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Estado de Minas NEGÓCIO PRÓPRIO

Pequenos negócios mineiros criaram mais de 177 mil empregos neste ano

Saldo de vagas no segmento aumentou 428% em relação ao mesmo período do ano passado


05/10/2021 20:20 - atualizado 05/10/2021 20:28

Isabela e suas cestas de presentes
Isabela Gesteira, de 26 anos, começou a fazer cestas de presente, em maio de 2020 (foto: Arquivo pessoal)
Minas Gerais é o segundo estado do país em número de pequenos negócios e na geração de empregos pelo segmento. Segundo dados da Receita Federal, de julho de 2021, são mais de 1,8 milhão de empreendimentos, que respondem por 61% dos empregos formais no estado. 

 

Somente de janeiro a agosto deste ano, as micro e pequenas empresas (MPE) criaram cerca de 177 mil postos de trabalho, mais que o dobro gerado pelas médias e grandes empresas. Em relação ao mesmo período de 2020, o saldo de empregos nas MPE mineiras aumentou 428%.


De acordo com o Sebrae, seis em cada 10 pequenos negócios no estado são microempreendedores individuais (MEI). Dos mais de 213 mil estabelecimentos de micro e pequeno porte abertos em Minas neste ano, até 10 de agosto, quase 82% são MEI.

Apesar dos impactos econômicos causados pela pandemia, mais de 80% dos pequenos negócios de Minas Gerais sobreviveram à crise. Destes, 27% conseguiram manter ou aumentar o faturamento no período, de acordo com a 12ª Pesquisa o impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios. 

É o caso do Com Afeto Cestas, criado por Isabela Gesteira, de 26 anos, em maio de 2020.  

“Inicialmente, foi para ter uma renda extra e eu também tinha um emprego fixo. Só que as cestas começaram a ter muita demanda. Sai desse meu emprego e, hoje, eu trabalho só com as cestas mesmo. É a minha renda principal.”

Ela conta como surgiu a ideia de ter o próprio negócio.

“Eu comecei a pensar em um presente para o meu namorado, no Dia dos Namorados. Mas, não estava achando nada perto do que eu realmente queria. As poucas coisas que eu vi que eram boas, também eram muito caras. Então, decidi que eu mesma iria fazer.”

Isabela lembra que percebeu ali uma oportunidade de negócio, já que não encontrava o que estava procurando. 

“Era um espaço que eu poderia tomar conta. Comecei a divulgar, em maio, que eu faria as cestas para o Dia dos Namorados. Só que acabei tendo demanda, praticamente, todos os dias. Foi quando vi que não conseguia mais conciliar com o emprego. Escolhi ficar com as cestas.”

Outro que também decidiu iniciar o próprio negócio, mesmo durante a pandemia foi Emídio Quirino, de 22 anos. Ele e um sócio abriram uma loja de roupas em abril deste ano, em Martinho Campos, cidade localizada na Região Centro-Oeste do estado. 

Emídio conta que já tinha vontade de ter uma marca de roupas, mas queria que fosse em um momento que pudesse se dedicar, exclusivamente, a ele. 

“Coincidentemente, no meio da pandemia, com a crise e o desemprego, foi um momento em que eu tive esse tempo para poder me dedicar 100%. Já não estava mais no emprego, peguei um dinheiro que eu tinha guardado, com as ideias que eu tinha, juntei tudo com meu sócio e iniciamos esse projeto.” 

O planejamento começou em janeiro. “Essa parte de colocar no papel até ficar tudo pronto demora um pouco, tem toda a burocracia de iniciar a empresa, registrar. No nosso caso, que é uma marca de roupa, precisávamos também produzir as peças.”
 
Emídio, o sócio Gustavo e um cliente da loja de roupas que eles inauguraram em abril deste ano
Emídio, o sócio Gustavo e um cliente da loja de roupas que eles inauguraram em abril deste ano (foto: Arquivo Pessoal)
 

Preparação e desafios

Foram três meses de preparação até o lançamento da Vélitas Clothing. “Fizemos um curso sobre criação de marca, meu sócio já tinha curso de marketing e vendas.” 

