Um dos setores que mais sofreram os efeitos das medidas de isolamento social para conter a pandemia de COVID-19, os bares e restaurantes, gradativamente, começam a se reerguer. Com o aumento do faturamento, os empresários passaram a buscar funcionários, o que poderá compensar parte da perda de empregos devido às demissões em massa ocorridas nessas empresas durante o ano passado.
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No setor de serviços de alimentação, a recuperação das vagas, no entanto, esbarra em algumas dificuldades, como a redução do fluxo do transporte coletivo à noite (horário mais atraente para o funcionamento de bares e restaurantes) e a inflação alta, influenciada pelo aumentos dos preços de bebidas, carnes e outros itens alimentícios.
Para o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG), Matheus Daniel, os próximos meses podem significar a reestruturação do setor.
“Tivemos pelo menos 30 mil demissões. Há vagas em aberto. O mercado precisará de mão de obra novamente. Não serão todos que vão readquirir os empregos, porque o mercado aprendeu a fazer mais coisas com menos mão de obra, teve de aprender a ser mais eficiente”, afirma.
Após o enxugamento do quadro de pessoal visto desde o ano passado, há vagas em todos as funções. A Abrasel deve lançar um banco de currículos para tentar alocar as pessoas que buscam e precisam trabalhar.
Para o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marcelo de Souza e Silva, a retomada dos empregos nas lojas ainda não acompanha a expansão do faturamento desde o retorno das atividades econômicas na capital. Segundo ele, com a retomada de outros setores, os empresários podem voltar a criar postos de trabalho.
“Vemos um crescimento das vendas, de forma muito acanhada ainda, mas esperamos que, com a segurança que a vacina proporciona, a volta de todas as atividades, isso possa evoluir. A engrenagem funciona quando todos estão bem. A volta das escolas, por exemplo, movimenta muitas coisas, como uniforme, papelaria, postos de combustíveis. A expectativa é de que no segundo semestre consigamos fazer uma retomada forte da economia e que os empregos venham juntos”, diz.
Marcelo Silva lembra ainda que os empregadores demandam prazo maior para buscar novos trabalhadores e concluir as contratações. “Quando você aumenta o faturamento das empresas, os empregos demoram um pouco a vir. O empresário leva um tempo para ter segurança e contratar.”
A despeito do impacto ainda forte da falta de controle no Brasil da pandemia de COVID-19, os empresários do setor de bares e restaurantes pretendem, pelo menos, apurar receita semelhante àquela de 2019, portanto antes de a crise sanitária ter se instalado no país.
“A primeira missão é pagar as dívidas. Nesse segundo semestre, a expectativa é de atingir o faturamento de 2019, mas sem a mesma lucratividade. Tivemos vários aumentos de preços durante a pandemia, como do gás de cozinha, da carne, e da própria gasolina, que interfere diretamente em todos os produtos e servuços. Vamos conseguir a margem de faturamento aos poucos. A primeira missão é colocar as contas em dia, pagar os funcionários e equilibrar o caixa. As dívidas têm de ser pagas, porque o prazo de carência dado aos empresários terminou”, afirma Matheus Daniel.
Estabilidade
As casas de materiaL de construção também aquecem o mercado de contratações, favorecidas pelo aumento das reformas e de novas obras. O Deposito Savassi, na região Centro-Sul, fez duas admissões neste ano e se prepara para buscar mais trabalhadores nos próximos meses em razão da alta demanda de clientes.
As contratações confirmam a longevidade da profissão do vendedor. Lorena Gomes Ribeiro, de 30 anos, foi contemplada no processo de seleção em janeiro. Ela chegou à empresa por indicação e tem experiência no comércio, mas assumiu pela primeira vez o balcão desse segmento.
“É um aprendizado gigantesco, já que antes não entendia nada de construção. A recuperação do emprego ameniza o momento complicado que estamos vivendo. O trabalho dá estabilidade”, ressalta a vendedora.
José Carlos Martins, diretor-comercial da Conape Recursos Humanos, confirma a arrancada que as vagas ofertadas pela construção civil deram neste ano, ao lado de setores que nem sequer chegaram a interromper as contratações, depois da pandemia, como o agronegócio.
“Tudo indica que o segundo semestre tende a ser melhor, apesar da crise política, que afeta muito a economia. Os restaurantes, shopping centers, os setores de eventos e shows estão retomando suas atividades e devem voltar a contratar”, afirma.
Trabalho por conta própria se destaca
Guilherme Fontes, coordenador da Pnad em Minas Gerais, destaca que não houve variação significativa da população ocupada no país, de 85,940 milhões de fevereiro a abril, queda de 0,1% frente ao trimestre anterior.
O analista do IBGE chama a atenção para o fato de as comparações dos dados do trimestre encerrado em abril com as informações pesquisadas no fim do ano passado estarem influenciadas pelas contratações temporárias motivadas pelos negócios no Natal.
O relatório da Pnad com divulgação trimestral para os estados, de abril a junho, está previsto para 31 de agosto. Diferenca fundamental da Pnad para a pesquisa do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) é que o IBGE apura e avalia empregos formais e informais. O Caged só acompanha o trabalhho com carteira assinada.
Virada nas pequenas empresas
Entre as principais ocupações, estavam serventes de obras da construção civil, auxiliares de escritório, assistentes administrativos, motoristas de caminhão e operadores de linhas de produção da indústria.
Exemplo disso, segundo ele, são as vagas na economia digital ocupadas sem o vínculo do mercado formal, por youtubers, webdesigners e profissionais dedicados ao marketing digital conectado a vendas. “De casa, as pessoas se conectam a plataformas digitais. São novas possibilidades de emprego não mensuradas nas estatísticas oficiais.” (MV)