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Estado de Minas COMÉRCIO EXTERIOR

Brasil minimiza casos de vaca louca, mas exportação para China é suspensa

Vendas ao país asiático ficarão interrompidas até que as autoridades avaliem os resultados da investigação das ocorrências


05/09/2021 04:00 - atualizado 05/09/2021 08:22

De acordo com Ministério da Agricultura, ocorrências atípicas da doença são excluídas para efeito do reconhecimento do status do risco do país
De acordo com Ministério da Agricultura, ocorrências atípicas da doença são excluídas para efeito do reconhecimento do status do risco do país (foto: Luiz Ribeiro/DA Press - 24/6/19)
Foram confirmados nesse sábado (4/9) os casos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), conhecida como mal da vaca louca, na forma atípica, em um frigorífico de Belo Horizonte e outra empresa de Nova Canaã do Norte, no Mato Grosso. O Estado de Minas apurou que o aninal identificado com a doença na capital mineira foi adquirido em uma fazenda do Norte de Minas Gerais.

A Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) suspendeu as exportações de carne bovina à China assim que confirmou o diagnóstico, em atendimento a protocolo sanitário firmado entre os dois países. O mal da vaca louca é considerado atípico quando se origina dentro do próprio organismo do bovino, normalmente em animais com idade mais avançada.
 
Ao comentar os casos, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina minimizou as ocorrências. “Eu quero só tranquilizar a população de que é um caso atípico, não tem problema para a saúde pública. Os casos foram isolados, então, agora o ministério vai tomar todas as providências e dizer que isso não acontece só no Brasil e quando esse caso é achado é porque a gente está verificando, senão, não achava”, disse, durante evento em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
 
A ministra afirmou que a pasta continuará com todos os protocolos existentes para várias doenças e destacou que também foram registrados casos na Espanha, Bélgica e Estados Unidos. Tereza Cristina reafirmou ser função e missão do Mapa fazer inspeção e fiscalização e “por isso o caso foi encontrado, ou seja, o Mapa está cumprindo com sua obrigação”, argumentou.
 
Os dois casos foram detectados em animais com vida, duas vacas de descarte que apresentavam idade avançada e estavam em decúbito nos currais, de acordo com nota emitida pela Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa. Ogoverno brasileiro notificou oficialmente a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), como de praxe. São, respectivamente, o quarto e quinto casos de EEB atípicos registrados em mais de 23 anos de vigilância contra a doença.
 
De acordo com a Secretaria de Defesa Agropecuária, o Brasil nunca registrou a ocorrência de casos de EEB clássica. A pasta informou, ainda, que as ações sanitárias de mitigação de risco foram concluídas antes mesmo do resultado final do material dos animais pelo laboratório de referência da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), em Alberta, no Canadá. “Portanto, não há risco para a saúde humana e animal”, diz trecho da nota divulgada ontem à imprensa.
 
Em relação às exportações brasileiras de carne bovina à China, os embarques ficarão suspensos temporariamente. A medida, que passou a valer ontem, se estenderá até que as autoridades chinesas concluam avaliação sobre as informações já repassadas a respeito dos casos detectados.
 
O ministério observou que a OIE exclui a ocorrência de casos de EEB atípica para efeitos do reconhecimento do status oficial de risco do país. “Desta forma, o Brasil mantém sua classificação como país de risco insignificante para a doença, não justificando qualquer impacto no comércio de animais e seus produtos e subprodutos”, diz a nota do Mapa.

Fundo de prevenção


Sete entidades ligadas à agropecuária vão criar um fundo privado para dar suporte às ações de defesa sanitária com o propósito de prevenir e combater doenças que possam atacar os rebanhos em Minas Gerais. O anúncio foi postado em vídeo na página da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), com mensagem do  superintendente técnico da instituição, Altino Rodrigues Neto.
 
O superintendente técnico disse, após confirmados os casos da doença, estranhar “tanto alarde”. “Os órgãos de defesa fazem isso diariamente, coletam material de várias suspeitas de doenças e praticamente todo dia tem alguma possível doença, de notificação obrigatória em diversas espécies animais.”
 
Ele criticou o destaque dado pela mídia para um caso “atípico” o que causaria desconfiança do consumidor. 
 
Miguel Daoud, analista econômico e político, e especialista em agronegócio, diz que mesmo tratando-se de caso atípico, “sem riscos à saúde da população”, é necessário aguardar para saber se haverá impactos tanto nas exportações, quanto no consumo interno.  O analista observa que o consumo interno já apresentava enfraquecimento e que a sustentação dos preços, de certa forma, eram as exportações.

Norte de Minas aguarda o rastreio

O animal sacrificado devido ao caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), conhecida como mal da vaca louca, detectado em Belo Horizonte foi adquirido de uma propriedade rural do Norte de Minas Gerais. A informação foi confirmada na tarde de ontem ao Estado de Minas pelo presidente do Sindicato Rural de Montes Claros, José Avelino Pereira Neto.
 
