Entre longos períodos de fechamento e reaberturas instáveis, as academias de Belo Horizonte completam pouco mais de quatros meses em funcionamento desde a mais recente flexibilização das atividades econômicas adotada pela prefeitura. Antes alvo de polêmicas e até de protestos dos proprietários envolvendo a definição de medidas para conter a pandemia de COVID-19, o setor vê agora o retorno de fluxo intenso de ansiosos praticantes de exercícios físicos dentro desses espaços equipados.
Higienização constante, controle do número de pessoas por sala, disponibilização de dispensers de álcool em gel em áreas compartilhadas, uso obrigatório de máscara de proteção e a conscientização dos próprios usuários passaram a fazer parte do dia a dia desses endereços da cidade, atendendo às exigências das autoridades sanitárias. Boa notícia para os empreendedores do ramo é que novos clientes contratam o serviço, sinal de recuperação da atividade e dos investimentos feitos.
Desde domingo, o Estado de Minas publica série de reportagens sobre a retomada das atividades do comércio e das empresas do setor de serviços. O avanço da vacinação, embora lenta no Brasil, é fator determinante para a recuperação, como avalia o coordenador da rede D2 Fit, Iago Bessa. “Cada vez mais alunos retornam para a academia. Alguns estavam esperando apenas a vacinação avançar um pouco para ter mais segurança nesse retorno. Mas, também estamos tendo muitos novos alunos que não se enquadravam no nosso perfil, como os idosos e pessoas que nunca frequentaram academia e estão nos procurando agora”.
Os centros de ginástica estão autorizados a funcionar todos os dias, inclusive aos domingos, algo que em momentos críticos da pandemia pareciam longe de ocorrer, já que, o setor não foi enquadrado como serviço essencial para efeito das medidas de combate ao coronavírus. Somente em 19 de abril último, depois de mais 50 dias corridos do mais intenso isolamento para controle da COVID-19 na capital mineira, a prefeitura autorizar o funcionamento de serviços não essenciais.
Nas unidades da D2 Fit, localizadas nas regiões Central e Centro-Sul de BH, Iago Bessa conta que a recente reabertura das aulas presenciais no ensino superior também contribuiu para o retorno dos usuários, assim como a volta do trabalho presencial nas empresas. “Algumas pessoas que trabalhavam aqui perto e frequentavam a academia continuam em home office. Mas aqueles que não estão mais nesse sistema, já estão voltando. O público das faculdades que estão perto aqui da gente também já começa a voltar”, afirma.
Na BH Fitness, a proprietária, Fabiana Almeida, demonstra otimista apesar dos desafios impostos ao setor. Desde a reabertura das lojas da rede, o fluxo diário de clientes tem sido constante e se aproxima do ritmo normal que a empresa registrava antes da pandemia. “O início foi bem difícil. Nos períodos de fechamentos, nossa maior preocupação era continuar mantendo contato com os alunos. Fizemos gravações de aulas on-line e lives diariamente. O aluno teve continuidade das aulas em casa. Também trabalhamos com o aluguel de bikes e acessórios”, destacou.
Confiança
Um dos fatores que ajudam na retomada, para Fabiana, é que a própria doença respiratória despertou as pessoas para os cuidados com o corpo. “Há uma preocupação maior com a questão da obesidade, diabetes e outros problemas que estão associados aos grupos de risco da doença. As pessoas estão voltando de forma gradativa, quanto mais a vacinação avança mais as pessoas voltam. Quem está vindo está animado, confiante e com uma frequência boa”, diz Fabiana Almeida.Iago Bessa, coordenador da D2 Fit, concorda e observa que o cumprimento dos protocolos sanitários tem reduzido a insegurança. “Com o avanço da vacinação, as pessoas estão se sentindo mais seguras. Ver na academia todos os protocolos sendo cumpridos também diminui essa insegurança.”.
Houve investimento ainda na estruturação das academias para atender às exigências de distanciamento e outras formas de prevenção contra o contágio pelo coronavírus. A D2 saiu de imóvel com 800 metros quadrados para ocupar área de 2 mil metros quadrados. “Também investimos em novos equipamentos, treinamentos dos nossos assessores e materiais de proteção. Foi pesado, mas conseguimos sobreviver graças a uma organização”, diz Bessa.
