Algumas operadoras de aplicativos de transporte lançam pacotes, descontos e estimulam negociações entre motoristas para contrapor a constante alta dos combustíveis no país. Somente nos últimos 17 dias, os preços médios do litro de gasolina tiveram aumento de 3,07% na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e do álcool 13,96%, segundo pesquisa do site Mercado Mineiro.
A evasão de motoristas é sentida por alguns clientes, medida pela frequência de cancelamentos de viagens, e pelos motoristas que admitem a devolução de carros alugados e a perda de veículos financiados. As plataformas negam a falta de profissionais. A alegação é de que com a alta do desemprego, há forte migração de profissionais para a função de condutor de veículos por aplicativos. Também a adesão de clientes da classe C e retomada de uso dos serviços das classes A e B garantiriam a continuidade do serviço.
Em nota a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec) informou que as empresas associadas "estão atuando dentro de suas características de operação e implementando medidas voltadas a preservar o equilíbrio de mercado entre oferta e demanda, considerando tanto a atividade dos motoristas quanto a realidade econômica dos usuários".
Diz ainda a nota da entidade que as empresas associadas não têm verificado redução no número de motoristas parceiros ativos, as plataformas se mantêm abertas e continuam cumprindo papel fundamental no contexto das crises sanitária, social e econômica.
Segundo a associação, "os ganhos de cada parceiro são muito particulares e variam conforme escolhas pessoais relacionadas aos dias, locais e horários que preferem dirigir, o modelo de veículo utilizado, o tipo de combustível", entre outras decisões permitidas pela flexibilidade do serviço.
A plataforma 99 diz que lançou pacote de apoio aos motoristas parceiros em apoio à retomada das atividades econômicas nas cidades. Com o pacote, a empresa estima injetar mais de R$ 570 milhões ao PIB brasileiro até dezembro, além do valor já gerado pela atividade intermediada pela companhia. Em 2020, este montante foi de R$ 15 bilhões, segundo um estudo da Fipe, que considera o impacto econômico da renda obtida pelos motoristas parceiros, gasta em seus custos operacionais (como alimentação e combustível) e no consumo de suas famílias (bens e serviços em geral).
"Esses valores mostram como a atividade da 99 é importante para a economia brasileira e nosso compromisso é continuar apoiando a geração de renda pelos parceiros da plataforma. Com esse pacote, nosso objetivo é retomar o equilíbrio da operação, levando em consideração a nova realidade do serviço, como o crescimento do volume de chamadas por meio da plataforma, impulsionado pela adoção em massa da modalidade pelas pessoas da classe C", declara Livia Pozzi, diretora de Operações e Produtos da 99.
Desde o início da pandemia, a 99 vem observando um aumento do volume de pedidos na plataforma pela população da classe C. "Sem o privilégio do trabalho remoto, as pessoas com menor renda passaram a utilizar mais transportes por aplicativo. Uma pesquisa Datafolha constatou que, entre as pessoas da Classe C, 40% afirma ter aumentado a frequência de utilização do app em 2020 e 31% começou a utilizar a modalidade por causa da pandemia", explica Livia Pozzi.
Para a diretora, a classe C representa a maior fatia de usuários da plataforma, também devido aos preços acessíveis praticados pela empresa. "O aumento da gasolina impacta todos os setores, mas o de transporte sente os efeitos primeiro. Nosso compromisso com a sociedade é continuar garantindo a geração de renda aos nossos motoristas parceiros, mas também seguir promovendo o acesso à mobilidade por parte das pessoas que precisam do serviço."
Somada a este aumento, a retomada das atividades econômicas no início de 2021 fez as classes A e B voltarem a utilizar o serviço, intensificando o volume de chamadas solicitadas por meio da plataforma. Para incentivar a disponibilidade de motoristas, a 99 está promovendo pelo segundo ano consecutivo a campanha Direção Premiada, que sorteará oito carros de R$ 80 mil, uma casa no valor de R$ 200 mil, além de prêmios semanais.
A Uber diz que adota medidas sociais para auxiliar o enfrentamento à pandemia e desde o início mantém um fundo para apoiar motoristas parceiros. "A maior parte dos recursos foi dedicada a oferecer assistência financeira aos parceiros que precisaram parar de trabalhar por recomendação médica. Apenas em 2020, foram transferidos 30 milhões de dólares com esse auxílio aos parceiros em todo o mundo. Motoristas e entregadores parceiros também podem solicitar, por meio do próprio aplicativo, reembolso para itens de proteção, como álcool em gel e máscaras."
Para Paulo Xavier, presidente da Associação Frente de Apoio Nacional ao Motorista Autônomo (Afanma) o motorista quer é dignidade e dinheiro no bolso. "Reconhecimento de um trabalho justo e de qualidade. Toda cadeia produtiva dos custos com o carro do motorista de aplicativos fica nas costas dos motoristas."
De acordo com o dirigente da associação as campanhas são uma forma de forçar o motorista aceitar mesmo as corridas que financeiramente são inviáveis, "uma vez que se ele recusar, passa a não poder concorrer ao incentivo. Quando o motorista fecha diária comparando km/rodado com o valor faturado (mesmo com incentivo) ele muitas vezes não faz o suficiente para cobrir os custos ou o resultado é mínimo".