O comércio e o serviço de aluguel de artigos de decoração para festas sofreram duro revés com as medidas de isolamento social adotadas desde o ano passado no combate ao novo coronavírus. Estabelecimentos como o de Cléia Rejane Gonçalves Rocha e Silvestre não resistiram aos efeitos da crise sanitária sobre a atividade e fecharam as portas, mesmo após longa experiência no ramo. Com o talento para as vendas e a capacidade de conduzir um negócio próprio durante oitos anos, Cléia Silvestre promoveu transformação radical no trabalho, forçada pela pandemia, e usou sua casa como quartel-general para refazer a carreira e recompor a situação financeira.
A loja virou passado, pelo menos por enquanto, e a ex-comerciante se relançou como artista visual, especializada na chamada arte do lettering. A técnica usa letras, palavras e frases ilustradas feitas em diferentes superfícies, como canecas, quadros artesanais e objetivos decorativos para presentear, além das próprias paredes. Como mostra mais uma reportagem do Estado de Minas da série “Negócio em casa”, publicada desde domingo, a história de Cléia Silvestre é exemplo de como cresceu o número de pessoas trabalhando por conta própria e que fazem de casa o seu ganha-pão.
Em Montes Claros, no Norte de Minas Gerais, Cléia Silvestre atuava no comércio e aluguel de artigos decorativos para festas infantis, aniversários de 15 anos, casamentos e comemoração de datas matrimoniais. A renda era ampliada com a venda de lembrancinhas e a organização de cerimoniais, mas os contratos desapareceram com a restrição às aglomerações para deter o contágio pelo coronavírus. Estimativas da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) indicaram, em 2020, o fechamento de 75,2 mil pontos de vendas desses setores no Brasil, dos quais 9,55 mil em Minas.
'Diante das dificuldades, numa pandemia em que as pessoas precisam se reinventar, é importante fazer aquilo que gere renda e também satisfação'
Cléia Rejane Gonçalves Rocha e Silvestre, artesã
A comerciante montou um ateliê nos fundos de casa, onde a movimentação dos quatro filhos, os latidos de Priscila, a cachorrinha da família, e as brincadeiras de seis gatos não chegam a afetar o ritmo do novo trabalho. Cléia também pode contar com a ajuda do marido, Eduardo Alves Silvestre, trabalhador de uma das áreas de produção de uma indústria de Montes Claros.
Pouco mais de um ano desde início da pandemia, ela diz que a tempestade passou e se considera uma vencedora. Além do sucesso no novo empreendimento, as dívidas decorrentes da loja foram pagas. “Diante das dificuldades, numa pandemia em que as pessoas precisam se reinventar, é importante fazer aquilo que gere renda e também satisfação”, afirma.
A ex-decoradora de festas revela outro “resultado muito positivo” que alcançou em meio à pandemia. “Com a técnica da arte das letras, além de conquistar renda ganhei novas amizades, pois transformei clientes em amigos”, afirma. Questionada sobre qual frase escreveria numa caneca para ela mesma, diante da dificuldade e depois a superação, Cléia Rejane respondeu: “Mesmo em meio à pandemia não desista. Deus sempre nos surpreende. É só ter fé”.
O entusiasmo foi tamanho que ela decidiu incrementar o novo negócio com a divulgação dos trabalhos pelas redes sociais. Além de canecas personalizadas, Cléia faz a criação das letras em quadros, marcadores de páginas e objetos de decoração. Também faz visitas domiciliares para escrever mensagens em paredes.
Dívidas
Refazer a vida profissional não foi uma tarefa simples para Cléia, diante do estrago provocado pela pandemia. Ainda que continuasse no ramo do comércio de artigos e serviços para festas com o atendimento pelo sistema de delivery , ela não teria a quem atender. Literalmente vendendo alegria, por trabalhar com diversos personagens infantis e o universo das celebrações de vitórias nas relações humanas, de uma hora para outra a vida se transformou em tristeza.
“Tinha várias festas agendadas, com o pagamento antecipado. Com o cancelamento por causa da pandemia, tive que devolver o dinheiro para os clientes. Foi muito difícil porque eu já tinha gasto parte dele na compra dos artigos de decoração”, conta Cléia Silvestre. “Com o fechamento da loja de decoração, as coisas apertaram mesmo, pois vieram as dívidas”, completa.
