A aceleração dos preços dos combustíveis tem tornado tirar o carro da garagem uma tarefa difícil para os brasileiros. Em Belo Horizonte, motoristas estão tendo que desembolsar 57% a mais para encher o tanque de um veículo com gasolina em relação a 2020. Dependendo do modelo do automóvel, um abastecimento completo pode consumir até 37% do salário mínimo.
Para efeito de comparação, o Estado de Minas fez um levantamento considerando os 10 modelos de carros mais emplacados em 2020, de acordo com o Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam), e calculou quanto os motoristas pagavam para encher o tanque no ano passado e neste ano. O parâmetro usado foi o valor médio da gasolina em Belo Horizonte pesquisado pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) de novembro, tanto de 2021, a R$ 6,85 quanto de 2020, quando o combustível era negociado a R$ 4,36 o litro.
Proprietários do Ônix, fabricado pela Chevrolet, por exemplo, gastavam cerca de R$ 191,84 em novembro do ano passado para completar os 44 litros do tanque do veículo com gasolina. Neste ano, para ver o ponteiro no máximo, os motoristas passaram a pagar cerca de R$ 301,40. A quantia equivale a 27,4% do salário mínimo, que é de R$ 1.100. O mesmo vale para donos do Ônix Plus, uma versão superior do modelo.
Já quem tem na garagem um HB20, da Hyundai gasta ainda mais para encher o tanque, com 50 litros de capacidade. Para completar o reservatório com gasolina, os motoristas precisam arcar com um custo aproximado de R$ 342,50, o que representa 31,1% do salário mínimo. Em novembro de 2020, por exemplo, os proprietários do modelo pagavam cerca de R$ 218.
O peso no bolso é ainda maior para quem tem um Fiat Strada na garagem. Isso porque os proprietários gastam cerca de R$ 397,30 com os 58 litros que cabem no reservatório de combustível com gasolina. O valor corresponde a 36,1% do salário mínimo em vigor. No ano passado, os donos desse modelo de picape desembolsavam, aproximadamente, R$ 252,88 para ter o tanque cheio.
Outro carro popular bastante emplacado em 2020 foi o Gol, da Volkswagen. Naquele ano, os proprietários pagavam cerca de R$ 239,80 para abastecer completamente o tanque com gasolina. Já no corrente mês, é preciso arcar com um valor que gira em torno de R$ 376,75 para ter a capacidade de 55 litros preenchidas. A quantia equivale a 34,25% do salário mínimo.
Com os 52 que cabem no tanque de um Ford Ka, é preciso gastar cerca de R$ 356,20 para abastecer completamente. O valor representa 32,3% do salário mínimo. No ano passado, em novembro, os motoristas pagavam em torno de R$ 226,72 pelo mesmo volume de gasolina.
Para modelos considerados intermediários, como o Jeep Renegade e o Fiat Toro, os motoristas precisam abrir mão de 37,3% do salário mínimo quando pedem ao frentista para completar, uma vez que gastam R$ 411 com os 60 litros que cabem no reservatório de gasolina. Em novembro do ano passado, o valor girava em torno de R$ 261,60.
Quanto custa a sede dos carrões
De acordo com a Revista Forbes, o Porsche 718 Cayman GTS, ano 2019, foi o carro de luxo mais vendido no Brasil no ano passado. Seu tanque comporta 64 litros de combustível. Então, para encher o reservatório completamente com gasolina, o dono desembolsa R$ 438,40. Há um ano, eram necessários R$ 279,04. Mesmos valores que os proprietários do Porsche 911 Carrera Coupe, de 2017, precisam desembolsar. Já quem tem o Porsche Cayenne Turbo, modelo 2020, gasta mais com os 90 litros que o reservatório comporta com gasolina: R$ 616,50. No ano passado, os proprietários gastavam cerca de R$ 392,40.
Outros dois veículos fabricados pela BMW completam a lista: o X1 XDrive, modelo 2021, por exemplo, comporta até 61 litros de combustível. Ou seja, para abastecê-lo completamente com gasolina, é preciso gastar R$ 417,85, valor este que estava em R$ 265,96 em 2020. O 320 GP, também 2021, tem 59 litros de tanque. Com isso, o motorista precisa desembolsar R$ 404,15 de gasolina para encher o reservatório. Em novembro de 2020, eram necessários R$ 257,24.
Aceleração de preços espanta motoristas
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 10,67% nos últimos 12 meses, sendo que os combustíveis foram os principais responsáveis pelo impacto no índice. A gasolina, por exemplo, já acumula alta de 73% somente em 2021.
Postos de combustíveis de Belo Horizonte refletem – e muito – os efeitos da escalada de aumentos. A equipe do EM percorreu alguns estabelecimentos nesta semana e constatou vários deles comercializando gasolina acima da marca de R$ 7. Preço que tem tornado a vida do motorista de aplicativo Diego Dener cada vez mais difícil. O profissional, de 32 anos, explicou que precisa fazer um “filtro” nos valores das corridas antes de aceitá-las, prestando atenção na distância, para evitar prejuízo.
“Dependendo da semana e do fluxo do aplicativo, normalmente 40% dos ganhos são gastos com o combustível”, relatou Diego, que tem tido surpresas desagradáveis ao chegar aos postos. “Eu, particularmente, não me recordo a última vez que enchi o tanque do carro. Esses aumentos semanais assustam, porque não exite uma previsibilidade. Cada semana que você chega ao posto, ou a cada dia, o preço está diferente. E sempre para mais.”
Encher o tanque do carro também virou uma tarefa impossível para o motorista profissional Bernardo Faria, de 36 anos. Por mais de cinco anos, ele optou por abastecer com etanol. No entanto, como o preço do combustível também disparou e o rendimento é menor se comparado com a gasolina, ele voltou a optar pelo derivado de petróleo.
“No preço que a gasolina está, eu abasteço R$ 100 e dá 14 litros. É inviável encher o tanque. Tem que esperar outras formas de entrar dinheiro para continuar abastecendo. Para encher o tanque do meu carro, eu gastaria, aproximadamente, R$ 300. É impossível hoje”, lamentou.