Apesar disso, segundo Emídio, eles aprenderam passo a passo o que precisavam fazer para começar a loja. “Registro, contato com fornecedores, como criar audiência para a marca.” 

Nos cinco meses desde a inauguração, eles já lançaram duas coleções. “Na primeira, vendemos mais ou menos o que esperávamos. A aceitação foi muito grande, contamos com a ajuda de amigos. Fomos entendendo o que as pessoas gostavam e não gostavam.”

Em agosto, os sócios lançaram a segunda coleção. De acordo com o pequeno empresário, o resultado foi ainda melhor. Eles já tem planos de expandir a venda para lojas multimarcas de outras cidades da região e abrir franquias da marca. Por enquanto, as vendas são feitas na loja física, pelo site e Instagram. 

“No início é muito difícil porque você não sabe o que esperar. Quanto vai vender, como vai vender, como vai ser a aceitação. Existem muitas dúvidas e tem coisas que você só vai aprendendo na prática.”

“Aqui no Brasil, empreender também é muito difícil. Até você abrir a empresa, tem hora que dá vontade de desistir, é tanto documento, taxa, imposto. Mas, graças a Deus estávamos bem estruturados, tem alguns pequenos imprevistos, só que nada grave”, completa. 

Isabela também passou por algumas dificuldades com o negócio das cestas de presentes.  

“Primeiro foi o financeiro porque eu não tinha dinheiro para investir. Fui reinvestindo conforme fui vendendo. Fornecedores também foi muito difícil porque era um ramo que eu não tinha muito domínio. Eu tive que pesquisar muito.” 

Outra dificuldade, segundo ela, foi a parte administrativa. “Precisei pesquisar muito para ver uma forma de me regularizar, já que algumas pessoas pediam nota. Eu não tinha noção nenhuma disso, então pra mim foi bem difícil.”

Isabela fez três cursos voltados para seus negócios. “Mas o Instagram hoje também tem muita coisa, comecei a seguir várias páginas com dicas. Só não tinha achado muita coisa voltada para o ramo de cestas porque era uma coisa muito nova. Hoje em dia já tem vários cursos.”

Ela acredita que os conhecimentos adquiridos nesses cursos a ajudaram em seu negócio.  

“Principalmente, para profissionalizar o meu Instagram, já que eu não tinha noção de nada. Fui vendo algumas ferramentas para deixar posts programados, coisas básicas, mas que eu não tinha noção. Foi a minha virada de chave.”

Hoje, as vendas das cestas são feitas pelo Whatsapp, Instagram e pelo site. 

Problemas causados pela pandemia

A maquiadora Ana Paula Nunes, de 45 anos, foi uma das pequenas empreendedoras que conseguiu resistir à crise imposta pela pandemia do coronavírus. Porém, teve que fechar o seu ateliê. 

Ela conta que atendia as clientes em domicílio. Em 2019, decidiu abrir o ateliê. “Resolvi tentar, foi uma experiência. Quando eu abri, ele estava indo bem.” 

Além das maquiagens para casamentos e formaturas, o local era usado para Ana Paula dar cursos de maquiagem e de auto maquiagem. Mas, com a pandemia, ela passou a enfrentar problemas. 

“O maior problema foi a questão financeira, pagar o aluguel. Eu tinha outros compromissos e acabava contando com esse dinheiro. Antes, quase todo fim de semana eu tinha cliente. Tinha que pagar o aluguel do ateliê e acabava não compensando”, já que ela voltou a atender as pessoas em domicílio e, algumas vezes, até na própria casa. 

Segundo Ana Paula, em 2020, os atendimentos continuaram, mas de forma mais restrita.  

“Todas as clientes que eu tinha desmarcaram para esse ano. São coisas assim que não dá pra prever. Eu atendi algumas grávidas. Em 2021, eu pensei que ia melhorar. Fiz uma pesquisa (com outros profissionais da área) e vi aquele tanto de gente fechando. Vi que não estava sozinha naquela situação. Aí eu fiquei desanimada.”

A maquiadora preferiu fechar o ateliê e voltar a atender na casa das clientes.   

