O nível baixíssimo do espelho d’água da Lagoa dos Ingleses, no Alphaville, assustou quem passou pela região de Nova Lima nos últimos dias. A imagem da lagoa seca, que gerou desconforto, foi registrada pelo Estado de Minas no domingo. A reportagem apurou que o reservatório teve de ser ‘esvaziado’, sinal da grave crise hídrica que afeta Minas Gerais e outros estados. A medida foi tomada como parte da estratégia para garantir o abastecimento de água da população de Belo Horizonte e região metropolitana.
O processo foi iniciado em 21 de agosto pela mineradora Anglo Gold Ashanti, que administra o complexo de reservatórios da região, conhecida como Lagoa dos Ingleses – a Lagoa Grande e a Lagoa das Codornas. Solicitaram o esvaziamento o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Velhas) e o grupo Gestor de Vazão do Alto Rio das Velhas (Convasão). “O objetivo é regularizar a vazão do Rio das Velhas e contribuir com o abastecimento de água na Região Metropolitana de BH”, informou a Associação Geral Alphaville Lagoa dos Ingleses.
Cerca de 60% do abastecimento da capital e região metropolitana tem origem na captação do Sistema Rio das Velhas; os outros 30% são fornecidos pelo Sistema do Paraopeba. Embora os reservatórios do Paraopeba estejam com volumes de 70%, acumulação considerada alta, não é possível fazer a transposição para o Sistema Rio das Velhas, como explica Marcus Vinícius Polignano, secretário do CBH Rio das Velhas. A saída, então, é recorrer ao Sistema do Ribeirão do Peixe.
“Isso vai repercutir no espelho d'água da lagoa, é inevitável. É preciso que todos entendam que pela Lei 9.433, a prioridade em termos do uso d'água é o abastecimento humano. Uma cidade, do porte de Belo Horizonte, tem um peso maior. Isso dá dimensão do tamanho do problema que a gente tem na mão”, defende Polignano.
Ele reforça que o Sistema Paraopeba não substitui o Velhas, fundamental para o abastecimento de cidades da Grande BH, como Sabará, Nova Lima e Raposos, que dependem do Rio das Velhas. No entanto, as lagoas Grande, das Codornas e Lagoa do Miguelão integram a Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Peixe, que está interligada ao Sistema Rio das Velhas.
A Anglo Gold Ashanti libera no Velhas, antes da Estação de Captação de Bela Fama, 3 metros cúbicos por segundo, o que representa 25% da vazão do principal sistema que abastece a capital. “Se Anglo desligar o sistema dela e não jogar nenhuma gota para dentro do Rio, significaria o colapso de BH. Não teríamos vazão para abastecer a capital. A vazão do Rio das Velhas está batendo em 10 metros cúbicos, então contamos com o vem do Sistema do Peixe”, afirma Polignano.
“O reservatório de Codornas chegou no limite dele. Ela está no volume morto, praticamente não tem mais volume residual”, afirma. Como a Lagoa das Codornas praticamente secou, foi necessário abrir as comportas da Lagoa Grande. “É como se fosse um monte de caixa d'água ligadas. Estamos vivendo um momento de crise, situação crítica, em que o paciente está na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo)”, completa Polignano.
Em junho foi emitido alerta de emergência hídrica pelo Sistema Nacional de Meteorologia (SNM), que informou que a escassez atingiria, entre junho e setembro, Minas e outros estados. Em nota, a A AngloGold Ashanti informou que, em atendimento à demanda do CBH Velhas e do Convasão, realiza a transferência gradativa e monitorada de água da Lagoa Grande para a Lagoa das Codornas, ambas localizadas no município de Nova Lima, com o objetivo de regularizar a vazão do Rio das Velhas e contribuir com o abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) informou que a participação do Sistema Ribeirão do Peixe na vazão do Rio das Velhas está em torno de 3 metros cúbicos por segundo.