Nesta segunda-feira (13/9) é comemorado o Dia Nacional da Cachaça. A data é celebrada desde 2009 e faz referência à uma bebida que surgiu quase ao mesmo tempo que o próprio país. Com a pandemia, porém, o setor sofreu a maior queda de consumo em cinco anos, com uma redução de 23,8% em 2020. Isso se deve, principalmente, pelo fechamento de bares e restaurantes em todo país, os principais locais de consumo do destilado.
Todos os setores produtivos foram atingidos pelas mudanças provocadas pelo coronavírus. Entre os produtores da cachaça, houve queda no consumo e faturamento. Segundo Carlos Lima, diretor executivo do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), o principal motivo foi o fechamento dos bares e restaurantes.
"O fechamento de bares e restaurantes impactou de uma forma muito dura o setor. Eles representam cerca de 70% do consumo. A cachaça, ao contrário de outras bebidas, não conseguiu migrar para o consumo doméstico, como o vinho e cerveja. Por depender tanto dos bares, restaurantes e não conseguir migrar para as casas, além das proibições de consumo de bebidas alcóolicas em muitos municípios, nosso setor teve redução de 23,8% em 2020", disse o diretor executivo do Ibrac.
Com dados da Euromonitor International, o tamanho de mercado de Cachaça no Brasil em 2020 foi de 399 milhões de litros. O faturamento também caiu, segundo Carlos Lima: "Já em relação ao faturamento, houve redução de 20,9%".
Segundo o Anuário da Cachaça 2021, feito pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o número de estabelecimentos produtores de cachaça e de aguardente registrados no ministério cresceu 4,14 % no último ano.
Minas Gerais lidera o ranking com 397 locais registrados. Em seguida, estão os estados de São Paulo (128), Espírito Santo (67), Rio de Janeiro (64) e Santa Catarina no 5º lugar, com 47 produtores registrados.
O estudo também revelou o número de marcas de produtos classificados como Cachaça e Aguardente de Cana registradas no Ministério. Em 2020 foram 5.523, enquanto 2019, eram 4.705 registros.
Data comemorativa
O Dia Nacional da Cachaça é uma iniciativa do Ibrac, que foi lançada em junho de 2009, durante a Expocachaça de Belo Horizonte, se tornando um Projeto de Lei por iniciativa do Deputado Valdir Colatto, de Santa Catarina.
Segundo o Ibrac, a escolha da data não foi aleatória. Com uma longa história, a bebida começou a ser produzida, pela primeira vez de forma intencional entre os anos de 1516 e 1532. Ao longo dos séculos, enfrentou preconceitos e chegou a ser proibida por diversas vezes no Brasil Colônia.
Os impedimentos originaram a Revolta da Cachaça, um movimento que abriu caminho para a legalização da bebida, que ocorreu em 13 de setembro de 1661. "O caminho rumo à valorização da bebida tem sido longo, mas está em um estágio melhor do que já foi, principalmente devido à valorização no Brasil, nos últimos anos, de produtos tradicionais", afirma o Ibrac.
Dificuldades do setor
Apesar do crescimento, o índice de informalidade no setor continua preocupante. Atualmente, 89% de produtores não estão cadastrados no MAPA e isso causa uma série de problemas. O índice é obtido na comparação com aqueles identificados pelo Censo Agropecuário do IBGE de 2017.
Segundo Carlos Lima, "a informalidade é um grande problema pra todo mundo, porque um produtor ilegal ou informal não recolhe tributos, então do ponto de vista de arrecadação, há uma perda de muito grande. O IBRAC divulgou um estudo no início de 2019 mostrando que o Brasil perde R$ 10 bilhões por ano, em função de ilícitos no mercado de bebida alcoólica como um todo, não é só a cachaça, são todas as bebidas", explica.
Outro ponto crítico gerado pela informalidade é a qualidade dos produtos. "Um produto que é comercializado e produzido de maneira ilegal não tem nenhuma garantia para o consumidor de que está apto para o consumo", continua.
"Na cachaça isso é ainda pior, porque existe um folclore em relação ao consumidor e à própria cachaça, que muitos acham que bebida boa é aquela artesanal, feita no fundo de uma propriedade, que o produto é comercializado sem rótulo ou em garrafa pet. O consumidor não sabe que produto está comprando, o que pode gerar um problema de saúde pública", explica Carlos Lima.
O terceiro problema é em relação concorrência desleal, já que os produtores registrados recolhem tributos, passam por fiscalização e os ilegais não têm nenhum tipo de regulamentação.
Entre os diversos motivos que levam à informalidade no mercado, segundo o diretor executivo do Ibrac estão:
- Falta de fiscalização eficiente: isso faz com que o mercado dos produtores ilegais se multiplique;
- Falta de informação ao produtor: muitas vezes o produtor ilegal, mas não sabe como se legalizar;
- Falta de informação para o consumidor: quem realiza a compra também precisa ser alertado sobre a origem do produto;
- Conscientização dos bares e restaurantes: precisam saber a importância de não comercializarem produtos ilegais;
- Alta carga tributária: incentivo para informalidade.
"O Brasil vive um cenário tributário que pode proporcionar o aumento do mercado ilegal, ainda mais quando olhamos as reformas tributárias que estão no Congresso Nacional, que podem aumentar ainda mais a tributação. Sabemos que quanto maior a tributação, chega um ponto que você não arrecada mais, então você tem um incentivo para não ser legalizado", explicou Carlos Lima.
ExpoCachaça 2021
A 30ª edição da ExpoCachaça está de volta em 2021 e já tem data. Neste ano, a feira acontecerá em paralelo com a 14ª edição do BrasilBier, unindo a cadeia produtiva de cervejas artesanais e cachaça.
O evento acontecerá entre os dias 25 e 28 de novembro, voltando a ser realizado na Serraria Souza Pinto, em Belo Horizonte. Segundo José Lúcio Mendes, presidente e promotor dos eventos, a data foi reajustada para alcançar o momento em que quase toda a população de BH estará completamente vacinada.
"Estávamos programados para que o evento ocorresse em outubro, mas achamos por bem alterar para novembro, quando teremos praticamente 100% da população de Belo Horizonte, Região Metropolitana, municípios mineiros e de outros estados já vacinados. Além disso, teremos alguns eventos realizados em agosto, setembro e outubro que servirão para observarmos os protocolos adotados", disse Mendes.
"Até novembro, esses protocolos deverão ter flexibilização, especialmente para a presença de público, que ajudará no formato da Expocachaça e Brasilbier que tem shows em sua programação, acústicos e com as bandas no mezanino da Serraria", finaliza.
*Estagiária sob supervisão do subeditor João Renato Faria