Para atender aos protocolos sanitários de prevenção à COVID-19, os aparelhos de ginástica são desinfetados três vezes ao dia, e a limpeza foi reforçada, principalmente, nos banheiros e vestiários. Na D2 Fit, os alunos têm que agendar atendimento na academia por meio de aplicativo. O treino é interrompido se o aluno for visto sem máscara de proteção nas salas. Se houver recusa ao uso de máscara, ele não poderá permanecer na academia.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Marta Vieira
Novatos dão ânimo ao caixa
O entusiasmo dos emprendedores das academias com a retomada da atividade é compartilhado pela estudante Milene Stefany, de 18 anos. Para ela, a maior dificuldade durante a pandemia foi conseguir manter a regularidade dose exercícios em casa, embora sem o ambiente típico das salas de ginástica e o apoio de profissionais. “Foi realidade completamente diferente. Não consegui malhar tanto quanto na academia. Meu rendimento aqui é muito maior”, disse.
A frequência de Milene na academia também cresceu. “Quando a pandemia chegou, eu parei e meu corpo pediu mais exercícios. Fiquei mais sedentária e também mais frágil para outras doenças. Agora não pretendo parar mais”, completou. Relatos como o da estudante levam esperança às empresas do setor, que apostam em crescimento da atividade, superando, inclusive, o ritmo pré-pandemia.
“Nossa expectativa é de que possamos voltar à normalidade daqui a algum tempo. Percebemos que o mercado cresceu. Algumas especulações falavam que nossa produção iria acabar daqui alguns anos, que seríamos substituídos por tecnologias ou blogueiros. Mas a pandemia mostrou algo diferente”, diz Iago Bessa, da D2 Fit.
A meta, que pode parecer arriscada se ampara em nova demanda de pessoas que não se exercitavam antes da pandemia, de acordo com Bessa. “Os números apontam que pessoas que antes não tinham feito exercícios em academias estão nos procurando. Na pandemia, elas ficaram em casa sem convívio e o corpo pediu para que o exercício físico ajudasse”, afirma.
Entre as regras de funcionamento das academias de ginásticas estabelecidas pela Prefeitura de BH estão: capacidade máxima de uma pessoa a cada 7 metros quadrados, incluindo os funcionários, uso obrigatório de máscaras e criação de um sistema de fluxo contínuo, para que não ocorra contrafluxo ou fluxo cruzado entre os frequentadores. Os clientes também devem assinar termo de responsabilidade por meio do qual declarem ter conhecimento dos procedimentos e protocolos de prevenção contra a COVID-19. Cabe ao estabelecimento recolher o termo de responsabilidade assinado e garantir que o frequentador realize os procedimentos de sanitização. (NG)
Equilíbrio financeiro ainda complicado
Como numa espécie de montanha-russa de fechamento e reabertura da capital, de março de 2020, quando surgiram os primeiros diagnósticos da doença respiratória no país, até o começo deste ano, as academias foram afetadas em seu sistema vital de faturamento, os planos predefinidos de pagamento. Segundo Fabiana Almeida, proprietária da BH Fitness, boa parte dos clientes que pagavam o plano mensal do serviço deixaram de ser ativos, o que ainda prejudica o ganho da empresa, mesmo com a reabertura. Alternativas também foram adotadas pelas empresas como a oferta de aulas on-line e ajustes na organização das finanças, para conter as perdas.
“Como ficamos fechados quase nove meses, desde o ano passado, temos de repartir o bônus que as pessoas pagaram. Muitos clientes ativos não são pagantes na academia, o que gera uma receita ruim. Durante a pandemia eles estavam pagando com a academia fechada. Então, pagamos funcionários e aluguel e mais esse bônus. Hoje, trabalhamos com um valor um pouco maior”, diz Fabiana.
Deuseli Gomes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Entidades Culturais e Recreativas do Estado de Minas Gerais ( SINDEC-MG), reclama dos efeitos da paralisação das academias, enquanto outros segmentos que, na avaliação dele, têm maior potencial de promover aglomerações permaneceram abertos. “Por um tempo, as academias ficaram fechadas mas os bares e restaurantes ficaram abertos. Acredito que havia locais com mais concentração de pessoas que uma academia que permaneceram com a autorização. O prejuízo foi grande também para os funcionários, já que muitos não tiveram reajuste salarial, além de outros benefícios, já que os patrões não estavam tendo receita durante a pandemia”, afirma. (NG)