Na pandemia de COVID-19, um índice se tornou preocupante: a fome. Nesse período, mais de 19 milhões de brasileiros passaram a viver em condições de insegurança alimentar grave, ou seja, não têm alimento para colocar no prato, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da COVID-19 no Brasil. O Estado de Minas flagrou nesta segunda-feira (22/11), pessoas esperando restos de verduras em um sacolão de Belo Horizonte.
Segundo o gerente do estabelecimento, Pablo Jean, de 50 anos, são mercadorias que não são boas para venda, mas que também não estão ruins e precisam dar espaço para as novas. “A gente precisa combinar com eles, porque são muitas pessoas que vêm e, às vezes, fica até em falta para distribuir”, explica.
Iraci Santos Pereira, de 56, mora com quatro pessoas em casa, no bairro Vila Pinho Vale do Jatobá, também na Região do Barreiro, e chega cedo para conseguir pegar os alimentos e levar para a família. “As coisas estão difíceis. Na minha casa, somos quatro pessoas desempregadas. As verduras que a gente leva daqui ajudam muito”, conta.
Ela detalhou que a situação piorou durante a pandemia de COVID-19, quando os filhos perderam o emprego. “Eu recebo um benefício do meu esposo que faleceu e isso está mantendo a casa”, disse.
A dificuldade é ainda maior na casa de Elizabeth Teixeira, de 50 anos, que mora com 14 netos. “Eu pego essas verduras para cuidar dos meus netos e ajudam demais. Com essa pandemia, o preço dos alimentos subiu demais e está difícil a gente manter a casa”, lamentou.
O peso sentido no bolso que ela reclama tem razão de ser. Em Belo Horizonte, a cesta básica teve uma alta de 2,69% em outubro, chegando a R$ 604,22, equivalente a quase 55% do salário mínimo atual.
O peso sentido no bolso que ela reclama tem razão de ser. Em Belo Horizonte, a cesta básica teve uma alta de 2,69% em outubro, chegando a R$ 604,22, equivalente a quase 55% do salário mínimo atual.
Insegurança alimentar
Esta realidade de se alimentar é o que vive 19 milhões de brasileiros com insegurança alimentar grave, outros 24 milhões em moderada e mais 74 milhões leve. Índice triste para o país, que estava desde 2014 fora do mapa da fome da Organização das Nações Unidas (ONU).
“O país está hoje com um número muito de alto pessoas em extrema pobreza, que ganham menos de US$ 1,90 por dia. São 9,3 milhões, segundo dados de 2018. A estimativa agora é que, por conta dos efeitos econômicos, mais 5,4 milhões deverão entrar na extrema pobreza, segundo o Banco Mundial. O Brasil saiu do Mapa da Fome em 2014. Agora, está caminhando a passos largos para voltar”, afirmou o economista Daniel Balaban, chefe do escritório brasileiro do Programa Mundial de Alimentos (WFP, na sigla em inglês), a maior agência humanitária da ONU.
No Brasil, a estimativa é de que cerca de 5,4 milhões de pessoas - a população da Noruega - passem para a extrema pobreza em razão da pandemia. O total chegaria a quase 14,7 milhões até o fim de 2020, ou 7% da população, segundo estudos do Banco Mundial.