“Hoje as pessoas estão preferindo que o profissional vá em domicílio. Aos poucos as clientes estão voltando. Já tem clientes para outubro, final do ano. Agora, eventos como formaturas, que antes eram quase todo final de semana, caíram de uma forma.”
 
A maquiadora Ana Paula Nunes resistiu a pandemia, mas teve que fechar seu ateliê
A maquiadora Ana Paula Nunes resistiu a pandemia, mas teve que fechar seu ateliê (foto: Arquivo pessoal )
 

Taxa de empreendedorismo

A pandemia da COVID-19 despertou nos brasileiros o desejo de ter um negócio próprio nos próximos três meses. 

De acordo com o relatório da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2020, realizado no Brasil pela parceria entre Sebrae e o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ), a taxa de empreendedorismo potencial, composta por cidadãos que não têm um negócio, mas pretendem abrir uma empresa em até três anos, teve um aumento de 75%, passando de 30%, em 2019, para 53%, em 2020.

“A pesquisa fez uma estimativa de que 50 milhões de brasileiros que ainda não empreendem querem abrir um negócio. Desse total, 1/3 teria sido motivado pela pandemia”, pontua o presidente do Sebrae, Carlos Melles. 

Segundo ele, a falta de emprego causada pela pandemia do coronavírus pode ter motivado os brasileiros a considerarem mais seriamente a ideia de ter um negócio próprio em um determinado espaço de tempo.

Ainda de acordo com o relatório, a formalização entre os empreendedores brasileiros teve um crescimento de 69%, entre 2019 e 2020. 

O total de empreendedores com CNPJ entrevistados pela pesquisa, passou de 26% para 44%, o maior alta dos últimos quatro anos. Em 2017, 15% dos empreendedores eram formalizados e, em 2018, 23%.

Dicas para empreender

Segundo Viviane Soares, analista do Sebrae Minas, muitas pessoas começaram a empreender na pandemia. 

“Vimos muita gente perdendo o emprego e, sem recolocação, precisam montar um negócio. Normalmente, elas vão para um caminho, teoricamente, mais fácil. O que elas já faziam de alguma forma e começam a fazer por conta própria também ou outra coisa que acreditam que traga dinheiro, como beleza, roupa, comida.” 

No entanto, para ela, as pessoas não se preocupam em saber se existe público para consumir o produto ou serviço que elas querem iniciar. 

“Uma das primeiras dicas que eu dou, para a pessoa que quer montar um negócio, é olhar para o mercado que ela quer atender. O que ela está percebendo que as pessoas estão precisando ou o que as empresas que já estão no mercado não estão fazendo bem?”, questiona.  

Ao fazer essa análise, a pessoa pode encontrar uma oportunidade para começar seu negócio. Outra dica da analista é fazer uma visita em lugares parecidos com o que ela quer montar. “Ver como eles estão trabalhando, como eles funcionam e como ela poderia fazer diferente. Para que as pessoas passem a consumir dela e não dos concorrentes.” 

O olhar tem que estar voltado para as necessidades do mercado. “Às vezes, a pessoa tem uma ideia na cabeça, mas o mercado não quer aquilo. Ela tem que entrar oferecendo uma coisa diferente.” 

Para a analista, é importante também fazer um planejamento. “A pessoa precisa sentar e escrever que negócio é esse, fazer um modelo de negócios. Esse modelo dá as respostas e mostra as imperfeições que podem estar acontecendo no planejamento.”

Viviane ressalta ainda que a pessoa também precisa ter o mínimo de conhecimento gerencial para poder administrar o negócio. 

“Principalmente, na área financeira. A pessoa tem que controlar as contas, os gastos, ter os controles, fazer a análise desses controles. Esse preparo gerencial é fundamental para o negócio dar certo.”

Por último, a dica é pensar em algo que tenha a ver com a pessoa. “Às vezes, a pessoa quer montar um negócio, mas não tem habilidade. “Não pode se forçar a ir contra a sua natureza, fazer algo que não gosto porque vai acabar não fazendo direito e vai ter muito mais dificuldades.”
 
*Estagiária sob supervisão do subeditor Eduardo Oliveira 


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