A pandemia evidencia desafios, mas, ao mesmo tempo, pode ser um prato cheio para golpistas. Com o ambiente digital elevado em grau de importância nesse período em particular, cresce a ocorrência de fraudes, de todos os tipos. E são contravenções muitas vezes tão bem elaboradas que é difícil desconfiar, principalmente para quem pode estar fragilizado e vislumbra uma oportunidade - o problema é quando essa oportunidade não é real. Para negociações de automóveis, sobretudo as que acontecem por sites, redes sociais ou aplicativos de mensagens, isso também é uma tônica do momento. Cuidado!
"Carro virou barreira sanitária. Muita gente que tem a chance de ter um carro próprio prefere essa opção a usar transporte coletivo ou contratado por aplicativo. Estamos observando que, com a falta de carro zero quilômetro no mercado, o setor de seminovos e usados está muito aquecido. E os golpistas aproveitam. Tem acontecido muito de o contraventor se passar por algum funcionário de loja de carro, começando a fazer a intermediação falsa entre comprador e vendedor. Isso acontece diariamente. Muitas vezes roubam anúncios verdadeiros na internet e começam a participar da compra, geralmente pedindo depósitos antecipados como sinal para reservar o negócio". É o alerta que faz o diretor de marketing e planejamento da Associação dos Revendedores de Veículos no Estado de Minas Gerais (ASSOVEMG), Flávio Maia.
Flávio Maia ensina uma dica de ouro: nunca depositar nenhum valor em dinheiro em contas bancárias de terceiros, apenas diretamente na conta do proprietário, depois de ter acesso e conferir os documentos do veículo, ou para a loja em que está negociando, com a segurança do registro pelo CNPJ. Importante também se certificar sobre a integridade do automóvel: é fundamental sempre fazer o laudo cautelar, que detalha mais de 50 itens sobre seu estado real. "Também desconfie de qualquer oferta mirabolante. O mercado está aquecido e dificilmente você vai encontrar um carro de qualidade muito abaixo da tabela", orienta.
COMO O CRIME FUNCIONA
Entre os mecanismos para os golpes, números de celular clonados e acesso a informações sigilosas do comprador são apenas algumas ferramentas que trabalham a favor do crime que, para o diretor da ASSOVEMG, está cada vez mais especializado.
Uma ação fraudulenta comum é o golpe do sinal. É quando pessoas com segundas intenções anunciam na internet carros com valor muito abaixo do mercado. Quando um interessado se apresenta, solicitando ao golpista um encontro presencial, este lhe pede um sinal, justificando que já existem outras pessoas com pendor para a compra.
Nesta hora, é apresentada a conta corrente de um laranja para o depósito. É o golpe mais frequente. Flávio Maia reforça que, para se precaver, nunca faça nenhum depósito em conta de terceiros que não sejam o proprietário do carro ou uma revenda com CNPJ.
FACHADA RETOCADA EM COMPUTADOR
Outra pegadinha recorrente é a da fachada falsa. O criminoso tira fotografias da entrada de lojas, revendas ou concessionárias, e edita as imagens, mudando o contato telefônico que consta na placa. Quando o possível comprador liga, para um telefone fixo mesmo, encontra uma secretária e até ramais de atendimento - tudo programado de forma profissional. Daí para frente o golpe segue o rumo mais comum. Novamente, o atendente solicita o sinal ou pagamento integral, na conta de outras pessoas. E cadê o carro na hora de buscar?
"Uma orientação para evitar essa modalidade de fraude é se assegurar da veracidade das informações recebidas no site oficial da empresa, em que deve constar tudo o que for relativo ao veículo. Também buscar na internet, pelo mapa, imagem da loja para conferir os números”, salienta Flávio Maia.
BARATO DEMAIS
Quando o carro é ofertado a preços irresistíveis, é provável que o estelionatário esteja entrando em ação. Em certas situações, o golpista diz ao comprador interessado que o carro foi vendido, mas tem um parente empregado em um fabricante, que tem acesso a outras - e poucas - unidades, com valor exclusivo. O interessado liga, chega ao cúmplice do fraudador, que confirma a função na empresa e pede o depósito de uma quantia inicial para ter acesso ao automóvel com o desconto.
GOLPE DO APLICATIVO
A invasão de aplicativos de mensagem está entre as principais ferramentas dos contraventores em busca de seus objetivos. Começa como uma operação real, acordada entre um vendedor sério e seu possível cliente. O carro é colocado à venda na rede, quando o anunciante também divulga seu número de telefone. O criminoso observa esse número e, a partir daí, invade o celular do vendedor, passando a seguir os passos da transação.
Com o negócio perto de ser concluído, o golpista bloqueia o acesso do proprietário de fato do carro, assume a conversa e fornece as informações falsas para o pagamento. "Nesta forma de golpe, é muito difícil a vítima identificar a fraude, principalmente porque as mensagens partem do número do vendedor real. Observe a titularidade da conta bancária na hora do acerto. Esta é a dica crucial", reforça Flávio Maia.
DICAS DE OURO PARA NÃO CAIR EM GOLPES
- Evite negociações com terceiros - trate com loja com CNPJ ou o proprietário do carro;
- Valores muito abaixo do mercado são motivos de suspeita, principalmente quando o carro estiver em perfeito estado. Como o mercado aquecido da forma que está, dificilmente você vai encontrar grandes diferenças de preços em relação à tabela Fipe;
- Peça sempre um laudo cautelar do veículo. É improvável que um fraudador tenha esse documento, e você ainda vai ter mais de 50 itens importantes checados antes da compra.