Japonvar/Mirabela – Nascido na localidade de Porteiras, na zona rural de Japonvar, no Norte de Minas, o produtor rural e comerciante Ednaldo Pereira Barbosa, de 52 anos, recorda sempre da infância. Assim como os demais moradores do lugar, sua família catava o pequi no mato durante o período da safra (dezembro a fevereiro) e usava o fruto como alimento e na extração do óleo ou, às vezes, para fazer sabão.
“Realmente, nunca imaginei isso. Eu achava que era impossível fazer cerveja com o pequi. Ainda quero experimentar”, afirma Ednaldo, que se transformou em um grande vendedor do fruto nativo. Somente na safra 2020/2021, ele comercializou 750 toneladas, enviadas em caminhões para diferentes partes de Minas e outros estados. Ainda comemorando os lucros da colheita anterior ele já pensa no faturamento da futura safra do pequi, cuja floração se aproxima.
A produção da bebida artesanal com a matéria-prima do fruto-símbolo, a “Pequi do Norte”, é feita pela Wäls, empresa da Ambev, gigante da produção nacional de cerveja. Sediada em Belo Horizonte, ela foi adquirida em 2015.
A receita foi desenvolvida pelo médico e cervejeiro Vitor Hugo Guimarães, dono da Cervejaria Berzalai, de Montes Claros (Norte de Minas), com a qual a Wäls estabeleceu parceria. Ela foi incrementada pelo mestre cervejeiro Célio Gutstein, da empresa belo-horizontina.
A bebida é feita a partir do processamento da polpa (“carne”) do fruto. A Pequi do Norte está no mercado desde 2020 e todos os lotes foram voltados exclusivamente para o Norte de Minas. Não foi informada a produção anual. Mas o EM apurou que o envase é em torno de 10 mil litros por ano, com produção sazonal e limitada.
O estilo base é o da New England Ipa, com amargor presente, corpo moderado e com várias camadas de aromas tropicais gerados pelo uso abundante de lúpulos. “É uma cerveja com equilíbrio entre dulçor e amargor, com alta intensidade aromática e marcada pela interação entre os lúpulos e o pequi do norte de Minas”, analisa Gutstein.
Vitor Hugo Guimarães conta que começou a produzir com a matéria-prima do pequi em 2014. E, em 2019, iniciou a parceria. “Demorei um pouco para acertar a receita. Descobri que a polpa não poderia ter sal, que também não poderia ter tempero. O óleo de pequi também atrapalha na produção da espuma da cerveja”, detalha, lembrando fez vários testes até chegar à receita ideal.
GELADO OU EM CÁPSULAS As propriedades do pequi, rico em nutrientes como as vitaminas A, C e E, levaram a indústria a criar cápsulas da “carne do sertão”. Em óleo, o produto está no mercado há cinco anos, controlado pela empresa Naiak, de Brasília/DF. O princípio é anti-inflamatório. A Naiak se baseia em pesquisa desenvolvida pela Universidade de Brasília (UnB) ao longo de 18 anos.
O estudo citado contou com participação de 126 atletas, que correram uma maratona e fizeram os exames iniciais. Em seguida, ingeriram 400mg de óleo de pequi em cápsulas durante 14 dias. Realizaram nova prova e repetiram os testes. “Os resultados indicam que, após ingerirem as cápsulas, tiveram menores indícios de inflamações musculares, danos no DNA das células e estresse oxidativo”, relata a Naiak.
No campo gastronômico, uma das derivações do fruto nativo é o sorvete, produzido e comercializado em Montes Claros, no Norte de Minas, pelo empresário Luciano Magalhães. Ele adquire in natura diretamente de pequenos produtores da região. A polpa é extraída é congelada.
“Na fabricação, retiramos a gordura”, detalha Luciano, explicando que a técnica faz com que a sobremesa não tenha mais o gosto forte característico do pequi.