Força amiga para recomeçar
Empreendedora aguerrida, Cléia Silvestre não desanimou após fechar sua lojas, e conseguiu virar o jogo, mas precisou de ajuda. Ela conta que, ao fim de abril de 2020, por meio das redes sociais, tomou conhecimento de um curso de lettering (arte das letras na tradução livre da expressão inglesa) e se interessou pela capacitação on-line.
A salvação naquele momento difícil foi a solidariedade. “Um sobrinho ofereceu o cartão de crédito para que eu pudesse pagar o valor do curso, dividido em 10 meses”, diz a empreendedora. Ministrado em módulos, o curso de lettering custou R$ 397. Do plano de pagamento a prazo, nove parcelas foram pagas.
A chegada do Dia da Mães, em maio, considerado a segunda melhor data de vendas do comércio após o Natal, o projeto de Cléia ganhou mais sentido ainda. Ela recorda que, em 2020, ao cumprir o primeiro módulo do curso de lettering, enxergou na data a possibilidade de já faturar com a técnica aprendida. O começo do novo negócio foi a decoração de canecas personalizadas com mensagem.
Contudo, Cléia não tinha dinheiro para comprar matéria-prima para a nova produção. Novamente, contou com uma ajuda determinante. “Uma amiga emprestou o dinheiro para eu investir em materiais, para que depois pudesse pagá-la com o dinheiro retirado de encomendas das canecas personalizadas”, relata a designer em lettering, que recebeu R$ 600 como empréstimo.
O negócio das canecas no Dia das Mães em 2020, segundo a nova “artista das letras”, conquistou muitas encomendas. “Passei a vivenciar histórias de vida a partir das mensagens que as pessoas pediam para ser escritas para as mães nas canecas personalizadas. Muitas pediram para escrever trechos de músicas também”, afirma.
O empréstimo usado como ponto de partida do trabalho com a “arte das letras” foi logo pago para a amiga financiadora com a renda das encomendas. Foi aí que Cléia decidiu trocar de ramo em definitivo. Vendeu todos os produtos restantes que tinha para festas e investiu na compra dos materiais usados na nova atividade.
O negócio mudou, mas a pandemia continua, e todos os cuidados com os riscos de transmissão da COVID-19 são observados. Cléia sofre de rinite alérgica e tem de redobrar a atenção com as medidas sanitárias. “Com isso, toda vez que tenho de sair de casa, confesso que fico em pânico pelo fato de a gente não saber onde o vírus está”, diz. Outra regra foi receber matéria-prima pelo sistema de delivery. (LR)
O que é um lockdown?
Saiba como funciona essa medida extrema, as diferenças entre quarentena, distanciamento social e lockdown, e porque as medidas de restrição de circulação de pessoas adotadas no Brasil não podem ser chamadas de lockdown.
Vacinas contra COVID-19 usadas no Brasil
- Oxford/Astrazeneca
Produzida pelo grupo britânico AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford, a vacina recebeu registro definitivo para uso no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No país ela é produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
- CoronaVac/Butantan
Em 17 de janeiro, a vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan no Brasil, recebeu a liberação de uso emergencial pela Anvisa.
- Janssen
A Anvisa aprovou por unanimidade o uso emergencial no Brasil da vacina da Janssen, subsidiária da Johnson & Johnson, contra a COVID-19. Trata-se do único no mercado que garante a proteção em uma só dose, o que pode acelerar a imunização. A Santa Casa de Belo Horizonte participou dos testes na fase 3 da vacina da Janssen.
- Pfizer
A vacina da Pfizer foi rejeitada pelo Ministério da Saúde em 2020 e ironizada pelo presidente Jair Bolsonaro, mas foi a primeira a receber autorização para uso amplo pela Anvisa, em 23/02.
Minas Gerais tem 10 vacinas em pesquisa nas universidades
Como funciona o 'passaporte de vacinação'?
Os chamados passaportes de vacinação contra COVID-19 já estão em funcionamento em algumas regiões do mundo e em estudo em vários países. Sistema de controel tem como objetivo garantir trânsito de pessoas imunizadas e fomentar turismo e economia. Especialistas dizem que os passaportes de vacinação impõem desafios éticos e científicos.
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus.
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