A onda de frio que atinge Minas - além de outras partes do Brasil - e tomou os noticiários nos últimos dias também afetará o bolso do consumidor. Isso porque agriculturores já contabilizam as perdas causadas por geadas que ocorreram na semana passada - e temem pelas novas quedas bruscas previstas pela meteorologia.
plantação de café de Lavras, no Sul de Minas. Ele já perdeu de 20% a 30% dos pés de café que estão nascendo para a colheita no ano que vem.
"É desanimador. É a sensação de que o trabalho de quatro anos foi jogado fora. Tudo que investimos corre o risco de não existir mais", lamenta o engenheiro agrônomo Eduardo de Carvalho Pena, dono de uma Em Minas, 541 município devem registrar de 10ºC até temperaturas negativas, com formação de geadas moderadas a fortes, a partir desta quarta-feira (28/7). A queda é causada por uma onda de ar polar que sobe gradativamente pelo país - e que chegou mais cedo ao Estado.
A informação do SIMGE (Sistema de Meteorologia e Recursos Hídricos de Minas Gerais) ligou o alerta na Emater-MG (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais), que já faz mutirões para tentar amenizar as perdas de agriculturores e produtores mineiros.
Vai ficar mais caro
Uma das ações da Emater-MG é justamente contabilizar o prejuízo já causado pelas geadas da última semana em lavouras frutíferas, floriculturas e pastagens, por exemplo. O levantamento em áreas produtoras de café já foi realizado - e o resultado não é animador.
De acordo com o relatório, estima-se que a geada afetou, aproximadamente, 156,3 mil hectares, o que corresponde a 17,2% da área ocupada com cafeicultura na região abrangida pelo levantamento. Isso significa que cerca de 9,5 mil produtores tiveram áreas de cafeicultura atingidas pela geada - e metade precisará recorrer a crédito ou seguro rural.
"Por consequência, o preço para o consumidor também vai aumentar", afirma Isaías Rocha de Melo Júnior, engenheiro agrônomo da Cooperativa Central dos Produtores Rurais (CCPR-MG), cujos alguns produtores já informaram que perderam toda a produção - e não só de café.
Café, feijão, milho e até leite
As plantações de café especialmente no Sul de Minas e no Triângulo foram atingidas pelo clima, mas não foram as únicas prejudicadas. Lavouras de morango, hortaliças e até os pastos que servem de alimentação para vacas leiteiras sofrem com as geadas, o frio e o tempo seco.
Alexandre Kurachi, gerente regional da Emater-MG em Pouso Alegre explicou que as temperaturas em algumas cidades da região, como em Delfim Moreira, onde os termômetros chegaram a marcar -10ºC na semana passada, deixaram todos preocupados.
"Se as expectativas de temperatura se concretizarem nesta semana, teremos danos irreversíveis em algumas lavouras", afirma.
Milho e feijão também sofrem com o tempo mais frio. Como estão no começo do processo de crescimento, temperaturas baixas "queimam" as folhas, como na plantação de Fernando Machado, em Pompéu, Centro-Oeste mineiro.
Ele ainda não consegue estimar qual será o tamanho do prejuízo para a lavoura, já que algumas plantas podem sobreviver ao frio mais intenso, mesmo com folhas danificadas.
"A folha é responsável por absorver o sol para fazer a fotossíntese (processo em que a planta cria nutrientes para se alimentar) para que os grãos sejam produzidos. Então, se elas estão queimadas, esse processo é prejudicado", explica.
E o leite?
Machado também tem vacas leiteiras. Apesar das temperaturas terem baixado na região, o tempo mais frio não prejudica as vacas holandesas, que são acostumadas a invernos mais severos. Porém, o produtor lembra que já há problemas acumulados devido à falta de chuvas.
"O tempo secou os pastos, que não estão apropriados para a alimentação dos animais. Temos que investir em milho, por exemplo. Ainda que estejamos com a colheita do ano passado, o preço já aumentou. É uma reação em cadeia", acrescenta.
Em cidades do Sul, Triângulo e Alto Paranaíba, já existem casos de produtores que notaram redução de 10% a 20% na produção de leite, o que pode encarecer - ainda mais - o produto nessas regiões.
