir o panorama, influi na dinâmica econômica.
“A gente percebe isso claramente quando o índice começa a subir, quando a gente mostra uma retomada no índice de confiança do consumidor, normalmente são períodos em que a economia começa também a sair da fase crítica. Famílias tiveram as rendas reduzidas, muitas pessoas desempregadas e com medo do futuro. Tudo isso acaba por fazer as pessoas consumirem menos, e a roda da economia a girar mais devagar”, afirma.
A pesquisa também mostra que 60,55% das mulheres e 68,32% dos homens pretendem adquirir algum bem ou serviço não essencial nos próximos três meses.
Os grupos que lideraram a lista dos bens e serviços que os consumidores pretendem adquirir são vestuário e calçados (19,52%), móveis (10%) e outros, como eletrodomésticos e veículos (9,05%).
*estagiário sob supervisão da subeditora Kelen Cristina