Frederico Trajano, principal executivo do Magazine Luiza, uma das maiores redes de varejo no País, acredita que o Brasil vive um vácuo de poder e que não há boas perspectivas para a economia e a política nos próximos meses. A pandemia de covid-19 avança rápido, enquanto a vacinação segue lenta. Mas, se a tempestade não dá trégua, a solução é fincar pilares ainda mais sólidos dentro de casa.
"É hora de colocar um farol alto na economia, enxergar as possibilidades de crescimento que estão bem à nossa frente, e não de nos focarmos no que está dando errado", diz o executivo, que no momento tem cerca de 800 das suas 1.301 lojas no País fechadas por conta das restrições de mobilidade impostas pela crise sanitária.
O farol alto de Frederico Trajano aponta para cinco novas direções que vão ditar a trajetória de crescimento do Magazine Luiza nos próximos anos. Todas elas no ambiente digital. "A pandemia acelerou o processo de digitalização no Brasil, mas ele está só no início", diz Trajano, ressaltando que dois terços das vendas totais de R$ 44 bilhões do Magazine Luiza, no ano passado, foram online.
Para o Magalu, as estradas de crescimento digital estão no varejo alimentar, no delivery de comida, no segmento de moda e beleza, na oferta de serviços financeiros e de anúncios. As três primeiras não vão dar grandes lucros para o Magazine Luiza, mas, como categorias de tíquete pequeno, são capazes de impulsionar as vendas e atrair novos vendedores para o seu marketplace.
Uma vez instalados no portal do Magalu, esses vendedores vão pagar por anúncios e serviços financeiros (estes últimos também direcionados aos clientes pessoa física). Para começar, é preciso atrair mais vendedores para a plataforma digital. "Dos 5,7 milhões de varejistas no País, só 47 mil estão no nosso marketplace", diz Trajano.
‘Piscou, chegou’. Depois de investir nos últimos anos na aquisição de três empresas de logística - Logbee, GFL Logística e SincLog -, o Magazine quer crescer organicamente no quesito entregas. "Vamos acelerar os investimentos para converter as lojas em pontos de apoio logístico para os ‘sellers’ e aumentar o número de CDs (centros de distribuição)." No site da varejista, 45% das entregas são feitas em até 24 horas. Há um ano, este porcentual estava em 5%.
"Quando eu abro uma loja, aumento a minha capacidade logística", diz Trajano. No ano passado, foram inaugurados 189 pontos de venda. "2021 será o ano da logística do ‘piscou, chegou’" reforça.
Garantir a entrega rápida é fundamental para atrair os novos varejistas. A meta do Magalu é perseguir a recorrência de compras exibida pelo gigante das compras online Alibaba: 80 compras por cliente ao ano.
"No Magalu, temos grupos de clientes que fazem 25 compras ao ano", diz Trajano. "É preciso incrementar este número", diz ele, lembrando que a tendência mundial do e-commerce é crescer no mercado de tíquete-médio menor. "O varejo alimentar, moda & beleza e delivery de comida vão trazer recorrência de compra", diz Trajano.
Pizza
Durante a apresentação, Trajano mostrou dados sobre o mercado. O varejo brasileiro, por exemplo, movimenta R$ 1,2 trilhão ao ano - fatia da qual o Magalu detém 3,5%, com vendas de R$ 44 bilhões. Mas o potencial do mercado online no País é de R$ 331 bilhões, segundo dados do IPCMaps 2020, relatados pela varejista.
Em varejo alimentar, o mercado no País é de R$ 535 bilhões, com potencial para R$ 64 bilhões para o online. Até o momento, o Magazine fatura R$ 1 bilhão nesta categoria. "No mundo inteiro, a participação do online nesta categoria é muito baixa, principalmente pelo desafio logístico", diz Trajano.
Em moda & beleza, onde a varejista já atua com as marcas Netshoes, Zattini e Época Cosméticos, o mercado brasileiro soma R$ 223 bilhões. O potencial das vendas online é de R$ 67 bilhões, enquanto a fatia do Magalu está em R$ 5 bilhões.
Mas é no segmento de delivery de comida, que tem o iFood como maior player nacional, que o apetite do Magazine Luiza é maior. "Podemos ser player relevante em delivery de comida com AiQFome", diz Trajano. O mercado de alimentação fora do lar no Brasil é de R$ 196 bilhões, sendo que o de delivery online é R$ 24 bilhões.
"Hoje, com o AiQFome, faturamos R$ 1 bilhão", afirma. São cerca de 20 mil restaurantes cadastrados, em 450 cidades, a maioria de médio e pequeno porte. A frequência média de pedidos do AiQFome é de três ao mês. "Nosso alvo são 1,6 milhão de restaurantes, há muito trabalho a fazer".
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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