A direção da Anfavea, entidade que representa as montadoras, subiu nesta quarta-feira o tom das críticas à gestão da crise sanitária, apontando falta de coordenação do governo, ruídos políticos considerados "inaceitáveis" e um quadro político-econômico que assusta os controladores das multinacionais no planejamento de investimentos no Brasil. Após elencar preocupações de ordem econômica, como a percepção de risco que mantém o dólar em alta, o choque inflacionário, com consequente aumento dos juros, e a queda dos índices de confiança, o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, disse que a aceleração da vacinação depende da coordenação central do governo e cobrou "juízo" em Brasília, onde, na avaliação dele, a gravidade da crise ainda não foi percebida.
"Se perceberam, estão demorando para agir", comentou Moraes.
O comentário foi feito num momento da entrevista coletiva dada nesta quarta-feira à imprensa na qual, além da lentidão da imunização, o dirigente da Anfavea queixou-se da demora tanto no relançamento do programa que permite suspensão de contratos e redução temporária de salários, a fim de evitar demissões, quanto da nova rodada de auxílio emergencial, que começou a ser paga nesta semana, mas com valor inferior ao do ano passado.
"Brasília precisa pensar mais no Brasil. Caso contrário, vamos ter mais um ano difícil na economia", disse o presidente da Anfavea.
Moraes evitou citar nomes ao falar de "gente em Brasília" que agrava a crise, causando "confusões desnecessárias" quando as filiais tentam defender mais recursos ao Brasil junto a seus controladores no exterior. "Os ruídos políticos das últimas semanas são inaceitáveis."
Foi mais específico, no entanto, ao atacar o debate, que considerou não adequado, do orçamento deste ano. A peça subestima despesas obrigatórias para abrir espaço a emendas parlamentares, algo que, segundo Moraes, mostra que a classe política está pensando nas eleições do ano que vem, não no País. Ele também lamentou a falta de coordenação entre Executivo e Congresso na costura do orçamento.
Segundo o representante da indústria automotiva, as discussões permanentes com as matrizes sobre investimentos no Brasil sofre a contaminação de um ambiente na política e economia que "assusta" os controladores. "Temos que ter juízo em Brasília. Os executivos estão tendo dificuldade em explicar a confusão de uma coisa básica como o orçamento", assinalou. "Estamos o todo tempo defendendo novos investimentos no Brasil, mostrando o potencial do Brasil, mas parece que só a gente briga pelo Brasil ... Tem gente que assume posição pensando na eleição de 2022. Ainda há tempo para 2022. A gente aumenta o nosso problema por razões diversas", acrescentou.
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