Ao comentar a repercussão do fato, Avelino Neto procurou tranquilizar a população de que, por trata-se da EEB atípica  – e não  clássica –,  não há motivo de apreensão em relação ao consumo de carne ou riscos de contaminação para a  saúde pública. O caso atípico surge do próprio organismo do animal, em geral com idade avançada. Outra preocupação é evitar que o caso venha a provocar  prejuízos à economia do Norte de  Minas, já abalada pela seca.
 
O animal foi vendido para um frigorífico de Belo Horizonte. As autoridades brasileiras do segmento confirmaram ontem o diagnóstico e um outro caso em Nova Canaã do Norte (MT). O presidente do Sindicato Rural de Montes Claros disse, ainda, que so teve a confirmação de que o animal diagnosticado com o caso atípico da doença da vaca louca é do Norte de Minas, mas sem detalhes sobre a propriedade e o município de origem.
“O IMA (Instituto Mineiro de Agropecuária) ainda fazer um rastreamento da propriedade. Sabemos que trata-se de um mais velho, com mais de 10 anos”, disse Avelino Neto. “Temos que aguardar o trabalho do IMA, que é o órgão de fiscalização sanitária do estado, para ver o que será detectado no rastreamento e quais medidas mais adequadas deverão ser adotadas na referida propriedade”, completou;.
 
Ele enfatizou que não  há nenhum motivo para apreensão sobre riscos de contaminação e que as pessoas podem continuar consumindo carne do Norte de Minas normalmente. Da mesma forma, o comércio de gado na região segue inalterado, sem nenhuma restrição. “Não há razão para apreensão ou pânico. Foi um caso da doença atípica, em um único animal, em uma única propriedade. Não foi a doença clássica”, afirmou o dirigente do Sindicato Rural.
 
“O IMA também vai fazer um rastreamento saber qual o verdadeiro motivo do diagnóstico deste animal”, afirmou José Avelino Neto, lembrando que os produtores do Norte de Minas seguem as normas sanitárias e não usam nenhum tipo de ração (proteína de origem animal) que representa risco de contaminação da doença da vaca louca clássica. (LR)

Cerca de 60% das vendas tem a Ásia como destino 

As exportações brasileiras totais de carne bovina, in natura e processada, subiram 11% em agosto na comparação com o mesmo mês de 2020, de 191.141 para 211.850 toneladas. A receita teve aumento em relação ao verificado no mesmo período do ano passado, de 0,56%, para US$ 1,175 bilhão. Os dados foram divulgados pela Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), com base em dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia. É a primeira vez na história desse mercado que o país ultrapassou a barreira das 200 mil toneladas exportadas num único mês, informou a Abrafrigo.
 
No acumulado dos oito primeiros meses do ano, o volume de exportações recuou em relação ao mesmo período de 2020, em 1%,  com embarques de 1,283 milhão de toneladas. Contudo, a receita de US$ 6,26 bilhões foi 15% maior na mesma comparação. As compras da China proporcionaram 59% da receita e do volume exportado. Em julho, o país asiático havia adquirido 100.962 toneladas da carne bovina in natura e processada brasileira.
 
De acordo com a Abrafrigo, o país foi beneficiado pela diminuição da oferta no mercado internacional após a redução das exportações argentinas, devido à política de combate à inflação local, e da Austrália, onde o rebanho ainda não se recuperou de sucessivas perdas devido a secas e enchentes.
 
Depois da potência asiática, o segundo maior importador da proteína bovina brasileira até agosto foram os Estados Unidos. Segundo a entidade, o país adquiriu 66,467 mil toneladas no período, alta de 92,7% ante 2020. O Chile ocupa a terceira posição, com 62.621 mil toneladas, avanço de 24,4% frente ao resultado de  2020. Em seguida, ficaram Egito, com 35,495 mil toneladas (-54.9%); Filipinas, com 35,495 mil toneladas (+38,3%), e os Emirados Árabes, que compraram 29,056 mil toneladas ( 13,5%). No total, segundo a Abrafrigo, 88 países aumentaram suas importações enquanto outros 75 reduziram suas compras.

Origem e análise

A  Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) atípica surge da deformação originada de uma proteína que o próprio corpo do animal fabrica, o que leva especialistas a descartar a possibilidade de contaminação por ingestação. O Brasil proíbe a produção e alimentação de gado com proteína animal e há fiscalização rigorosa. Os protocolos sanitários brasileiros também vetam a utilização de farinha de carne na alimentação dos animais. Acordos intenacionais determinam que qualquer país, diante de uma suspeita de ocorrência do mal da vaca louca, suspenda a venda de carne e execute medidas de detecção, isolamento e análise da doença e sua origem.


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