A reportagem também conversou com alguns produtores de morango, que tem lavouras no Sul do Estado. Minas Gerais é o maior produtor nacional da fruta, com mais de 2,8 mil hectares plantados e produção de 139 mil toneladas.
Alguns mantém os morangos em estufas, portanto não sentiram os efeitos das temperaturas baixas, porém outros estimam perdas de até 20% nos cultivos.
Temperaturas abaixo de 0ºC (de novo)
O alerta emitido pelo SIMGE prevê geadas em áreas do Triângulo Mineiro, sul da região Noroeste e Central, entre quinta-feira (29/7) e sábado (31/7).
Sul de Minas e Campo das Vertentes devem registrar temperaturas abaixo de 0ºC nas madrugadas de sexta e sábado, o que deverá provocar geada de média a forte intensidade na mesorregiões.
"A angústia de saber quais pés que vão 'virar', quais se perderam de vez é grande. Temos compromissos assinados a longo prazo, pagamentos a realizar. Não sabemos o que vai acontecer", acrescenta o engenheiro agrônomo Eduardo de Carvalho Pena.
Ajuda aos produtores
A Emater-MG elaborou uma cartilha para os produtores afetados pelas geadas. Uma das principais recomendações, neste momento de emergência, é se informar se a área atingida está coberta por seguro agrícola e não realizar nenhuma intervenção na lavoura antes da perícia técnica do profissional habilitado para avaliar os danos.
Para facilitar o levantamento dos prejuízos, é interessante elaborar um croqui (desenho), se possível com informações georreferenciadas dos talhões e áreas atingidas, além de registros fotográficos, de preferência com data. No momento, não é indicado realizar nenhum trato cultural, como poda, recepa ou erradicação de plantas. O conteúdo completo da cartilha pode ser acessado AQUI.
Para ter mais informações, os produtores podem procurar o escritório local da Emater do seu município ou entrar em contato por meio dos telefones ou e-mails, disponíveis no site da empresa: www.emater.mg.gov.br.
De acordo com o diretor-presidente da Emater-MG, Otávio Maia, serão promovidas ações conjuntas para auxiliar os produtores a superar essa situação, além de levantamentos específicos sobre demais cultivos prejudicados pela geada. Segundo apurou o Estado de Minas, até quinta-feira (29/7), por exemplo, devem ser divulgados dados sobre prejuízos nas lavouras frutíferas, floriculturas e pastagens.
"Já estamos disponíveis para fornecer os laudos necessários, tanto para os prefeitos decretarem estado de calamidade, e também para os agricultores terem o respaldo na liberação de seguro rural e financiamento para a recuperação das lavouras", afirmou.
Além disso, técnicos fazem uma espécie de força-tarefa de orientação para que os produtores possam retomar suas atividades, em especial na cafeicultura, que responde pela maior parte do Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária em Minas Gerais.
Os técnicos da Emater em todos os municípios afetados pelas baixas temperaturas estão orientando e auxiliando os produtores rurais para lidar com os impactos negativos das geadas, sobretudo para produtores cuja atividade possui financiamento bancário, acompanhado de seguros em caso de mudanças climáticas nas lavouras em que isso é possível (o que não é o caso das hortaliças, por exemplo, em que não existe seguro)
Agricultura familiar também sofre
Em Campina Verde, no Triângulo Mineiro, são as hortaliças e vegetais que sofrem com o frio. Além das perdas de produção, há um elemento a mais: a perda da renda familiar.
É porque a maioria dos produtores são formadas por famílias pequenas, que tem parcerias com escolas, comercializando itens da chamada 'cesta verde' para a merenda.
Márcia Helena Barbosa, técnica em bem-estar social da Emater-MG na cidade, contou que muitas famílias estão desesperadas, pois perderam todas as produções.
"Algumas dessas famílias já comercializavam pro Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), e com vários editais abrindo agora, com a retomada das aulas, perderam a possibilidade de vender seus produtos para este programa que tem um contrato, uma importante estratégia de venda. Outros iriam começar a comercializar agora e também perderam essa oportunidade", detalha.
A orientação dada para eles neste momento não é reconfortante, mas é a única possível, segundo a técnica: "esperar passar esse período e voltar a produzir. Não há outra coisa a se orientar", complementa.
Com informações da Emater-MG